Na tradição reformada, qual é a relação entre a pregação da Palavra e os Sacramentos (Batismo e Santa Ceia) na adoração corporativa? Tratando a respeito da administração do pacto da graça na nova dispensação, o Catecismo Maior de Westminster nos ensina que “… no Novo Testamento, quando Cristo, a substância, se manifestou, o mesmo pacto da graça foi, e continua a ser, administrado pela pregação da Palavra e na celebração da Ceia do Senhor; e, assim, a graça e a salvação se manifestam em maior plenitude, evidência e eficácia a todas as nações1.

Para a teologia reformada, a pregação é um meio de graça. Ela e a ministração dos sacramentos são as ordenanças pelas quais o pacto da graça é administrado na nova dispensação. Os sacramentos “… são sinais externos e símbolos; através deles o evangelho é pregado por ‘figuras’, divinamente ordenadas, da redenção”2. Eles servem como uma palavra visível para complementar a palavra pregada.

É assim que reformadores e puritanos interpretam as palavras de Paulo, em 1 Coríntios 1.17: “Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o Evangelho”. Para Calvino por exemplo, os sacramentos não têm sentido sem a pregação do Evangelho3. Quando a ministração dos sacramentos é dissociada da pregação, eles tendem a ser considerados como práticas mágicas.

O pensamento puritano quanto à relevância da pregação não é diferente. Martin Lloyd-Jones observou que “os puritanos asseveravam também que o sermão é mais importante que as ordenanças ou quaisquer cerimônias. Alegavam que ele é um ato de culto semelhante à eucaristia, e mais central no serviço da igreja. As ordenanças, diziam eles, selam a palavra pregada e, portanto, são subordinadas a ela”4.

Os sacramentos não são indispensáveis; a pregação é. Os sacramentos não têm sentido sem a pregação da Palavra; sendo-lhe subordinados5. Logo, a pregação é o meio mais excelente pelo qual a graça de Deus é conferida aos homens, suplantando inclusive os sacramentos.6

Mas, por que razão? Note, que os sacramentos servem apenas para edificar a igreja; a pregação, além disso, é o meio por excelência pelo qual a fé é suscitada; é o poder de Deus para a salvação7. Os sacramentos são como que apêndices à pregação do Evangelho8.

Pr. Alan Kleber

Fonte:

1 Catecismo Maior de Westminster, (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), resposta 35.

2 Kevin Reed, Fazendo a Fé Naufragar, (São Paulo: Os Puritanos, 2002), 58.

3 Juan Calvino, Institucíon de la Religión Cristiana, (Rijswijk-Países Bajos: Felire, 1999), Tomo II, IV.xiv.5.

4 David Martin Lloyd-Jones, “A Pregação”, em Os Puritanos Suas Origens e Seus Sucessores, (São Paulo: PES, 1993), 385.

5 Martinho Lutero, “Um Sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa”, em Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 2, O Programa da Reforma: Escritos de 1520, (São Leopoldo: Sinodal/Concórdia, 1989), 271.

6 Paulo R. B. Anglada, Vox Dei: A Teologia Reformada da Pregação em “Fides Reformata”,Vol 4, nº 1, (1999): 151.

7 Calvino, Institutas, Tomo II, IV.xiv,14 e IV.xvii.39.

8 Calvino, Institutas, IV.xvi.28.