Em primeiro lugar, segundo o Dicionário de Oxford, “Selfie” significa, “uma fotografia que uma pessoa tirou de si própria, normalmente com um smartphone ou webcam, e que foi colocada numa rede social”. Para você ter uma ideia, essa foi a palavra do ano em 2013, e sem sombra de dúvida, se aplica perfeitamente para os nossos dias, pois vivemos em um mundo muito “selfie”, o que define a cultura extremamente narcisista dos nossos dias.

Na mitologia grega, Narciso é o personagem que, ao ver o seu reflexo na água, torna-se tão apaixonado por si mesmo que dedica o resto de sua vida para o seu próprio reflexo. Versões antigas desse mito, contam que de tanto se contemplar, Narciso comete suicídio por ter se apaixonado por ele mesmo e não conseguir conquistar seu objeto de desejo. A partir daí, a filosofia ocidental começou a usar o termo “narcisismo” para definir a preocupação que o homem nutre por si mesmo ou seu próprio ego.

Foi assim que Mike Krieger, o brasileiro criador da famosa rede social para compartilhamento de fotos e vídeos, o Instagram, ficou rico com milhões de autorretratos. Basta qualquer pessoa segurar em sua mão a câmera perfeita. Mude a câmera para si mesmo e com um simples toque, sorria, poste e pronto! Sua foto ganha o mundo. No Brasil, as redes sociais mais usadas dizem tudo por meio de seus nomes: YouTube, Facebook WhatsApp, Instagram, FB Messenger, Twitter, Snapchat, etc. O “i” (=eu) dos aparelhos da Apple também falam muito – iPod, iTunes, iMac, iPhone e iPad. A palavra “Selfie” se encaixa bem dentro desse contexto não acha?

Indo mais direto ao ponto, o valor predominante do “hedonismo narcisista”, a clássica mentalidade “eu, meu, minha”, coloca o prazer pessoal e a auto-realização como a principal das preocupações. Ou, como bem definiu Francis Schaeffer ao longo de seus escritos, a ética do final dos nossos dias é a busca da paz pessoal e riqueza individual. Como assim? Deixe-me dar um exemplo: De acordo com Journal of Family Medicine and Primary Care (Índia), entre 2011 a 2017, pelo menos 259 pessoas morreram tirando selfies em diferentes lugares no mundo. Cinco vezes mais que os 50 mortos em ataques de tubarão.

Quem tira mais selfies, homens ou mulheres? Mulheres é claro (rsrs)! Porém, são homens jovens, com predisposição a comportamentos de risco, que respondem por três quartos das estatísticas de letalidade. Eles morrem em colisões, afogamentos, quedas ou acidentes com armas de fogo. Por exemplo, a Índia, com seus 800 milhões de celulares, detém o recorde mundial de morte por selfies nesse período (159 mortos), seguida da Rússia, Estados Unidos e Paquistão.

Quero deixar bem claro, que não estou interessado em promover uma campanha “anti-selfie”, com o slogan: “Nunca mais tire fotos de si mesmo!” Criatividade é uma das provas mais bonitas que fomos feitos à imagem de um Deus criativo. De forma que, mostrar uma imagem de nós mesmos para o mundo pode revelar um nível de arte impressionante e não algo necessariamente prejudicial.

Quando a mãe tira uma foto de sua barriga de grávida (não de sutiã!), eu vejo a vida. Quando uma jovem tira uma foto de si mesma com seu novo anel de noivado, vejo alegria. Quando um cara tira uma foto mostrando seu novo par de tênis que ele trabalhou duro para ganhar, eu curto e digo: “que legal!”

Mas, quando moças ou mulheres crentes começam a mostrar partes do seu corpo feitos para serem exibidos apenas para seus futuros maridos ou atuais, eu pergunto “o que é que você está fazendo?!” Infelizmente, os brasileiros são os que mais tiram “selfies” sensuais. A maioria absoluta são mulheres. Quando uma menina ou menino tira 15 fotos por dia, de si mesmo em cada postura que se possa imaginar, eu pergunto: “Por onde anda o seu pai?”

O que fazer então? Quero lhe oferecer algumas dicas:

(1) Antes de postar qualquer foto sua, sempre examine o propósito da sua “selfie”. Pergunte a si mesmo: O que estou tentando apresentar para o mundo como um crente que vive, adora e glorifica a Deus? Lembre-se: não é pecado ter as coisas. A questão central tem a ver com o papel que você coloca sobre estas coisas em sua vida. “Porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21).

(2) Nunca exponha partes de seu corpo para que os outros vejam. Isso vale para homens e mulheres. Pergunte a si mesmo: Por que eu acho que uma certa parte do meu corpo precisa ser vista por outros, alguns que eu nunca conheci pessoalmente, e outros que vou ver amanhã na sala de aula ou no trabalho?

(3) Pais, acompanhem seus filhos também nessa área. Estabeleçam limites quanto ao uso e período que eles ficam em redes sociais. Não permita que seu filho minta criando perfis com idades falsas. Há tempo para tudo, não é mesmo? Procure saber o que ele vê, com quem fala, que fotos posta. Instrua seu filho no caminho que ele deve andar.

(4) Meninas, não postem “selfies” fazendo “duck faces” (biquinhos), com a língua de fora, fazendo poses sensuais. Pode parecer algo inocente, mas infelizmente, muitas garotas tem se perdido nessa área, tentando parecer com seus ídolos. A jovem cristã deve aprender com as mulheres cristãs mais maduras como falar, se vestir e se portar. A orientação bíblica ensina a seguir bons exemplos e não cantoras pop ou atrizes mundanas.

(5) Mostre ao mundo que a sua vida não está centrada em torno de si mesmo, mas em outros também. Use com sabedoria a sua câmera e mostre ao mundo aquilo que ele desconhece: como a vida em família é alegre, a comunhão da igreja é prazerosa, e como você se sente feliz com aquilo que seus irmãos conquistam e realizam. Poste fotos dos seus amigos realizando boas obras, glorificando a Deus.

Por fim, não desista de seus “selfies”, pois eu vou continuar acrescentando corações para eles em seu Instagram e curtindo o seu Facebook sempre que vê-los. Mas para cada “selfie” que você posta, certifique-se de colocar em sua rede social três “no-selfies”. Mostre a todos que o seu mundo fala não somente de você, mas de todos que você ama, admira e te cercam.

Nele, que nos fez criativos e santos,

Pr. Alan Kleber

(Pastoral escrita em 11/05/2014, atualizada e extremamente atual para os nossos dias)