Salmo 15
Quem pode ser considerado amigo de Deus? A questão é uma das mais importantes que podem ser colocadas nesta vida. A resposta requer desenvolvimento, mas um resumo preciso exige que nos lembremos de que um homem só é amigo de Deus quando é amigo do caráter e dos atributos de Deus. Quem mora no monte sagrado não mora numa cabana imunda.
Salmo de Davi
Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade; o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata; o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.
Este salmo pode ser dividido em três seções.
Verso 1. A primeira é uma pergunta simples; quem pode ter comunhão com Deus? Esta é a questão colocada pelo primeiro versículo.
Verso 2-5a. A resposta é a segunda parte do salmo e se estende do v. 2 até a primeira metade do versículo 5. Segue-se uma descrição de uma vida reta, declarada geralmente primeiro (v. 2), mas a descrição então passa para os detalhes. (vv. 3-5a).
Verso 5b. O salmo termina com uma promessa: o homem que faz o que é certo desta forma nunca será abalado.
E assim o breve salmo se divide naturalmente: pergunta, resposta, promessa.
I – Pergunta
Então, vamos começar com a pergunta. O salmo 15 é um salmo de entrada e é construído como uma simples questão de catecismo. Enquanto o povo de Deus se reunia para fazer uma peregrinação ao tabernáculo, para acampar no monte santo, a pergunta é apresentada ao Senhor: quem pode vir diante de Ti? Os verbos no primeiro versículo implicam acampar, ou peregrinar, mas a promessa no último versículo mostra a intenção final. A questão não é habitar com Deus temporariamente ou intermitentemente: “Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?”
Em outras palavras, neste mundo caído, o que caracteriza a verdadeira religião?
II – Resposta
Existe uma resposta geral. O segundo versículo aponta para o homem que “O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade”. A palavra “integridade” aqui não se refere à perfeição sem pecado, mas sim à retidão, ao equilíbrio, à consistência.
O homem justo também é aquele que pratica a justiça. Mas, precisamos ter cuidado ao entender isso. No Antigo Testamento, a justiça não deve ser entendida como algo estático, mas sim como o cumprimento de uma exigência do relacionamento pactual. Quando um homem pratica a justiça, ele não está marcando as coisas em uma lista espiritual, mas sim sendo leal a alguém. Ele pratica a justiça, não porque seja justo, mas porque é leal. A justiça não tem níveis que você possa verificar com uma vareta. Tal homem fala a verdade em seu coração. Ele é totalmente honesto.
Então chegamos a alguns detalhes. Quando falamos sobre descrições gerais de lealdade, honestidade e retidão, é relativamente fácil para qualquer um afirmar que se enquadram na descrição. Mas, se pudermos reaplicar um ditado comum, o diabo está nos detalhes.
1. Primeiro, os retos não caluniam – O homem justo não é como o homem infiel à aliança, o desleal. Tal homem morde mais com a língua do que com os dentes. Mas o justo “não difama com sua língua” (v. 3).
2. Segundo lugar, os justos mantêm a paz na vizinhança. Os piedosos sabem como viver em paz com os seus vizinhos; “não faz mal ao próximo” (v. 3). Imprensado entre dois pecados da língua, isso também se refere ao pecado verbal. Em outras palavras, a referência principal não é atear fogo ao telhado da garagem do vizinho, mas sim atear fogo à reputação dele.
“Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro” (Provérbios 22:1).
Um bom nome é um tesouro, mais valioso do que grandes riquezas, e tirar isso dele é, portanto, o maior dos roubos.
3. Terceiro, os retos não ouvem o mal – Embora seja doloroso caluniar, é igualmente ruim ouvi-lo. O justo não “… lança injúria contra o seu vizinho” (v. 3). Não ter começado a calúnia não é defesa alguma. O apóstolo Paulo nos ensina que deixar de reprovar o pecado na sua presença é o mesmo que ter comunhão com ele:
“E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Efésios 5:11).
“O vento norte traz chuva, e a língua fingida, o rosto irado” (Provérbios 25:23).
O vento norte afasta a chuva. Deixe o seu semblante irado afastar a língua caluniadora.
4. Quarto, os justos desprezam a cobra – Uma pessoa vil é condenada pelos justos (v. 4). Nossa aversão moderna por versículos como esse mostra que nossa grande preocupação é com a polidez e não com a retidão. A polidez universal é filha do relativismo; a justiça sabe quem são os bandidos. . . e os despreza. O versículo 4 contradiz o versículo 3? Somente se os homens vis forem invisíveis.
5. Quinto, os retos honram os piedosos – os tementes a Deus também não são invisíveis. O homem reto honra aqueles que temem ao Senhor (v. 4). Deus honra aqueles que O honram (1 Sam. 2:30), e Deus abençoa aqueles que procuram e honram aqueles que são honrados por Ele.
6. Sexto, os justos cumprem a sua palavra – O homem justo mostra mais consideração pelas suas promessas do que pelos seus próprios interesses (v. 4). Se ele fez um acordo que lhe prejudicaria cumprir, ele o cumpre de qualquer maneira.
7. Sétimo, os justos amam os pobres – Existe muita confusão sobre a proibição bíblica da usura (v. 5). O que é? A raiz da palavra transmite a ideia de “morder” – e tal usura é consequentemente proibida em Israel. A lei proíbe a cobrança de juros sobre empréstimos de apoio aos pobres. Isto é expressamente mencionado em Êxodo 22:25 e Levítico 25:35-37. Vemos a mesma coisa em Neemias 5:1-7, e a pobreza está à vista em Provérbios 28:8. Ezequiel também tem em vista a pobreza (Ez. 18:12-13). Em resumo, as Escrituras não proíbem empréstimos comerciais ou investimentos. Ela proíbe a cobrança de juros sobre o dinheiro que você emprestou a um irmão para que ele pudesse comprar mantimentos. Aplique nesse a regra de ouro.
8. Oitavo, os retos não têm preço – Como juiz, ou presbítero, como alguém em posição de tomar decisões relativas à vida dos outros, o homem justo deve ser incorruptível, alguém que odeia subornos (v. 5).
III – Promessa
Aqui está a conclusão. A promessa contida no último versículo é uma conclusão adequada à nossa consideração do salmo. “Quem deste modo procede não será jamais abalado” (v. 5). Pense por um momento. As Montanhas Rochosas, os Alpes e o Himalaia derreterão como cera no fogo, mas os que estão na posição vertical nunca serão movidos. Eles permanecerão firmes por causa de sua própria justiça inerente? Eles sabem melhor. Eles permanecerão firmes porque estão em aliança com Aquele que cumpre a aliança perfeitamente e que nos dá fé para que possamos nos apegar a Ele, para sempre.
Amém!
Rev. Alan Kleber