Salmo 8
O Oitavo Salmo é outro salmo de Davi. A importância deste Salmo é gloriosa, e o termo גִּתִּית (Gityt = “um lagar”) provavelmente se refere de alguma forma ao aspecto alegre e à natureza do Salmo. Gityt é usado em três títulos de Salmos – 8, 81, 84; um título de música usado para a Festa dos Tabernáculos.
Ao mestre de canto, segundo a melodia “Os lagares”.
Salmo de Davi
1Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade.
2Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador.
3Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste,
4que é o homem, que dele te lembres E o filho do homem, que o visites?
5Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.
6Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste:
7ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo;
8as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares.
9Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
Versos 1 e 9. Vemos primeiro como a criação dá glória a Deus. Os detalhes deste Salmo estão trancados entre dois exemplos de grande exultação – Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! O nome de Deus é excelente em toda a terra e Sua glória está acima dos céus.
Verso 2. Deveríamos então notar a vitória vinda da boca dos pequeninos. Aqueles que odeiam a Deus e resistem à Sua vontade são derrotados por Ele. Deus os derrota com palavras de bebês. Quem cala o ateu? A resposta deste Salmo é o bebê tagarela no fundo do santuário. É ele quem silencia o inimigo e o vingador.
Versos 3 e 4. É claro que isso está relacionado à humildade. Quando um homem com o coração reto considera a obra dos dedos de Deus nos céus, ele fica humilhado e frágil. Parte disso se deve ao fato de Deus continuar Sua bondade em nosso nível minúsculo.
Verso 5. Mas, apesar da consciência de um homem humilde de que ele é apenas um pedaço de barro, Deus, no entanto, o colocou logo abaixo na classificação dos anjos, e o coroou com glória e honra. O Senhor Jesus veio e ocupou este lugar que era um pouco inferior aos anjos e, ao fazê-lo, Ele exaltou aquele lugar para sempre.
Versos 6-8. Vemos, portanto, o verdadeiro domínio: o homem é o administrador da terra, e Deus o tornou vice-regente sobre todos os animais, pássaros e peixes.
Aplicações práticas
Devemos observar cuidadosamente os pontos de ancoragem deste salmo. O Salmo 8 é frequentemente citado no Novo Testamento, assim como o foi o Salmo 2, e devemos usar essas citações como pontos de ancoragem em nossa interpretação dele. Se não o fizermos, perderemos totalmente o objetivo do Salmo.
Uma das grandes fraquezas na grande maioria dos comentários bíblicos é como raramente os cristãos tomam pelo valor nominal as palavras autorizadas do Novo Testamento sobre o significado de uma passagem do Antigo Testamento.
Já comentamos sobre uma dessas palavras — “da boca dos pequeninos”. Nosso Senhor Jesus cita o segundo versículo deste Salmo quando certos teólogos presunçosos ficaram angustiados com o comportamento das crianças na entrada triunfal de Cristo em Jerusalém:
Mas, vendo os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que Jesus fazia e os meninos clamando: Hosana ao Filho de Davi!, indignaram-se e perguntaram-lhe: Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor”? (Mateus 21:15-16).
Há também uma possível alusão a este salmo em Mateus. 11:25:
Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
Deus escondeu estas coisas dos sábios e instruídos e as revelou aos pequeninos. E até hoje, os teólogos continuam a afastar os bebês do Senhor Jesus.
Temos também as palavras “e sob seus pés tudo lhe puseste”, ou, “Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés”. Sob os pés de quem? Na Carta aos Hebreus, o apóstolo Paulo aplica o Salmo 8 à humanidade em Cristo:
Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando; antes, alguém, em certo lugar, deu pleno testemunho, dizendo: Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste [e o constituíste sobre as obras das tuas mãos]. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas; vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. (Hebreus 2:5-9).
Vemos a mesma coisa na 1a Carta aos Coríntios. Nela, o apóstolo Paulo aplica o Salmo 8 a Cristo:
Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos (1Coríntios 15:25-28).
O apóstolo enfatiza esse tema também em Efésios. Em Cristo, a humanidade entra em seu domínio:
o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Efésios 1:20-23).
Conclusão
A humanidade está em processo de crescimento até a maturidade em Cristo. Mas, nos últimos tempos, a nossa dificuldade em compreender a identidade da aliança realmente nos paralisou. Jesus Cristo não é o homem perfeito isolado. Jesus Cristo é a nova humanidade, Ele é o novo Adão, Ele é a nova raça humana. E todos os que estão Nele estão incluídos neste novo e glorioso domínio.
A ruína criada pelo primeiro Adão está sendo reparada na pessoa e na obra do segundo Adão. Somos convidados a ver a restauração de toda a terra em Cristo — e se dependemos mais das notícias da internet e dos telejornais do que da Palavra de Deus, o autor da Carta aos Hebreus tanto nos encoraja como nos admoesta.
Ainda não vemos tudo sujeito à humanidade em Cristo, mas vemos Jesus Cristo, e na medida em que O vemos pela fé, de acordo com o que o Novo Testamento ensina sobre isso, o mundo será subjugado pela pregação do Evangelho.
Tudo foi colocado sob os pés de Jesus Cristo. Mas nós somos o Seu corpo; nós somos Seus pés.
Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
Rev. Alan Kleber