Partick Free Church of Scotland (continuing) fazendo evangelismo em Glasgow, Escócia.
Introdução
Precisamos começar com a forte afirmação de que o título desta pastoral – Evangelismo Reformado – não é um paradoxo. Compartilhar nossa fé com os outros não é opcional. Mas, ao mesmo tempo, a maneira como entendemos a fé tem um impacto em como fazemos o evangelismo.
Texto bíblico
8 Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes,
9 não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança.
10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente;
11 aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.
12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males.
13 Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?
14 Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados;
15 antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós.
1 Pedro 3.8-15
Entendendo o texto
O apóstolo Pedro começa exortando todos os crentes a terem a mesma mentalidade, cheios de amor, compaixão e cortesia (v. 8). Em vez de retribuir mal com mal, e sarcasmo com sarcasmo, devemos ser o tipo de pessoa que retribui uma bênção pelo mal-feito a nós, para que possamos herdar a bênção (v. 9). Se você ama a vida, assim como todos os cristãos, então fale o que é bom e odeie a mentira (v. 10). Afaste-se do mal e persiga o que é bom (v. 11). Isso porque Deus observa os justos e responde às suas orações, mas Ele se volta contra os que praticam o mal (v. 12). Quem vai te machucar se você seguir o bem (v. 13)? Porém, se você sofre por ser justo, isso também não é ruim. Não deixe isso alarmar você (v. 14). Antes, santifique o Senhor em seu coração, e esteja sempre pronto para dar uma resposta àqueles que perguntam a razão da sua esperança (v. 15). E tenha certeza, os cristãos que vivem dessa maneira sempre serão questionados sobre isso.
Arapuca reformada
Há um mal-entendido muito superficial sobre a doutrina da soberania de Deus que levou alguns a minimizar a importância do evangelismo. Este é o erro de pensar que se alguém é eleito, eu não tenho que testemunhar para ele, e se ele não for eleito, de nada adiantará testemunhar para ele. Esta é uma tentativa de extrair nossos deveres dos decretos secretos de Deus, e não dos mandamentos expressos, o que é uma verdadeira loucura.
Se Deus ordenou que você receba o pagamento por seu trabalho no final do mês, nada o impedirá e, se Ele não tiver ordenado, nada poderá fazer isso acontecer. Porém, se você ficar em casa sem trabalhar com base nesse raciocínio, não será necessário ser um gênio teológico para descobrir qual resultado foi provavelmente o predeterminado.
A mesma lógica se aplica ao evangelismo. Quando Deus ordena o fim, Ele também ordena os meios:
13 Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
14 Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
Romanos 10.13-15
O principal problema não é o fato de que os evangélicos adotaram o calvinismo e, consequentemente, perderam seu zelo pelo evangelismo, mas sim que os calvinistas pós-milenistas abandonaram seu pós-milenismo e, consequentemente, perderam sua convicção de que o evangelho iria ao mundo, vencendo e para vencer.
Arapuca evangélica
Contudo, há um tipo diferente de arapuca, infelizmente comum no mundo evangélico. Esta é a ideia de que o evangelismo é um meio de graça para o cristão individual, ao invés de um transbordamento de graça dos cristãos para os não-cristãos. Nessa visão, “testemunhar para alguém” é tanto uma disciplina espiritual e um dever individual quanto a oração, a leitura da Bíblia ou a frequência à igreja. Como a Bíblia nunca diz que todo cristão deve apresentar o evangelho explicitamente a um incrédulo em intervalos específicos, o fardo legalista que isso impõe ao cristão comum é intolerável e, eventualmente, provoca uma reação.
A Igreja é missionária
O evangelismo não é algo que a Igreja faz em paralelo. Missões não é uma atividade adjunta da Igreja; a Igreja é missões. Podemos resumir as duas grandes tarefas da Igreja como nascimento e crescimento. Discipular as nações, batizando-as em nome da Trindade diz respeito a sua primeira tarefa: nascimento. Enquanto ensiná-las a obedecer a tudo o que Cristo ordenou é o crescimento.
Mas, este é um dever corporativo, que a Igreja cumprirá por sua própria natureza, sempre que estiver saudável. Agora, o que significa a natureza corporativa do dever? Significa vida no corpo (1 Coríntios 12.14-31).
Todos são evangelistas talentosos? Claro que não. Todos participam da missão evangelística da Igreja, cada um exercendo seu dom particular com o comportamento que Pedro exige de todos os cristãos? É claro que sim.
O Espírito e a Noiva falam
Evangelismo é um convite do Espírito e da Noiva para os incrédulos:
O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.
Apocalipse 22.17
A primeira coisa é fazer com que a realidade de Cristo, a realidade de viver em verdadeira comunidade, crie raízes. O centro disso é o culto e a vida paroquial. Você não pode exportá-lo se não o tiver. E, por outro lado, o que quer que você esteja exportando é o que você realmente tem(Mateus 23.15).
A segunda coisa é que devemos nos lembrar do princípio de Romanos 10. Como eles ouvirão sem um pregador? O meio central que Deus designou para o avanço do evangelho é a pregação – a proclamação declarativa e autoritativa da Palavra de Deus. Folhetos, livros, sites, streamings, e redes sociais são bons, mas nunca à custa do que Deus disse para fazer ordinariamente.
“Deus não está escondido. Ele tem prazer em se fazer conhecido. Assim como é da natureza da luz brilhar, também é da natureza de Deus revelar-se. A principal razão pela qual as pessoas não conhecem a Deus não é porque Ele se esconde delas, mas porque elas se escondem dele. Todo pregador precisa ser encorajado pelo fato de que Deus é luz e deseja brilhar sua luz nas trevas do ouvinte (2 Coríntios 4.4-6)”. John Stott, The Challenge of Preaching, p. 13.
E a terceira coisa é o dever de estarmos sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós (1 Pedro 3.15).
Não temos pastores para fazer todo o evangelismo por nós. Eles são treinados e equipados para que possam preparar o povo de Deus para o serviço do Reino (Efésios 4.12). Os santos devem fazer o trabalho do ministério, não no mesmo nível de alguém dotado ou treinado. Mas, todos nós estamos envolvidos. E para ser honesto, quanto treinamento é necessário para compartilhar ou retweetar algo, não é verdade?
Não se trata desta técnica ou daquela, deste truque da Internet ou daquele, mas sim experimentar a presença de Cristo em sua vida e comunicar isso. Quem é o Senhor Jesus? Quem é este rei da glória? Ele é, entre muitas outras coisas, o Senhor da Internet. Seu senhorio e Seu perdão oferecido devem, portanto, ser proclamados lá. Por que não seria? O mundo está aí? Existem criaturas imperdoáveis lá? Portanto, façamos discípulos de todas as nações.
Em Cristo,
Rev. Alan Kleber