O domingo é um dia lindo. Eu sei que tem 24 horas, que amanhece e anoitece, que é um dia da semana como todos os outros, mas na alma do cristão ele lateja com algo diferente.

Quando eu era uma criancinha de calças curtas, quando a exterioridade da vida desabrochava em minha mente, recordo que comecei a sentir a diferença entre a terça e a quinta, a segunda e a sexta. Era muito mais que um dia de folga, das crianças brincando nas calçadas, dia de atividades cessadas. Era o dia da Igreja. Eu não entendia muito bem, mas era o Dia do Senhor.

Mas, o que havia de tão diferente nesse dia? Era o Dia do Senhor. O dia da Igreja. Era o dia quando os pais cristãos acordavam os filhos com a saudosa frase: “turma, vamos acordar, chegou a hora de caminharmos para a Igreja”.

E todos se aprontavam e juntos seguíamos para estudarmos a Bíblia e nos juntarmos com os irmãos. Hinos eram entoados, a lição nas classes era dada e a confraternização ao final era alegre. Ainda hoje ouço o som do velho piano preto tocando no início da Escola Dominical a música “Luta contra as trevas”. A professora da classe se esforçava para nos ensinar sobre Jesus, seguido do Catecismo, novos cânticos e não saíamos até que dissesse: “o Senhor nos veja e nos guarde enquanto estivermos separados uns dos outros”.

Naqueles dias, por conta de nossa idade, não sabíamos que o domingo deveria ser guardado por algumas razões:

(1) os cristãos primitivos se reuniam no dia de Domingo; este dia ficou conhecido como o Dia do Senhor; (2) foi o Dia que Cristo ressuscitou;
(3) o dia que Jesus apareceu aos seus discípulos depois de ressuscitado;
(4) o dia que se deu a descida do Espírito Santo, o Pentecoste cristão;
(5) dia da celebração da Ceia do Senhor;
(6) dia no qual os cristãos levavam suas ofertas para ajudar aos necessitados;
(7) dia em que o apóstolo João recebeu a revelação apocalíptica;
(8) da primeira pregação Cristocêntrica;
(9) dos primeiros batismos;
(10) da primeira ressurreição coletiva que se tem conhecimento na história.

Enfim, eu não tinha nada disso gravado na mente, mas no coração eu sabia muito bem o que Jerônimo, um dos pais da Igreja da Primitiva dissera: “o domingo é o Dia da Ressurreição, é o Dia dos cristãos, é o Dia da Igreja”.

Que grande bênção é ter dado os primeiros passos na Igreja. Que grande bênção é poder criar os filhos na Igreja. Nunca se apagaram de minha alma os graciosos sentimentos desse dia e daquela Congregação na qual iniciei, mesmo quando os apelos naturais da juventude procuravam me conduzir a outras experiências em outros lugares, o Domingo da minha infância continua a ser vivenciado da alvorada ao crepúsculo. Ainda hoje o Domingo é para mim um dia muito especial, principalmente hoje, em que vou vivendo os meus dias na consciência de que realmente o Domingo é o Dia do Senhor, o Dia da Igreja, o Dia da comunhão de todos os eleitos e também é o Dia de minha alma que vai caminhando no clarão da Glória de Jesus, de fé em fé, de glória em glória, até chegar o dia da Perfeição da Criação.

É claro que todos os dias são do Senhor, mas o que se segue ao sábado, me traz uma santa expectativa de céu na alma, com aquela silenciosa e indizível alegria interior produzida pela fé, que letras não podem traduzir nem vozes proclamar as maravilhas de Deus que vibram na mais profunda base da estrutura de meu ser.

Fui jovem e hoje sou velho, mas o Dia do Senhor jamais deixará de ser o que é para a minha alma: o maravilhoso dia da Ressurreição de Jesus apontando para a ressurreição de todos os cristãos.

Pr. Franklin Dávila