A Igreja Presbiteriana de Aracaju, por décadas desfruta da comunhão mensal, em vez da programação anual ou semestral que no passado nossos pais tiveram devido a escassez de ministros no início do século passado. Mas, se ainda hoje desfrutamos da comunhão todo primeiro domingo do mês, por que a necessidade de mudança? Existem algumas razões práticas que podem nos ajudar a refletir melhor sobre isso.
Ora, não há um mandamento claro nas Escrituras, “Tome a Ceia do Senhor — todo domingo.” Como também, não há um mandamento que nos obrigue a cantar todo domingo o Gloria Patri. Então, por que cantamos toda semana? Porque está claro em muitos versículos e na história da igreja — é isso que fazemos. Logo, a Comunhão deve ser vista sob a mesma luz.
Por vezes somos rápidos em buscar razões exegéticas para o tema (e isso não é errado), entretanto, esquecemos de considerar os benefícios práticos de tomar todo domingo da Ceia do Senhor. Lembre-se do que o apóstolo escreveu a igreja de Corinto:
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.
1 Coríntios 11:23–26
O apóstolo nos lembra que esta é a Ceia do Senhor, portanto, pertence a ele. Não é da Igreja, sua ou minha. Esta refeição é de Jesus e com Jesus, e o seu convite “na noite em que foi traído…” foi para que seu povo jantasse com ele. Portanto, a cada Santa Ceia o Senhor nos convida para quatro coisas.
1) Na Ceia do Senhor, Jesus nos convida para o deleite e exaltação.
Nós “fazemos isso” em memória dele. A refeição pactual tem o objetivo de redirecionar nossos corações para a morte horrível de Jesus e a bela salvação que ele trouxe a nós, pecadores. Devemos nos lembrar dele, não como uma velha fotografia para obter sentimentos afetuosos e confusos, mas para adorá-lo de maneira fervorosa.
Também “fazemos isso” para exaltá-lo — para proclamá-lo. Ao comer à mesa do Senhor, nós “proclamamos sua morte” (1 Co. 11:26). Exaltamos sua paixão e o exaltamos no meio da congregação e para o mundo. Ao comer um pedaço de pão e um gole de vinho, nos tornamos arautos do evangelho. Todo cristão se torna um proclamador da glória e da justiça de Cristo.
2) Na Ceia do Senhor, Jesus nos convida ao revigoramento.
A comunhão é mais do que um reconhecimento mental, algum tipo de realinhamento cognitivo com Jesus. Na mesa do Senhor, somos revigorados, nutridos, fortalecidos e encorajados pela presença espiritual do Rei.
Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão (koinonia) do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?
1 Coríntios 10:16
Nós participamos/temos comunhão com Jesus em sua mesa. Na mesa do Senhor a koinonia acontece. A verdadeira comunhão com Cristo é encontrada na mesa do Senhor. Isso faz todo sentido pois, se ele nos convidou para sua mesa, é claro que ele está lá. E quando nos aproximamos de Jesus, ele promete se aproximar de nós, e a proximidade dele é o nosso bem.
Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração.
Tiago 4:8
Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos.
Salmo 73:28
3) Na Ceia do Senhor, Jesus nos convida à unidade.
Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão.
1 Coríntios 10:17
Um só Jesus. Um só corpo. Um só pão. A igreja é lembrada na mesa do Senhor de que somos um só corpo em Cristo. A divisão não pode sentar-se à mesa, ela se dobra sob a suave pressão do amor de Deus. Devemos amar uns aos outros como Cristo nos amou.
Obstáculos à unidade, barreiras à comunhão e pontos de apoio para a antiga serpente são todos enfrentados antes de desfrutar da comunhão. O sangue de Jesus une, somos lembrados de que somos um, e devemos buscar a real comunhão em nossa unidade.
4) Na Ceia do Senhor, Jesus nos convida à guerra contra o pecado e ao genuíno arrependimento.
O apóstolo Paulo disse aos coríntios para “fugir da idolatria” (1 Co. 10:14), e para fazer isso tomando a Ceia do Senhor (1 Co. 10:16-22). Não porque “Uma Ceia do Senhor por dia mantém o Diabo longe” — de jeito nenhum. A comunhão é um realinhamento com Cristo, um revigoramento da glória de Cristo e sua bondade — é uma maneira de pregar o evangelho a nós mesmos, que nos afasta dos ídolos e os identifica, para que possamos matá-los (Rm 8:13). A refeição pactual é um lembrete para examinar nossos corações, confessar nossos pecados, nos arrepender e seguir a Cristo (1 Co. 11:28).
A mesa do Senhor também é um meio de proteção contra os antigos poderes obscuros desta era.
Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.
1 Coríntios 10:21
Conclusão
Não subestime o pão e o cálice; não os trate levianamente pois, este é um meio de renunciar às forças demoníacas e se afastar da idolatria. Quando você toma os elementos da Santa Ceia está dizendo aos espíritos malignos: “eu estou com Jesus, e não com você. Não estou mais sob seu governo. Jesus é meu e eu sou dele. Ele derrotou o inimigo das nossas almas e eu proclamarei sua morte até que ele venha, e quando ele vier trará sua derrota final.”
Ora, meus caros presbíteros, diáconos e membros da igreja de Cristo. Não precisamos ouvir esses quatro convites toda semana? Não precisamos ser chamados para essas coisas quando nos reunimos com a Noiva de Cristo?
A Ceia do Senhor é para esse propósito. E se desejamos ser uma igreja centrada no evangelho, proclamando Jesus, por que não “fazer isso” toda semana quando nos reunimos em memória dele? Não irei tão longe a ponto de dizer que não estaremos centrados no evangelho a menos que façamos a comunhão semanal. Mas, será que estamos alcançando ao máximo nossa proclamação do evangelho ao sem o pão e o vinho toda a semana em nossos cultos solenes?
O puritano Jonathan Edwards escreveu,
“Cristo é o maior amigo de sua igreja, e o que é comemorado na Ceia do Senhor é a maior manifestação de seu amor, o maior ato de bondade que já existiu em qualquer instância, excedendo infinitamente todos os atos de bondade feitos pelos homens, uns aos outros. Foi a maior demonstração de bondade e graça divina que já existiu.”
Então, por que não gostaríamos de desfrutar da Ceia do Senhor toda semana? Vamos “fazer isso” em memória dele e proclamar a sua morte até que ele venha. Rev. Alan Kleber