Uma ênfase primordial da fé reformada e do culto reformado é a centralidade da pregação. Sem minimizar os outros aspectos do culto, a pregação é o grande meio escolhido por Deus para proclamar o evangelho aos perdidos e nutrir na fé os filhos e filhas de Deus.

Como disse o apóstolo dos gentios: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?… E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.14-15,17).

Martinho Lutero considerava a pregação como a parte central do culto público e colocava a pregação da Palavra até mesmo acima da sua leitura1. Timothy George descreve assim a contribuição de Lutero para a pregação:

Lutero recuperou a doutrina paulina da proclamação: a fé vem pelo ouvir, o ouvir pela palavra de Deus… (Rm 10.17). Lutero não inventou a pregação, mas a elevou a um novo status dentro do culto cristão… O sermão era a melhor e mais necessária parte da missa. Lutero investiu-o de uma qualidade quase sacramental, tornando-o o núcleo da liturgia… O culto protestante centrava-se ao redor do púlpito e da Bíblia aberta, com o pregador encarando a congregação, e não em volta de um altar com o sacerdote realizando um ritual semi-secreto. O ofício da pregação era tão importante que até mesmo os membros banidos da igreja não deviam ser excluídos de seus benefícios2.

A fim de restaurar a igreja em Genebra aos moldes bíblicos, João Calvino e seus companheiros redigiram um manual de governo eclesiástico e de culto denominado Ordenanças Eclesiásticas. Segundo esse manual, a pregação da palavra de Deus deveria ser o elemento essencial do culto corporativo e a tarefa central do ministério pastoral3.

James Montgomery Boice observa que “… quando a Reforma Protestante aconteceu no século XVI e as verdades da Bíblia, que por longo tempo haviam sido obscurecidas pelas tradições da igreja medieval, novamente tornaram-se conhecidas, houve uma elevação das Escrituras nos cultos protestantes”4

Boice ainda afirma que foi o reformador genebrino, João Calvino, que “… em particular, pôs isto em prática de modo pleno, ordenando que os altares (há muito o centro da missa latina) fossem removidos das igrejas e que o púlpito com uma Bíblia aberta sobre ele fosse colocado no centro do prédio”5.

Do mesmo modo, os puritanos, fiéis herdeiros da Reforma Protestante do século dezesseis, enfatizaram ainda mais a importância da centralidade da proclamação do evangelho na adoração corporativa. Eles seguiram principalmente a concepção calvinista quanto à primazia das escrituras nos cultos protestantes.

Na concepção puritana, este era o principal momento do culto. Embora essa afirmação não seja compreendida por muitos teólogos reformados, é preciso entender que quando os puritanos pensavam em pregação, eles tinham a mesma compreensão dos reformadores de que era nesse momento do culto que a vox Dei (do latim, “voz de Deus) se fazia ouvir a toda a congregação.

A pregação é, portanto, o principal meio de graça e deveria ocupar o lugar principal do ministério da igreja.6 Não devemos esperar menos do que isso. Pela pregação fiel do evangelho, nosso Senhor Jesus Cristo manifesta sua glória e poderosa salvação no meio de seu povo escolhido.

Pr. Alan Kleber

Fonte:
1 Paulo Anglada, Vox Dei: A Teologia Reformada da Pregação, em “Fides Reformata”, Vol 4, nº 1, (1999):155.
2 Timothy George, Teologia dos Reformadores, (São Paulo: Vida Nova, 1993), 91-92.
3 J.H. Merle d’Aubigné em Paulo Anglada, Vox Dei – A Teologia Reformada da Pregação, em “Fides Reformata”,Vol 4, nº 1, (1999): 154.
4 James Montgomery Boice em Paulo R. B. Anglada, Vox Dei: A Teologia Reformada da Pregação em “Fides Reformata”,Vol 4, nº 1, (1999): 154.
5 James Boice em Anglada, Vox Dei, 154.
6 Joseph Pipa Jr, The Major Medium, in “Katekomen Review”, (summer of 2001), (http://www.gpts.edu/), 6.