Para algumas mentes, esses salmos e passagens imprecatórias são talvez um obstáculo mais difícil do que qualquer outro no caminho de uma confiança estabelecida na inspiração Divina das Escrituras (J. Sidlow Baxter, Explore the Book)

Temos refletido dominicalmente, a cada pastoral, como é importante para o cristão ter uma visão elevada das Sagradas Escrituras, pois elas são Palavra de Deus (2Tm 3.16-17). Por essa razão, antes de caminharmos um pouco mais, precisamos renovar o nosso pacto de confiança na Palavra de Deus. Mas, como podemos fazer isso?

1. Concordemos com nosso Senhor Jesus Cristo que Davi falou e escreveu no Espírito (cf. Mt 22.43; Mc 12.36; At 1.16; 4.25 e Hb. 4.7). Isso exigirá de cada um de nós humildade e confiança.  Humildade para abandonar nosso próprio julgamento como autoridade final quanto a interpretação das Escrituras, e confiança ilimitada de que toda a Bíblia (e não somente algumas partes dela) é a Palavra de Deus.

J. H. Webster escreveu:

Davi, por exemplo, era um tipo e porta-voz de Cristo, e os salmos imprecatórios são expressões da justiça infinita do Deus-homem, de sua indignação contra o mal, de sua compaixão pelos injustiçados. Eles revelam os sentimentos de seu coração e os sentimentos de sua mente em relação ao pecado (The Psalms in Worship).

A Bíblia sempre será a perfeita, suficiente, inerrante e infalível Palavra de Deus mesmo quando não conseguimos entende-la. Descobriremos como nosso estudo devocional será então transformado a partir da simples análise de algumas orações fervorosas a um aumento do conhecimento de Deus que atrairá gratos louvores àquele que se revela a nós através dos gritos de justiça nos Salmos de imprecação.

2. Sigamos em frente com um coração submisso ao Espírito. Tendo firmado este pacto de confiança na Palavra de Deus, estaremos prontos para seguir em frente. Nosso coração estará preparado para fazer ao Senhor as perguntas certas: Como essas maldições podem ser entendidas como concordantes com o mandamento do Novo Testamento de amar nossos inimigos? Esses salmos mostram que a fé dos santos do Antigo Testamento era defeituosa? A ira nessas orações porventura é pecaminosa? Quem está falando nesses salmos? Essas orações podem ser feitas e pregadas hoje? É certo se alegrar com a queda de nossos inimigos? Quando buscamos a iluminação do Espírito Santo para compreender os salmos imprecatórios, essas são algumas das perguntas que devemos responder para nosso próprio benefício, bem como para os outros.  Diante desse desafio, oremos com o salmista: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei”; “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz” (Salmos 119: 18; 36: 9).

“Segundo o testemunho da Bíblia, Davi é como o rei ungido do povo escolhido de Deus, um protótipo de Jesus Cristo. O que acontece com ele é por causa daquele que está nele e de quem é dito que ele vem por meio dele, ou seja, Jesus Cristo. E ele não está inconsciente disso, mas ‘sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono, prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo’ (At 2.30-31). Davi foi uma testemunha de Cristo em seu ofício, em sua vida e em suas palavras. O Novo Testamento diz ainda mais. Nos Salmos de Davi, o próprio Cristo prometido já fala (Hb 2.12; 10.5) ou, como também pode ser indicado, o Espírito Santo (Hb 3.7). Essas mesmas palavras que Davi falou, portanto, o futuro Messias falou através dele. As orações de Davi foram oradas também por Cristo. Ou melhor, o próprio Cristo orou por seu antecessor, Davi “.

(Dietrich Bonhoeffer, Psalms: The Prayer Book of the Bible).

Pr. Alan Kleber

Traduzido e adaptado da Obra de James E Adams: “War Psalms of the Prince of Peace – Lessons from the Imprecatory Psalms” (P&R Publishing: 2016).