“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. (João 8.34-36)

Os primeiros versículos nos mostram a natureza da verdadeira escravidão. Os judeus amavam se vangloriar, embora não tivessem fundamento correto, de que eram politicamente livres e de que não eram escravos de qualquer poder estrangeiro. Nosso Senhor Jesus recordou-lhes que havia outra escravidão à qual eles não davam a mínima atenção, ainda que estivessem dominados por ela.

Como é profunda essa verdade! Quantas pessoas, em todo o mundo, são escravas do pecado, embora não admitam! Tornaram-se cativos de suas habituais fraquezas e corrupções e se mostram incapazes de serem libertos. Ambições, amor ao dinheiro, bebedices, desejo por prazeres e divertimentos, jogos de azar, glutonaria, relações sexuais ilícitas – todas estas coisas dominam os homens. Todas elas possuem multidões de infelizes prisioneiros, acorrentados pelas mãos e pelos pés. Às vezes, se orgulham de serem eminentemente livres. Entretanto, há ocasiões em que o fogo da aflição lhes penetra a alma e percebem amargamente que, de fato, são escravos do pecado.

Não existe escravidão semelhante a esta. O pecado realmente é o mais severo de todos os senhores – estes são os únicos salários que o pecado paga aos seus servos. Libertar o homem desta escravidão é o grande objetivo do evangelho. Despertar as pessoas a fim de que percebam sua degradação, mostrar-lhes as correntes em que estão presas, fazer com que acordem e lutem para que sejam livres – este é o grande alvo por que Cristo enviou seus ministros. Feliz é a pessoa que teve seus olhos abertos e descobriu o perigo. Saber que estamos cativos é o primeiro passo em direção à liberdade.

Por último, esses versículos nos mostram a natureza da verdadeira liberdade. Nosso Senhor Jesus declarou-a aos judeus, utilizando uma sentença abrangente: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. A liberdade, todos sabemos, é reconhecida como uma das maiores bênçãos temporais. Por ideais de liberdade, muitas pessoas já sacrificaram suas vidas e bens. Contudo, apesar de toda a nossa vanglória, os supostos homens livres não passam de escravos. Existem muitos que ignoram completamente a mais sublime e pura forma de liberdade. Essa liberdade é uma propriedade do verdadeiro cristão. As pessoas perfeitamente livres são apenas aquelas que Jesus liberta. Todas as demais, cedo ou tarde, descobrirão que são escravas.

Em que consiste a liberdade dos verdadeiros cristãos? Eles se tornam livres da culpa e do salário do pecado, por intermédio do sangue de Cristo. Sendo justificados, perdoados e purificados, podem olhar com ousadia para o Dia do Juízo e afirmar: “Quem intentará acusação contra nós? Quem nos condenará?”. Pelo Espírito de Cristo, eles são libertos do poder do pecado, que não tem mais domínio sobre eles.

Jamais descansemos até que, por experiência própria, tenhamos esta liberdade. Sem ela, qualquer outra liberdade é apenas um privilégio passageiro. Liberdade política, comercial, nacional – todas elas não podem confortar alguém em seus últimos dias, ou mesmo anular o aguilhão da morte, ou conceder paz à nossa consciência. Somente a liberdade que Cristo outorga pode fazer isto. Ele a oferece gratuitamente a todos aqueles que a buscarem com humildade. Portanto, não descansemos até que ela nos pertença.

J.C. Ryle