Texto Bíblico:  Leia Zacarias 5.1-4

Introdução

As três últimas visões de Zacarias estão inversamente relacionadas as três primeiras. Por exemplo, a terceira visão descreve uma nova Jerusalém, onde o Senhor habita. De forma correspondente, a sexta visão anuncia a remoção dos ímpios de Jerusalém. Na segunda visão, Zacarias vê a remoção dos chifres que foram levantados contra Israel pelos ferreiros de Deus, enquanto na sétima visão o próprio mal é removido de Israel para a terra da Babilônia.

Qual é o ensino central da Sexta Visão?

1. Que os iníquos serão expurgados de Israel. Zacarias 5.1-4 adverte que os pecadores serão julgados individualmente.

2. Que a multiplicação do pecado e do crime é causa suficiente para Deus cancelar a sua bênção. Essa visão é bastante semelhante ao argumento do profeta Ageu quando pergunta aos sacerdotes se a santidade é tão “cativante” ou contagiosa quanto o mal (Ag 2.11-14).

3. Que todo um trabalho de obediência não dispensa a necessidade de santidade em todos os aspectos da vida. A sexta visão, nos ensina que roubo e perjúrio (ou seja, usar o nome do Senhor em vão ou sem nenhum propósito válido ou legítimo) são crimes e ofensas contra Deus e contra o próximo, os quais o Senhor não deixará impunes, independente do fato da nação estar ativamente envolvida na construção de uma Casa para Deus.

A Sexta Visão: o pergaminho voador (Zc 5.1-4)

Essa visão expõe dois julgamentos de Deus contra os iníquos:

1. A maldade dos ímpios revelada (5.1–2)

Zacarias vê “rolo voante” ou, “um pergaminho voador” (v. 1). Ele tinha proporções incomuns, medindo “vinte côvados de comprimento e dez de largura” (v. 2). Como um “côvado” mede cerca de 45,7 centímetros, esse rolo media aproximadamente de 9×4,5 metros. Os rolos, que antecederam nossos livros modernos, geralmente eram longas tiras de papiro ou pergaminho, mas esse de forma incomum era bem mais largo.

Mas, qual a relevância das dimensões? Embora devamos ter bastante cuidado para não afirmar algo que o texto bíblico não pretenda dizer, muitos intérpretes do Antigo Testamento observaram, que as medidas do rolo visto por Zacarias nessa sexta visão da noite, são iguais ao Santo dos Santos no tabernáculo (cf. Êx 26.15-28) e ao pórtico do templo de Salomão (cf. 1Rs 6.3). Baseados nisso, eles deduziram que o pergaminho recebe dimensões similares, já que o julgamento deve começar pela casa de Deus e com o povo de Deus.

Zacarias pode ter se dado ao trabalho de descrever a forma estranha do pergaminho quando suas dimensões só teriam significado para aqueles que se lembraram de que as mensagens trazidas eram dirigidas ao povo da casa de Deus – e que a casa compartilhava as mesmas dimensões. O julgamento começou na casa de Deus!

O fato do pergaminho estar “voando” compara sua mensagem a alguns dos anúncios que podemos ver em um litoral, feira ou estádio de futebol, onde uma pequena aeronave voa no alto trazendo uma longa faixa de propaganda. Outra imagem que nos ajuda bastante, é a de um outdoor gigante no céu, escrito dos dois lados. Por essa razão sua mensagem “sai pela face de toda a terra”, ou seja, sua mensagem deveria ser divulgada a todos os homens.

