
Introdução
Frequentemente, nos apegamos às grandes verdades da ressurreição de Jesus de maneira fragmentada. Nós reunimos um pouco aqui, um pouco ali, e o agenciamento é geralmente ortodoxo. Mas essa abordagem resultou em algumas lamentáveis lacunas. O Senhor ressuscitou. Ele ressuscitou de fato. Mas, o que isso significa aqui e agora?
O texto
“Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita… E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.11, 23)
Breve resumo e análise do texto
Primeiro, vemos que Jesus ressuscitou dos mortos pelo poder do Espírito Santo (v. 11). Este Espírito, aquele que ressuscitou Jesus, é o mesmo que habita nos cristãos (v. 11).
Em segundo lugar, sendo o mesmo Espírito, Ele certamente realizará a mesma obra. Aquele que ressuscitou Jesus foi o Pai, e Ele realizou Sua obra por meio do Espírito – o Espírito que habita em nós. Aquele que vivificou o corpo de Cristo é aquele que vivificará nosso corpo. Não só seremos ressuscitados pelo Espírito que vive em nós, mas ansiamos por aquele dia da ressurreição por causa do Espírito que vive em nós (v. 23).
Terceiro lugar, ressuscitaremos porque o princípio da vida de ressurreição já está embutido em nós, e esse princípio faz com que nos inclinemos para o dia da ressurreição. Gememos, esperando nossa adoção final, a redenção do corpo, a ressurreição definitiva (v. 23).
Fazemos isso da mesma forma que uma gestante geme, lembrando-se do dia do parto. Algo dentro de nós está inexoravelmente se concretizando.
O fim do mundo bem no meio da história
Os judeus acertadamente esperavam que a ressurreição final dos mortos ocorresse no último dia. “Disse-lhe Marta: Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição no último dia” (Jo 11.24). Marta sabia, e sabia com razão, que seu irmão seria ressuscitado no auge da história humana.
O que ela e os outros não sabiam é que Deus pretendia começar aquela ressurreição cedo, na ressurreição de Jesus. Quando a Bíblia descreve Jesus como as primícias da ressurreição (1Co 15.20), ou como o primogênito dentre os mortos (Cl 1.18), devemos ver que sua ressurreição e a nossa fazem parte do mesmo evento. Deus introduziu os eventos do fim da história no meio da história. Ele fez isso porque a história, como estava acontecendo, estava toda confusa. Deus plantou a glória do fim bem no meio. Isso significa que, na ressurreição de Cristo, o fim do mundo é história.
Se a história do mundo antes de Cristo foi um romance longo, sombrio e terrível, Deus maravilhosamente avançou para o último capítulo, enquanto estávamos parados no meio do livro, e escreveu o desfecho no meio do livro, transformando-o inteiramente. Em vez de dor e tragédia sem fim, agora temos um final alegre e feliz.
Todos seremos glorificados
Uma implicação muito importante dessa identificação da ressurreição de Cristo no meio da história com a nossa no final é que ela bane uma suposição muito comum e muito heterodoxa entre os cristãos evangélicos. Acreditamos na ressurreição corporal de Jesus e sabemos que aqueles que não o fazem são teologicamente liberais. Eles negaram a fé, pois se Cristo não ressuscitou, ainda estamos em nossos pecados.
Porém, a Bíblia nos ensina que aquilo que aconteceu com Jesus também acontecerá conosco. Mesmo assim, muitos cristãos acreditam que sua existência após a morte será como uma espécie de coisa etérea, fantasmagórica e flutuante. Não! A Bíblia diz que nosso corpo será levantado. Que teremos mãos e pés, glorificados. Teremos um torso, glorificado. Nossos pulmões, coração, rosto e costelas, tudo será restaurado, aperfeiçoado e glorificado. Não acreditamos na imortalidade dos fantasmas ou essências mentais, mas firmemente na ressurreição do corpo.
“Então, lhe apresentaram um pedaço de peixe assado [e um favo de mel]. E ele comeu na presença deles.” (Lc 24.42-43).
“Pois a nossa conversação está no céu; de onde também buscamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo: O qual mudará o nosso corpo vil, para que seja moldado como o seu corpo glorioso, de acordo com a operação pela qual ele é capaz até mesmo de sujeitar todas as coisas a si mesmo” (Fp 3.20-21)
O gemido de Deus
Precisamos agora colocar tudo isso no contexto do argumento mais amplo de Paulo em Romanos 8:
1. Toda a criação geme (v. 22).
2. Nós, porque temos o Espírito, gememos também, porque ansiamos pelo dia da ressurreição (v. 23).
3. E o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza – visto que ainda não sabemos como será – e Ele faz isso (porque sabe como será) com gemidos profundos demais para palavras (v. 26).
Muitas lições podem a ser tiradas de tudo isso, mas por enquanto, nos contentemos com apenas uma: O dia da ressurreição incluirá o mundo ao seu redor tanto quanto incluirá a todo nós.
A ordem criada anseia pelo dia da ressurreição assim como nós ansiamos. Precisamos entender que este não é o caso em que estamos desejando a ressurreição e a ordem criada desejando o esquecimento do Nirvana. Nós estamos nos esforçando para alcançar a mesma coisa que a Cordilheira dos Andes, o Oceano Pacífico, a Chapada Diamantina, a Nebulosa de Órion, todos os animais, as Savanas e a Floresta Amazônica anseiam: a transformação e restauração de todas as coisas.
Este mundo morrerá, assim como nós. Mas o mundo também será levantado, tanto quanto um dia nós seremos. Deus não está nos salvando enquanto considera o mundo ao seu redor um péssimo investimento. Ele está salvando tudo!
Deus não vai nos ressuscitar e nos largar vagando no espaço sem um lugar onde ficar. Ele não nos levará para algum lugar estranho e misterioso. Por causa do sangue de Jesus, na ressurreição de todas as coisas, uma reconciliação entre o céu e a terra será realizada (Cl 1.20). Isso significa que este mundo fará parte do que agora chamamos de céu. Nada de valor jamais será perdido. Quando tudo estiver reunido, permanecerá reunido.
Conclusão
O Senhor ressuscitou – Ele realmente ressuscitou. Mas isso não deve ser acreditado apenas como um dado isolado. Também deve ser pregado, e sua relevância para cada criatura viva deve ser proclamada. Nesta gloriosa verdade, vemos, portanto, a salvação da história. Vemos a salvação de nossos corpos mortais, que serão transformados para serem conformados à imagem do Primeiro Homem. E vemos acima, a restauração do céu, e abaixo, a restauração da terra. Portanto, ao meditarmos sobre o futuro de nosso mundo, jamais cometamos o erro de pensar que nosso Deus limitará sua obra, pois Ele está salvando tudo.
Nele, em que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra,
Pr. Alan Kleber