A teologia reformada considera a fiel pregação da palavra e seu reconhecimento como padrão de doutrina e vida, a marca por excelência da igreja verdadeira. Sem ela não há igreja, ela determina a reta administração dos sacramentos e o fiel exercício da disciplina da igreja.

Desde o princípio, a palavra falada tem sido relevante no relacionamento do Criador com suas criaturas. O escritor aos Hebreus afirma que “pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das cousas que não aparecem” (Hb 11.3). Deus mesmo disse: “Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Ao estabelecer o seu pacto com Adão no jardim do Éden, Deus pronunciou as suas exigências falando diretamente com ele (Gn 2.16, 17).

Após a Queda, na Antiga Dispensação do Pacto, Deus passou a usar a sua palavra falada através dos lábios de seus servos, os profetas, a fim de recriar a humanidade caída, escolhendo e chamando um povo para si. Já no Novo Testamento, encontramos na vida de Jesus, a pregação da Palavra como principal marca do seu ministério terreno. Marcos registra em seu evangelho que “depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14,15).

É importante notar que essa também foi a responsabilidade e missão que Jesus ordenou aos apóstolos e a Igreja (Mt 28.19). Por exemplo, Paulo escrevendo aos romanos afirmou que a fé salvadora vem pela pregação da Palavra de Cristo (Rm 10.17).

De forma que, a pregação do evangelho independe dos sacramentos ou da disciplina eclesiástica. Porém, estes não são independentes dela. A fiel pregação da palavra é o grande meio para a manutenção da igreja e para habilitá-la a ser a mater fidelium (mãe dos fiéis). Entretanto, Berkhof nos alerta quanto ao cuidado de não incorrermos no errôneo conceito de ao se atribuir esta marca à igreja de Cristo necessariamente a pregação da palavra na igreja terá que ser perfeita “… para que ela possa ser considerada como igreja verdadeira” (Teologia Sistemática, 581).

Porquanto entendamos que o ideal de perfeição seja inatingível neste mundo, só podemos atribuir à igreja visível uma relativa pureza de doutrina. Discorrendo sobre esse assunto a Confissão de Fé de Westminster aperfeiçoa a doutrina da igreja quando diz que “… as igrejas mais puras debaixo do céu são sujeitas tanto à mistura quanto ao erro; e algumas têm se degenerado tanto a ponto de não mais se tornarem igreja de Cristo, mas sinagogas de Satanás” (Confissão de Fé de Westminster, XXV.V).
Esta afirmativa não tem o propósito de nos dizer que temos que “taxar” as igrejas em condições dúbias, e nem tampouco os nossos Padrões aprovam que crentes permaneçam em igrejas “menos puras”, que ainda não se degeneraram completamente em sinagogas de Satanás. Antes, a Confissão de Westminster permanece na doutrina prévia dos credos, que convoca os homens a buscarem uma igreja verdadeira, ou seja, uma igreja discernida pela presença das marcas corretas.

João Calvino, o grande reformador de Genebra, destacou a importância da p atribuindo a sua eficácia somente ao ministério do Espírito Santo, o divino mestre dos fiéis, o qual através da instrumentalidade dos ministros e doutores, aplica e instrui a Igreja de Cristo, fortalecendo-a, confortando-a e consolando-a (Institutas da Religião Cristã, IV.i, 5).

Calvino ensinava que a Igreja não pode ser edificada senão pela “pregação externa” da Palavra de Deus, e que os santos não se mantêm unidos entre si por outro vínculo senão o da edificação através da proclamação do evangelho de Cristo. O que fazer então? Devemos procurar uma igreja onde somente Jesus Cristo, e este crucificado é pregado, pois quando o evangelho é proclamado em nome do nosso Redentor é como se Ele em pessoa nos falasse.

Pr. Alan Kleber