2. A maldade dos ímpios condenada (5.3-4)


Esse pergaminho voador estava escrito por dentro e por fora (cf. Ez 2.10). Sua mensagem trazia palavras de julgamento: “Esta é a maldição que sai pela face de toda a terra” (v. 3). Duas classes de malfeitores são denunciadas no pergaminho: ladrões e perjuros (aqueles que quebram juramentos). Essas duas classes de pecadores violaram prescrições nas duas tábuas da Lei de Deus:

“Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7)

“Não furtarás” (Êx 20.15)

Esses dois pecados representam toda a Lei Moral de Deus registada nas duas tábuas do decálogo (Dez mandamentos). O significado da mensagem: as mesmas pessoas envolvidas na construção da Casa de Deus estavam violando toda a sua santa Lei e precisavam se arrepender de seus pecados.

Na “maldição” de Deus (vv. 3, 4) repousava o aviso que tantas vezes havia sido dado em Deuteronômio 28–30. A obediência aos mandamentos dados por Moisés ao povo resultaria em “bênção”. Entretanto, a desobediência terminaria em “maldição”. A palavra “maldição” (hebraico, qalah) está intimamente identificada com “pacto”. No pacto havia um vínculo entre o SENHOR e seu povo:

“Se atentamente ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que hoje te ordeno, o SENHOR, teu Deus, te exaltará sobre todas as nações da terra. Se ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos” (Dt 28.1-2)

Contudo, se os israelitas violassem o pacto cometendo infrações nesse relacionamento pactual, os castigos cairiam sobre ele como “maldições” de Deus:

“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão” (Dt 28.15)

O crime não foi pago no tempo do profeta Zacarias, e nunca se pagará. Independentemente das delegacias policiais e dos advogados tratarem adequadamente os criminosos, eles sempre estarão sob o juízo de Deus. Até mesmo na comunidade dos pós-exilados, o roubo e o perjúrio foram dois abusos muito comuns da Lei de Deus. Como os israelitas poderiam esperar a bênção de Deus em suas vidas, mesmo que estivessem reconstruindo o templo, cometendo roubo e perjúrio?

De fato, tanto o ladrão quanto o perjurador seriam expulsos “segundo a maldição” do pacto (v. 3c). Eles seriam “expurgados” ou removidos da comunidade. Tão certo era esse fato que Deus o anunciou em seu pergaminho voador. A “maldição” entraria na casa do ladrão, e na casa do que jurasse falsamente a maldição “permaneceria no meio dele” (v. 4). Certamente isso indica a severidade do julgamento que Deus traria contra aqueles que violassem o seu pacto. Além disso, a maldição pernoitaria e consumiria suas casas até “a sua madeira e as suas pedras” (v. 4d). O julgamento de Deus seria tão consumidor que nos lembra do fogo que caiu do céu quando o profeta Elias orou para que Deus respondesse sua oração pelo fogo (1Rs 18.38). Os iníquos não escaparão do julgamento de Deus.

Conclusão

Nos dias de Zacarias, houve grande ação de graças a Deus pela conclusão do templo e pela maneira como as pessoas haviam respondido ao chamado para o trabalho. Mas o povo não podia usar isso como desculpa para tolerar a maldade residual em seu meio. Deus perseguiria o ladrão impenitente e o que jurasse falsamente em seu nome, em sua própria casa, com o seu santo juízo os consumiria completamente. Além disso, a difusão dos crimes no meio daqueles que retornaram a Terra Prometida cancelaria qualquer bênção sobre a comunidade que pudesse advir da reconstrução do templo.

Algumas implicações finais:

(1) A violação da Lei de Deus traz uma maldição divina.

(2) Em última análise, A maldição de Deus é o seu justo juízo contra os pecadores que violam o seu pacto.

(3) Toda a Lei de Deus foi violada por toda a humanidade. Por essa razão, “se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.21-23).

(4) A Lei convence e condena o pecador, deixando os infratores sem qualquer esperança de salvação: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las” (Gl 3.10).

(5) Uma vez confrontados pela Lei de Deus, ela nos aponta a necessidade de um Redentor em quem devemos depositar nossa confiança: “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” (Gl 3.24)

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido” (Gl 3.13-14)

Aviva ó Senhor, a Tua obra!

Pr. Alan Kleber