Breve Catecismo de Westminster

PERGUNTA 102. Pelo que oramos na segunda petição?

R. Na Segunda petição, que é: “Venha o Teu reino”, pedimos que o reino de Satanás seja destruído e que o reino da graça seja adiantado; que nós e os outros a ele sejamos guiados e nele guardados, e que cedo venha o reino da glória.

Ref. Sl 68.1; Jo 12.31; Mt 9.37-38; 2Ts 3.1; Rm 10.1; Ap 22.20.

No prefácio da Oração do Senhor, “Pai nosso que estás no céu”, encontramos a consciência fundamental com a qual toda oração deve ser oferecida. A oração saudável e agradável a Deus começa com a abençoada percepção de que Deus é nosso “Abba-Pai” – nosso Pai Querido. Essa consciência fundamental leva à petição fundamental: “Santificado seja o teu nome” – “Santificado seja o teu nome como Abba-Pai”. Qualquer pessoa que iniciar sua oração com essa sublime petição dirigindo-se aos céus orará de uma maneira que seja agradável ao Pai.

Com isso em mente, aprendemos então a Segunda Petição, “venha o teu reino” (v. 10a), que prolonga a corrida ascendente da oração. De fato, a estrutura de pensamento hebraico aqui exige que entendamos “venha o teu reino” e “seja feita a tua vontade” como ampliações de santificado seja o teu nome”. A santificação adequada do nome de Deus como Pai inclui orar para que o seu reino venha e a sua vontade seja cumprida. A oração pelo reino deve fazer parte do padrão de nossa vida de oração.

Ao longo dos anos, interpretações conflitantes foram dadas ao significado de “venha o teu reino”. Alguns argumentaram que esta é uma oração pela Segunda Vinda de Cristo e isso é tudo – não tem nada a ver com a vida atual. Outros viram “venha o teu reino” como um chamado à ação social e nada mais – um mandato para introduzir o reino agora através das boas obras. E há aqueles que viram “venha o teu reino” como realizado espiritualmente na salvação das almas. Na verdade, a interpretação e aplicação corretas contém elementos de todas essas visualizações.

“VENHA O TEU REINO” – RECONHECE O PASSADO

Orar “venha o teu reino” não sugere de maneira alguma que Deus não tenha sido ou não seja atualmente rei soberano, que seu reinado é apenas futuro. “Como ele já é santo, também é rei, reinando em absoluta soberania sobre a natureza e a história.”1 (John R. W. Stott, Christian Counter-Culture (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1978), p. 147). O salmista Davi entendeu isso muito bem ao declarar: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24: 1). Deus já é rei, e seu reino abrange todo o universo. “Venha o Teu reino” é um chamado para uma manifestação nova e única do seu reino no futuro.

“VENHA O TEU REINO” – É PARA O FUTURO

Embora Deus já seja rei, seu reinado também é futuro. O verbo “venha” refere-se aqui a um momento decisivo no futuro em que o reino virá de uma vez por todas – um evento que acontecerá apenas uma vez.2 (Ernst Lohmeyer, Our Father (New York: Harper & Row, 1965), p. 104.) Este será o segundo advento de Cristo, quando Ele voltará, julgará o mundo, e estabelecerá seu reino eterno. Essa ideia no grego traduzida como “venha o teu reino” é tão forte que Tertuliano mudou a ordem da oração, colocando “seja feita a tua vontade assim na terra como no céu” antes de “venha o teu reino”. Ele argumentou que depois que o reino chegasse, não haveria necessidade de orar, “seja feita a tua vontade” – todos o fariam! O raciocínio de Tertuliano estava errado, mas ele entendeu com precisão que “venha o teu reino” é uma oração pelo reino final quando, sob o reinado de Cristo, nossos corações maus se tornarão puros, nossa mentira, engano, desconfiança e vergonha serão banidas, nossos asilos e penitenciárias não mais existirão, e todas as nossas palavras e ações serão feitas para a glória de Deus.

Homens e mulheres anseiam por isso desde a Queda. Todos ansiamos pelo tempo em que haverá “justiça, paz e alegria no Espírito Santo”, como Paulo descreve o reino (Rm 14.7). Aqueles que estão fora do reino podem dizer que esse pensamento é utópico e, no sentido geral da palavra, podem estar certos. Mas não no sentido estrito, pois utópico vem da palavra “utopia” (do grego ou [não] e topos [um lugar]), significando um sonho impossível. Mas, o advento do reino de Deus não é um sonho! É tão certo quanto qualquer fato estabelecido da história, e nele nossos maiores sonhos se tornarão realidade!

Maranata!

Pr. Alan Kleber

Trecho do Sermão dominical proferido no Acampfamilia 2020, em 23.02.2020