PERGUNTA 91. Como se tornam os sacramentos meios eficazes para a salvação?

R. Os sacramentos tornam-se meios eficazes para a salvação, não por alguma virtude que eles ou aqueles que os ministram tenham, mas somente pela bênção de Cristo e pela obra do seu Espírito naqueles que pela fé os recebem.

Ref. 1Pe 3.21; Rm 2.28-29; 1Co 12.13; 10.16-17.


PERGUNTA 92. Que é um sacramento?

R. Um sacramento é uma santa ordenança, instituída por Cristo, na qual, por sinais sensíveis, Cristo e as bênçãos do novo pacto são representadas, seladas e aplicadas aos crentes.

Ref. Mt 26.26-28; 28.19; Rm 4.11 (Breve Catecismo de Wesminster).

Comentário

A Igreja Católica Romana ensina que existem sete sacramentos. São eles: (1) batismo, (2) confirmação, (3) penitência, (4) matrimônio, (5) a missa, (6) ordenação e (7) extrema unção. As Igrejas da Reforma rejeitaram cinco deles e voltaram a uma administração mais escriturística dos outros dois. Os reformados disseram que o Batismo e a Ceia do Senhor, e somente estes, são realmente sacramentos. Por que eles chegaram a essa conclusão? Eles o fizeram por vários motivos. Vejamos pelo menos alguns deles:

1. Primeiro, para que uma ordenança seja considerada um sacramento, devemos ser capazes de mostrar que Cristo ordenou isso.

2. Em segundo lugar, o sacramento deve ser um sinal, isto é, uma representação visível e externa de uma obra interior e invisível da graça de Deus.

3. Terceiro, devemos ser capazes de mostrar por meio das Escrituras que tal ordenança é perpétua, isto é, que Cristo ordenou à Sua Igreja que a observe até que Ele venha.

4. Finalmente, deve ser mostrado que a ordenança é um selo destinado a confirmar e fortalecer a fé daqueles que a recebem.

Visto que o Batismo e a Comunhão (e somente estes) atendem a essas qualificações, somente esses são apropriadamente chamados de sacramentos. As outras cerimônias e ordenanças da Igreja Romana não são realmente sacramentos porque não atendem a essas qualificações bíblicas.

A EFICÁCIA DOS SACRAMENTOS

Um segundo grande erro da Igreja Romana quanto aos sacramentos, diz respeito à sua eficácia. A teologia romana ensina que para um sacramento operar a graça de Deus nos corações dos homens, duas coisas são necessárias: 1) Primeiro, que o sacramento deve ser administrado de acordo com a forma apropriada; e, 2) Que ele deve ser administrado com a intenção correta.

De acordo com a Igreja Romana, se o sacramento é administrado da maneira correta, e com a intenção que esta mesma Igreja prescreve, então haverá uma operação de Deus. O poder de Deus em todos esses casos, diz-se, está contido no próprio sacramento. A teologia reformada rejeita essa visão dos sacramentos pelas seguintes razões:

1. Só Deus pode conhecer o coração (Hb 4.12). Se a validade do sacramento dependesse da condição espiritual interna (intenção) do ministro, então nunca teríamos certeza de que havíamos recebido a bênção de Deus. “Jesus sabia desde o princípio quem … deveria traí-lo”, diz a Bíblia (Jo 6.64). Contudo, “o próprio Jesus não batizou, mas os seus discípulos” (Jo 4.2). E um dos discípulos foi Judas Iscariotes! Contudo, nosso Senhor Jesus nunca sugere que havia algo inválido nesse batismo.

2. As advertências das Escrituras no sentido de que devemos examinar a nós mesmos (1Cor 11.20-30). claramente nos ensinam que o benefício do sacramento depende de nossa intenção, não da intenção do ministro. É importante, obviamente, que os sacramentos sejam administrados corretamente pelo ministro. A Igreja deve seguir a regra das Escrituras o mais próximo possível. Não podemos esperar que Deus abençoe os sacramentos quando eles não são administrados corretamente. Mas isso não é motivo para esquecer que Deus é soberano e ainda trabalha através desses sacramentos da forma como Ele quer.

SINAIS E SELOS DA PACTO DA GRAÇA

Os sacramentos, portanto, são sinais e selos pactuais. Entender isso é compreender a natureza essencial dos sacramentos. Mas o que é um sinal? Em termos mais simples é uma imagem ou símbolo. É uma representação visível de algo que não podemos ver.

Tomemos por exemplo as placas de sinalização: quando dirigimos em uma rodovia elas nos ajudam a enxergar algo real, mas momentaneamente invisível aos nossos olhos (e.g., curva perigosa a 200m, trechos em obras a 500m, etc). O sinal é uma verdadeira representação visível de uma situação real, mas invisível. Assim são os sacramentos – eles nos dão uma imagem de uma obra da graça de Deus.

Mas, os sacramentos também são selos. Lembremos do nosso diploma do ensino médio ou da faculdade. Ele carrega o selo oficial da escola ou universidade onde nos formamos. O que isto significa? Que a nossa graduação é genuína – ela foi testada e confirmada, em outras palavras, pela autoridade competente. Se porventura, alguém duvida que somos graduados, precisamos apenas mostrar este selo. Do mesmo modo ocorre com os sacramentos. Eles certificam a genuinidade dos benefícios que os crentes recebem de Cristo. É por essa razão que uma pessoa come e bebe juízo para si, quando participa da Mesa do Senhor, sem nunca ter acreditado nEle. Nesse caso, tal pessoa usa um selo oficial, mas porta um diploma falso!

O Catecismo fala dos sacramentos como “sinais sensíveis”. Isso não significa que eles façam sentido (para uma pessoa não convertida, eles podem não fazer sentido algum). A palavra aqui tem um significado diferente: significa que os sacramentos impressionam os cinco sentidos – visão, audição, sentimento, paladar e olfato. Visto que Deus nos criou seres físicos, mas também espirituais, Ele próprio nos deu sacramentos que nos trazem bênçãos espirituais através de meios físicos.

Desta forma, recebemos o mesmo evangelho que é pregado de formas diferentes. Portanto, os sacramentos são uma espécie de “sermão visível”. Eles apresentam a mesma verdade, mas de maneira variada. Foi por essa razão que João Calvino, o grande reformador, argumentou contra o uso de figuras e imagens do Senhor. “Parece-me extremamente indigno”, disse ele, “receber quaisquer outras imagens, do que aquelas naturais e expressivas que o Senhor consagrou em sua palavra: quero dizer, o Batismo e a Ceia do Senhor” (Institutas, 1.11).

Traduzido e adaptado de “The Westminster Shorter Catechism: For Study Classes”, G.I. Williamsom: P&R Publishing, 1970, pp. 294-296.

Pr. Alan Kleber