Texto Bíblico:  Leia Zacarias, capítulo 10.

Introdução

O capítulo 9 se encerra com uma promessa do SENHOR de prosperidade para os dias futuros do povo pactual, onde haveria abundância de grãos e vinho. Israel ouviu sobre como seria maravilhoso viver e prosperar em uma terra na qual o SENHOR reinaria e o mal seria vencido para sempre (Am 9.13; Jl 3.18).

No capítulo 10, o profeta Zacarias anunciou que a prosperidade tão esperada dependeria das chuvas serôdias no fim da primavera, um sinal da bênção divina sobre a terra para uma abundante colheita.  Então, ele se dirigiu a Deus e disse: “Pedi ao SENHOR chuva no tempo das chuvas serôdias, ao SENHOR, que faz as nuvens de chuva, dá aos homens aguaceiro e a cada um, erva no campo” (v.1).

A sequência do Livro de Zacarias introduz uma nova metáfora nos capítulos 10 e 11: a figura do pastor como líder. Esta metáfora é usada para contrastar líderes bons e maus. O contraste pode ser traçado no versículo-chave no capítulo 10:

“… e fá-los-ei voltar, porque me compadeço deles” (v. 6b)

O bom líder, ou verdadeiro pastor, tem compaixão pelo povo; o mau líder, ou falso pastor, não dá a mínima para ele.

Este texto apresenta dois contrastes fortes:

I. Entre os maus e os bons pastores (Zc 10.2-5).

II. Entre o antigo estado da nação e seu futuro reagrupamento na terra (Zc 10.6-12).

I. O contraste entre os bons e os maus pastores (Zc 10.2–5)

A palavra “pastor” no Antigo Oriente Próximo era usada para designar diversas posições de liderança: reis, profetas, sacerdotes, juízes e mestres. Na época do profeta Zacarias, tragicamente, os líderes transformaram suas posições de privilégio em ocasiões de abuso. De modo que, o povo, como ovelhas, era impotente para fazer qualquer coisa por si mesmo. Eles precisavam ser resgatados.

Assim como as ovelhas, o povo de Deus precisa de orientação, pois muitas vezes não têm o bom senso quanto a escolha de um líder. Em vez disso, eles escolhem outra ovelha para liderá-los, que geralmente precisa também de orientação. Consequentemente, cada um vagueia por conta própria e todos sofrem.

1. Tomando a direção errada

O profeta denunciou os principais erros que os pastores de Israel cometeram naqueles dias:

– O primeiro deles, foi buscar orientação na direção errada. Eles comumente buscavam direção espiritual nos ídolos, mas “os ídolos [terafins] do lar falam coisas vãs” (v. 2). Os terafins eram ídolos domésticos usados ​​para adivinhar o futuro (Gn 31.19; Jz 17.5; 18.5; 1Sm 15.23).

– Em segundo lugar, e não menos perturbador, os líderes ensinaram seu povo a confiar nos adivinhos, mesmo sabendo que “Os adivinhos imaginam mentiras e contam sonhos falsos; eles consolam em vão” (v. 2).

Alguns adivinhos até inspecionavam as entranhas de pássaros e animais para determinar que direção ou curso de ação deveria ser tomado (Js 13.22; 1Sm 6.2). Tudo isso foi uma farsa e uma negação total da vontade revelada de Deus.

O problema com os adivinhos não era que usassem sonhos, pois certamente Deus costumava usar sonhos para se comunicar com Seus profetas. O problema é que eles usavam falsos sonhos criados pela própria imaginação dos líderes!

Os profetas que usaram falsos sonhos foram castigados pelo profeta Jeremias em termos inequívocos:

“Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e os contam, e com as suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o SENHOR” (Jr 23.32).

“Não deis ouvidos aos vossos profetas e aos vossos adivinhos, aos vossos sonhadores, aos vossos agoureiros e aos vossos encantadores, que vos falam, dizendo: Não servireis o rei da Babilônia. Porque eles vos profetizam mentiras para vos mandarem para longe da vossa terra, e para que eu vos expulse, e pereçais” (Jr 27.9-10).

2. Ovelhas sem Pastor

Os resultados dessa liderança equivocada foram devastadores: “por isso, anda o povo como ovelhas” (v. 2). Ovelhas “errantes” é a única maneira de descrever o povo. Além disso, o povo estava em apuros “aflito, porque não há pastor” (v. 2). Contando apenas com pastores não confiáveis ​​e falsos, Israel estava, na verdade, sem liderança. Eles não tinham um pastor de verdade que se importasse com eles ou soubesse o que fazer.

