“Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado” Hebreus 12.12-13

Introdução

Esses versículos retomam a metáfora da corrida. A primeira coisa que acontece a um corredor quando ele se cansa é que seus braços caem. A posição e o movimento do braço são muito importantes ao correr para manter o ritmo corporal e a coordenação adequados. Seus braços ajudam a dar força ao seu passo e são as primeiras partes do corpo a mostrar fadiga. Em seguida, os joelhos cambaleiam. Primeiro os braços começam a cair, depois os joelhos começam a balançar. Porém, se o atleta se concentrar evitando os sinais da fadiga, ele alcança a linha de chegada.

Retroceder nunca, render-se jamais

A ideia dessa metáfora utilizada pelo autor aos Hebreus é que a única maneira de completar a maratona da fé é continuar se concentrando em seu objetivo principal. Quando experimentamos espiritualmente mãos descaídas e os joelhos trôpegos, nossa esperança é prosseguir olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus (Hb 12.2).

O escritor aos Hebreus tirou sua metáfora de Isaías. Os fiéis em Israel haviam passado por muita coisa. Eles tiveram alguns reis iníquos, alguns falsos profetas, companheiros israelitas que geralmente eram desobedientes e teimosos, inimigos poderosos que os ameaçavam e, aparentemente, nenhuma chance de viver em paz em sua própria terra. Eles estavam desanimados e abatidos, prontos para se render.

Assim, o profeta Isaías anunciou uma palavra animadora, fazendo-os lembrar do reino vindouro:

“O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso. Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará” e “… eles verão a glória do SENHOR, o esplendor do nosso Deus” (Isaías 35.1-2).

Em seguida, ele os aconselhou a se aconselharem:

“Fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes. Dizei aos desalentados de coração: Sede fortes, não temais. Eis o vosso Deus. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem e vos salvará” (Isaías 35.3-4).

Em outras palavras, o profeta Isaías lhes falou: “Não desistam agora. Dias melhores ainda estão por vir. Coloquem seu olhar na esperança vindoura e vocês acharão o incentivo e a força de que precisam. Corram! A vitória está à frente!”.

A ênfase de Hebreus 12.12, portanto, é a mesma de Isaías 35.3-4. Não nos é dito para fortalecer apenas nossas mãos ou joelhos fracos e paralisados, mas também as dos nossos irmãos, não importa quem sejam. Em outras palavras, não devemos nos concentrar em nossas próprias fraquezas, mas em ajudar a fortalecer outros cristãos em meio as suas dificuldades. Uma das formas mais seguras de nos encorajar é oferecendo ânimo ao nosso irmão, por meio de admoestações “e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.25). Uma das melhores maneiras de continuar é encorajar outras pessoas a fazer o mesmo.


Não saia da Linha

A frase e fazei caminhos retos para os pés faz referência a necessidade que todo o cristão tem de permanecer na linha de corrida. Quando saímos da linha, não somos apenas desqualificados, mas também interferimos na carreira dos outros corredores. Um corredor nunca sai da linha intencionalmente. Isso só acontece quando ele fica distraído ou descuidado, quando perde o foco no objetivo principal da prova ou quando o cansaço tira o seu desejo de vencer.

O sábio Rei Salomão nos ensina em Provérbios 4.25-27:

“Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal”

Quando começamos a corrida da fé, nada deve nos distrair ou causar uma mudança de curso. Se o fizermos, não apenas tropeçaremos, mas faremos outros tropeçar. A palavra – “caminhos” (τροχια trochia) – é uma referência aos rastros deixados pelas rodas das carruagens que os viajantes posteriormente seguiam. A ideia aqui é esta: Quando corremos, deixamos para atrás um rastro que guiará ou desviará aqueles que virão depois. Devemos ter muito cuidado para deixar pegadas certas. A única maneira de fazermos isso é vivendo retamente, ou seja, correndo a maratona da fé com retidão.

Não fique em cima do muro

“para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado” (12.13b)

A palavra “manco” ou “coxo”(χωλος cholos, “mancar, duvidar”)pode ser usada como um referência para cristãos fracos que tropeçam ou se perdem facilmente. É verdade que nossos irmãos mais fracos serão os primeiros a se ferirem por causa nosso pobre exemplo (cf. Rm 14).

Contudo, a principal referência aqui é aos cristãos professos, que se identificaram com a igreja, mas não estão salvos. Eles deram um passo em direção a Cristo, mas não percorreram todo o caminho. Eles parecem estar na corrida da fé, mas não estão. Eles correm o risco de cair e são particularmente vulneráveis a tropeços. Eles são os primeiros candidatos que Satanás engana levando-os a tropeçar.

O cristão “manco” é o tipo de pessoa que está na corda bamba, que se senta na borda do muro. Ele se assemelha a aqueles israelitas desafiados pelo profeta Elias no Monte Carmelo. O profeta estava do lado do Senhor e os profetas de Baal estavam contra ele. Certamente, alguns israelitas estavam firmemente com Baal e alguns com Elias. Mas a maioria estava indecisa, mesmo sendo conhecendo a verdade. Eles preferiram não tomar partido e se pudessem evitar fazê-lo continuariam assim. Na verdade, eles tentaram jogar dos dois lados. Durante a semana, eles saíram com as sacerdotisas imorais de Baal e no sábado foram adorar no templo. Então Elias os confrontou:

“Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu” (1 Rs 18.21)

A única resposta foi o silêncio, mas o desafio foi levantado. A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) usa a mesma palavra (χωλος cholos, “mancar, duvidar”) em 1 Reis 18.21, que o escritor aos Hebreus usou em 12.13. Elias confrontou os vacilantes e coxos israelitas para persuadi-los a tomar uma posição. O escritor aos Hebreus advertiu os crentes sobre o perigo de enganar os intransigentes incrédulos e coxos, e de fazê-los apostatar para que voltassem ao judaísmo. Esses judeus que se chamavam cristãos, mas eram descrentes, estavam começando a duvidar e enfraquecer em seu compromisso sob a pressão da perseguição. Cristãos inconsistentes que deixaram caminhos tortuosos não os ajudaram nesse desafio.

Conclusão

Infelizmente, por vezes os cristãos são o maior obstáculo para o cristianismo. Um mau exemplo de um verdadeiro crente pode afastar alguém do compromisso total com Cristo e, portanto, da salvação. Um testemunho pobre pode causar danos irreparáveis, muitas vezes sem saber. Isso pode fazer com que um incrédulo mancando – saia do caminho – deixando-o completa e espiritualmente deslocado.

Direta e indiretamente, nosso testemunho deve glorificar a Deus e, portanto, ser a melhor influência possível para todos ao nosso redor. O apóstolo Pedro nos oferece uma ilustração prática desse ensino quando fala sobre o testemunho de uma esposa cristã na presença de seu marido descrente: “Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor”(1 Pe 3.1-3).

O Senhor Deus deseja que os incrédulos sejam curados e salvos. Sua vontade é que ninguém pereça (2 Pedro 3.9). Esta é realmente uma exortação séria: certifique-se de que sua vida não faça ninguém rejeitar o evangelho. Ouça atentamente a exortação do nosso Senhor Jesus quando nos avisa:

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mateus 5.13-16)

Em Cristo, Autor e Consumador da fé,

Pr. Alan Kleber