O apóstolo Paulo escreveu a Tito que o pastor deve ser capaz de “… admoestar com sã doutrina…” (Tt 1.9). A palavra “admoestar” significa “chamar para dentro”, chamar uma pessoa e fortalecê-la. O conceito aqui expresso é o de uma exortação terna, compassiva e vigorosa para que se obedeça às Escrituras Sagradas. Isso pressupõe, no entanto, que as pessoas aprenderam estas verdades. Não faz sentido fazê-las obedecer a verdades que não compreendem.

Já a palavra “sã” significa “saudável”, “que dá vida” ou “que preserva a vida”, em contraste com o erro devastador ou destruidor do falso ensino. Os pastores devem chamar para dentro seus rebanhos e fortalecê-los, levando-lhes o ensino sadio e divino.

John MacArthur afirma que “… o contrário da admoestação com a sã doutrina encontra-se na segunda parte de Tito 1.9. Para ser capaz de proteger as suas ovelhas dos ‘lobos vorazes’ (At 20.29) que tentam destruí-las, o pastor deve ser capaz de ‘convencer os que contradizem’.1

O melhor antídoto para o falso ensino é a doutrina sadia. C.H. Spurgeon é sábio ao aconselhar que “o ensino saudável é a melhor proteção contra as heresias que assolam à direita e à esquerda entre nós”.2 Uma congregação bem instruída é muito menos suscetível ao falso ensino. Portanto, a ênfase primária do pastor em sua pregação é estar ensinando a verdade ao seu povo.
Spurgeon certa vez escreveu: “Os sermões devem conter ensino valioso e sua doutrina deve ser sólida, substanciosa e abundante”.3 Ele destaca um ponto importante: a pregação não deve ter apenas a devida fundamentação; o devido edifício, mas deve ser construído sobre esse fundamento. A pregação baseada nas Escrituras procurará, naturalmente, comunicar os ensinos das Escrituras. Spurgeon continua, alertando:

Dirigir apelos aos sentimentos afetivos é excelente, mas se não vão acompanhados de instrução, são apenas um lampejo no panorama, é pólvora gasta, sem acertar o alvo… O método divino é pôr a lei na mente, e depois escrevê-la no coração… É sadia a informação sobre os assuntos bíblicos que os seus ouvintes desejam ardentemente, e precisam tê-la. Eles têm direito a explicações precisas da Escritura Sagrada, e se cada um de vocês [pastores e futuros pastores] for ‘um intérprete, um em mil’, um verdadeiro mensageiro, as darão com abundância. Qualquer coisa mais que esteja presente, a ausência da verdade instrutiva, edificante, à semelhança da ausência de farinha no pão, será fatal.4

Para cumprir seu propósito, a verdadeira pregação bíblica deve conter tanto a proclamação como a instrução. A doutrina forma o conteúdo da proclamação, pois, conforme observamos acima, as Escrituras são o fundamento da pregação. Mas o pregador deve instar as pessoas a aplicar as verdades bíblicas que aprenderem. Essa é a função da pregação – a proclamação pública com o objetivo de atingir a vontade. Ilustrando esse ponto, Cartwright disse: “Como o fogo atiçado produz mais calor, assim a Palavra, por assim dizer, soprada pela pregação, inflama-se mais nos ouvintes do que quando é lida”.5

Somente quando a pregação tem o seu devido conteúdo é que ela pode cumprir a função que Deus outorgou na igreja. Ela não é um exercício de oratória para o pregador, mas um elemento essencial no crescimento espiritual do corpo de Cristo.

Pr. Alan Kleber

Notas:
1 JR, John MacArthur. Redescobrindo o Ministério Pastoral, Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p. 286.
2 SPURGEON, Charles Haddon. Lições aos Meus Alunos, vol. 2, São Paulo: PES, 1982, p. 73.
3 Idem, p. 87.
4 Ibid, p. 89.
5 Cartwright em Lloyd-Jones, Os Puritanos Suas Origens e Seus Sucessores, São Paulo: PES, 1993, p. 382.