Introdução

Iniciamos no domingo passado, uma série de pastorais considerando as principais raízes do descrédito contemporâneo à pregação, sendo o primeiro deles a influência da televisão. É a televisão um sério rival para a pregação como meio de comunicação? Será que o aparelho na sala tem substituído ao púlpito na igreja?

Infelizmente, a televisão tem sido o pastor de muitas famílias cristãs. Muitos tem trocado até mesmo o privilégio de se congregar por jogos, novelas, filmes e séries. Não é a toa que nossa geração é capaz de ficar horas sentada assistindo um programa televisivo, mas considera insuportável assistir um pregador falar por um pouco mais de meia hora de relógio.

Em contraste, a pregação de nossos dias é superficial, com ênfase no estilo e nas emoções por influência também da mídia televisiva. Na definição pós-moderna, a “boa” pregação (ou seja, aquela que atenda ao homem pós-moderno) tem de ser, antes de tudo, breve e estimulante. Consiste em entretenimento, não em ensino, repreensão, correção ou educação na justiça (2 Tm 3.16). Certamente, a televisão dificulta o escutar com atenção aos sermões porque leva as pessoas a se tornarem pouco críticas intelectualmente, insensíveis emocionalmente e confusas psicologicamente. Hoje veremos outra causa do descrédito contemporâneo à pregação do Evangelho: o protesto e rebelião contra todo o tipo de autoridade.

Aversão às Autoridades

Embora este fenômeno de protesto e rebelião contra as autoridades não seja algo novo na história da humanidade (leia o Salmo 2), possivelmente testemunhamos em nossos dias a maior revolta consciente avessa a todo e qualquer tipo de autoridade. Nossa nação tem presenciado o espírito questionador da sociedade pós-moderna em busca da “verdadeira liberdade”, através dos protestos espalhados por todo o território brasileiro nos últimos anos, muitos deles violentos, rebeldes e subversivos.

Todas as autoridades, antes respeitadas e aceitas pela sociedade mundial (a família, a igreja, a escola, a universidade, o estado, a Bíblia, o papa, Deus) estão sendo questionadas. Em um país onde tudo é relativo não há lugar para verdades absolutas. O resultado, portanto é a tendência de se ver o púlpito como um símbolo de autoridade ante a qual os homens se rebelam.

John Stott observa que “… a igualdade educacional, ao menos no ocidente, tem aguçado as faculdades críticas das gentes. Hoje todos têm suas próprias opiniões e convicções, e as consideram tão boas como as do pastor”.1

Charlie Watts, da banda inglesa The Rolling Stones, expressa bem a atitude e o espírito dos nossos dias quando diz: “… me oponho a qualquer forma de pensamento organizado. Me oponho à religião organizada, como a igreja. Não vejo como é possível organizar dez milhões de mentes para pensar o mesmo”.2 Outros deram um passo a mais e se opuseram a qualquer tipo de pensamento, seja organizado ou individual.

Portanto, no mundo em que vivemos não é possível organizar as mentes e não é permitido forçar as pessoas a terem uma ideia determinada. Nenhuma instituição, não importa quão venerável seja, tem o direito de impor uma ideia sobre os outros por força de sua própria autoridade. Tampouco pode uma ideia impor-se a si mesma sobre todos os outros, visto que não existe tal coisa como uma verdade absoluta e universal. Pelo contrário, tudo é relativo e subjetivo. Antes de poder crer em qualquer ideia, ela deve provar ser autêntica para mim, em forma pessoal; e antes que se espere que alguém creia nela, esta precisa por si mesma demonstrar ser autêntica. Até que isto aconteça não devemos nem podemos crer.  

O reflexo de homens sem temor a Deus é o desejo de emancipação de todos os princípios norteadores de uma cosmovisão onde Deus é a referência máxima. Eles trocam a verdade pela mentira, à justiça pela injustiça (Rm 1.18 ss). Quando uma sociedade vive como se Deus não existisse, ela decide, legisla e lidera segundo o seu coração e não segundo a Palavra de Deus.

Conclusão

Nossa sociedade precisa conhecer a verdade universal e absoluta: Jesus Cristo é o Senhor e Juiz de toda a terra (Sl 2). A Igreja de Cristo tem um importante papel kerigmático (proclamador) a cumprir. É preciso anunciar a todos, inclusive àqueles que nos governam que se persistirem pecando, morrerão em seus próprios pecados. Mas, o papel profético da igreja também é o de pregar que Jesus Cristo é o Salvador do mundo (Jo 3.16). Por isso todos aqueles que se refugiam nEle são bem-aventurados, porque nele há salvação, felicidade e segurança.

Pr. Alan Kleber

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[1] John Stott, La Predicación: Puente Entre Dos Mundos, (Grand Rapids: Baker, 1997), 48.

2 Charlie Watts em John Stott, La Predicación: Puente Entre Dos Mundos, (Grand Rapids: Baker, 1997), 50.