3. O Julgamento de Deus sobre os maus Pastores

O pecado dos pastores trapaceiros ​​havia despertado a ira de Deus:

“Contra os pastores se acendeu a minha ira, e castigarei os bodes-guias; mas o SENHOR dos Exércitos tomará a seu cuidado o rebanho a casa de Judá, e fará desta o seu cavalo de glória na batalha” (v. 3).

O SENHOR não abandonaria o seu rebanho, e nem permitiria que esses “bodes-guias” escapassem com o que infligiram ao seu rebanho:

“Quanto a vós outras, ó ovelhas minhas, assim diz o SENHOR Deus: Eis que julgarei entre ovelhas e ovelhas, entre carneiros e bodes” (Ez 34.17)

Os pastores infiéis de Judá seriam levados a julgamento. Quer tivessem perseguido os fracos, derrubado os pobres ou intimidado as gentes, eles não ficariam impunes. Que advertência a todos os líderes espirituais que hoje servem na Casa de Deus e no Governo Civil!

4. O SENHOR cuidará do seu Rebanho

Em contraste com esses pastores corrompidos, havia um grupo de pastores fiéis e compassivos que Deus estava levantando da “casa de Judá” (v. 3). Deus pegaria suas ovelhas intimidadas e as transformaria em “seu cavalo de glória na batalha” (v. 3). O SENHOR fortaleceria seu povo transformando-o em cavalos de guerra que se rebelariam e derrubariam seus líderes opressores.

Uma nova e estável liderança seria dada agora diretamente “Dele”, ou seja, do próprio SENHOR. Essa nova marca de líderes encontraria seu modelo naquele que seria “a pedra angular”, “a estaca da tenda” e “o arco de guerra”:

“De Judá sairá a pedra angular; dele, a estaca da tenda; dele, o arco de guerra; dele sairão todos os chefes juntos” (v.4)

1. A palavra “pedra angular” é usada no Salmo 118.22 para se referir à pedra – o Messias – que os homens rejeitaram, mas que se tornou a principal pedra angular. Certamente, isto simboliza firmeza e confiabilidade. Em outras passagens do Antigo Testamento, essa expressão é usada figuradamente para se referir a um governante ou “príncipe” (cf. Is 19.13).

2. Uma “estaca” representa o “gancho” no centro de uma tenda, onde os itens usados ​​com frequência são mantidos, ou a “estaca no chão” que protege a tenda e a mantém esticada e segura. A referência no versículo 4 é provavelmente ao gancho, já que a mesma imagem foi usada em Isaías 22.23 para se referir a Eliaquim, filho de Hilquias, que tinha uma posição de liderança. O SENHOR declarou “Fincá-lo-ei como estaca em lugar firme”. Lá, também, a imagem se referia imediatamente a Eliaquim e ao vindouro Messias, que seria um líder na casa de Judá, e a quem “a chave da casa de Davi” seria dada.

3. Um “arco de guerra” é o símbolo de força para a conquista militar (2Rs 13.17). A nova marca dos bons pastores de Israel estaria pronta para assumir a causa do SENHOR dos Exércitos, assim como o Messias é revelado como um guerreiro Apocalipse 6.2:

“Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer”

Aqui estão três imagens gráficas do líder modelo, nosso Senhor Jesus Cristo. “dele sairão todos os chefes juntos” (v. 4d), pois no futuro o Messias seria a fonte de vida para os pastores e líderes compassivos.

5. Fortalecidos para a Batalha

“E serão como valentes que, na batalha, pisam aos pés os seus inimigos na lama das ruas; pelejarão, porque o SENHOR está com eles, e envergonharão os que andam montados em cavalos” (v.5)

O versículo 5 apresenta o entendimento simultâneo (sinedóque), a ideia de que agora revividos, o povo pactual de Deus se tornaria tão experiente e habilidoso em batalhas que até a mais exaltada cavalaria seria derrotada e envergonhada com facilidade. Essa figura de linguagem (em que a parte é colocada para o todo) pode explicar por que o profeta Zacarias profetizou que Deus não somente daria para seu povo pastores segundo o seu coração, mas os capacitaria também para derrubar todos os falsos líderes e pastores opressores.

Aviva, ó SENHOR, a tua obra!

Pr. Alan Kleber