Essa disposição psicológica revela uma condição lamentável e de escravidão espiritual. Na realidade, é a consequência de uma visão legalista da salvação (salvação pelas obras ou caráter) aliada ao medo de incorrer no juízo divino citado em 1 Co 11.29-32. O que devo fazer quando me sinto assim? É preciso compreender que ninguém no mundo é “suficientemente bom” para não merecer benção alguma de Deus e que a salvação, e tudo o que a Ceia do Senhor representa, é dádiva gratuita da graça imerecida de Deus aos pecadores. Lembre-se que a Bíblia encoraja você a confiar na misericórdia gratuita de Deus em Cristo, e, então, a participar da Ceia do Senhor depois da preparação apropriada.

Algumas vezes a alegação de que alguém não se sente “suficientemente bom” para participar da Ceia do Senhor pode ser uma mera desculpa dada por membros nominais de igreja que estão vivendo em pecado e não têm a intenção nem o desejo de levarem Jesus Cristo e a Ceia do Senhor a sério. Devemos tomar o cuidado de jamais os encorajarmos a participarem do sacramento enquanto estiverem nessa condição carnal, pois se assim o fizerem estarão em perigo de tomar e comer juízos para si mesmos. Essas pessoas precisam nascer de novo pelo Espírito Santo, recebendo a Jesus como seu Salvador e somente então – depois da preparação adequada – poderão participar da Ceia do Senhor.

Além dos legalistas e dos membros nominais de igreja já citados, há alguns verdadeiros crentes em Cristo que podem ser descritos como vítimas de uma consciência morbidamente ativa. Essas pessoas compreendem plenamente que são salvas pela graça e não pelas obras e estão longe de serem membros nominais que vivem contínua e negligentemente em pecado. Cheias de dúvidas e hesitações, elas têm no período preparatório à comunhão um quadro de aflição em vez de regozijo. Devemos nos esforçar para ajudar a tais crentes no Senhor pela compaixão e o encorajamento, não por recriminações nem críticas ásperas.
Essas almas extremamente introspectivas devem ser encorajadas a olharem para fora e não para dentro de si, para Cristo e sua redenção, em vez de pensarem somente em suas próprias dúvidas e fraquezas. Elas são como o hesitante Sr. Temente, na segunda parte de “O Peregrino” de John Bunyan, sobre o qual o guia Grande-Coração disse: “[O Temente] Tinha, acho eu, um Pântano do Desânimo dentro da cabeça, o qual sempre trazia consigo, senão jamais seria como era “um homem que tinha em si o essencial”, e por fim cruzou em triunfo o último rio “atravessando a corrente, com água pouco acima das canelas”, dizendo: “vou conseguir, vou conseguir”.

Transcrito e adaptado do Comentário do Catecismo Maior Westminster de Geehardus Vos.

Pr. Alan Kleber