Texto Bíblico:  Leia Zacarias, capítulo 10.6-7

Verso 6. Encontramos nesse versículo uma importante transição:

1. Da proclamação de Zacarias delineando os planos futuros de Deus para Judá.

2. Para a narrativa em primeira pessoa do SENHOR sobre o que Ele pretendia fazer para Judá.

Fortalecerei a casa de Judá

Existe aqui muita semelhança desse versículo com Zacarias 9.6.  Deus começa com uma declaração de sua própria determinação divina: “Eu irei”. O SENHOR garante que fortalecerá Judá e José. O nome “Judá” se refere ao remanescente da tribo mais proeminente do Sul com o nome do quarto filho de Jacó (Gn 29.35), e “José” é a tribo com o nome do décimo primeiro filho de Jacó (Gn 30.22-24). Ao contrário da referência frequente a “Judá”, o nome “José” raramente ocorre nesse par de palavras. Frequentemente, os profetas se referiam a Israel como Efraim, a mais importante das tribos do Norte (Is 7.17; Os 5.3). Entretanto, como José era o pai de Efraim (Gn 41.52), aqui no versículo 6 seu nome representa as tribos do Norte.

Merrill acrescenta uma reviravolta interessante na inclusão de José por Zacarias. Ele sugere que José prenuncia o motivo do Êxodo emergente em 10.8-12. José incentivou toda a sua família a se mudar para o Egito para escapar da forte fome em seus dias. Merrill acrescenta que foi por causa do faraó “…que não conhecia José” (Êx 1.8) que começou a opressão egípcia, sendo necessário o Êxodo. (Merrill, Eugene H. Haggai, Zechariah, Malachi. Chicago: Moody, 1994, p. 274).

O ponto principal e abrangente da profecia é a reunião de todo o povo de Deus a quem o julgamento e a perseguição havia dispersado. Alguns podem ser tentados a ver a referência às tribos do Norte de forma  literal, entendendo que todos os descendentes de Abraão, incluindo todos os israelitas, retornariam a terra da promessa. A passagem não contém nenhuma indicação de que Deus pretende reverter seu julgamento final sobre Israel em 722 a.C. Em vez disso, a menção de Judá e de José funciona como um merismo (consiste de dois elementos em contraste, que juntos compõe um todo) em que os dois extremos declarados enfatizam a certeza da restauração que Deus determinou cumprir para seu remanescente (cf. Is 11.10-16; Jr 30.3; 33.7; Zc 9.10).

Salvarei a casa de José

“Eu os salvarei” promete renovação para a nação e a noção geral de habitação e bênção na terra da promessa. Os intérpretes judeus frequentemente afirmam que Zacarias deliberadamente combinou os significados de ambas as formas verbais em um único verbo composto transmitindo a noção: “Eu os trarei de volta e os farei habitar.” A maioria dos estudiosos do Antigos Testamento apoia a interpretação “Eu restaurarei”. Esta é provavelmente a bênção divina mais profética que repousa na verdade teológica de que “Eu sou o SENHOR, seu Deus, e os ouvirei” (Gn 17.7-8; Êx 6.7; Jr 31.33; Is 41.17).

Esta promessa da graça e misericórdia de Deus, totalmente sem qualquer mérito da parte de Judá, brilha tão intensamente como qualquer outra afirmação bíblica sobre o favor do SENHOR. A compaixão de Deus por seu povo o moverá a restaurar a nação.

O tema de Deus responder aos clamores de seu povo ocorre com frequência no Antigo Testamento. Por exemplo, depois de subjugar os filisteus em Mispa, Samuel fez uma oferta e louvou ao SENHOR por responder a sua oração (1Sm 7.9). Um claro comentário bíblico sobre a resposta compassiva de Deus às necessidades humanas ocorre em Isaías 30.18-19:

Por isso, o SENHOR espera, para ter misericórdia de vós, e se detém, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam. Porque o povo habitará em Sião, em Jerusalém; tu não chorarás mais; certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá”

Verso 7. Assim como no versículo 5, Zacarias profetizou que Judá se tornaria como um “homem valente”, o versículo 7 usa a mesma linguagem ao declarar que Efraim também seria um poderoso guerreiro. A cena será tão excepcional que famílias inteiras irão observar e se alegrar.

“… seus filhos o verão e se alegrarão”. Uma referência as crianças também sinalizam uma mensagem geracional. O favor divino não se revelaria uma circunstância passageira, mas sim um benefício duradouro para o povo escolhido de Deus. Consequentemente, as sucessivas gerações lembrariam dos atos maravilhosos de Deus como parte de sua adoração e louvariam o SENHOR por sua bondade. Para uma nação tão humilde – que experimentou perseguição e privação por praticamente toda a sua história – experimentar uma reversão radical da fortuna só poderia significar que o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó se mostrou forte em seu nome.

“… o seu coração se regozijará no SENHOR”. A atmosfera emocional predominante no verso 7 é de pura alegria. Os pares de expressões poéticas “se alegrarão” (שׁמח samach) e “se regozijará” (גיל giyl) enfatizam o ponto. A primeira expressão significa felicidade ou estar cheio de alegria. A última expressão é muito semelhante à palavra anterior, embora as palavras relacionadas se refiram a gritos exuberantes de exultação. Esta segunda palavra ocorre apenas em textos poéticos no Antigo Testamento (por exemplo, Sl 2.11; 14.7; 118.24; Is 25.9; Hc 3.18). Carol e Eric Meyers adicionam um comentário perspicaz:

“Aqueles que são mais vulneráveis ​​são os que se elevam a alturas que envolvem exultação, como em Is 29:19, onde… os mesmos dois verbos que aparecem neste versículo são usados ​​em referência à resposta dos pobres e humildes… aos eventos escatológicos que Isaías apresenta (Meyers, Carol L. and Eric Meyers. Haggai-Zechariah 1-8, Garden City, NY: Doubleday, 1987, p. 213).

Aviva ó SENHOR, a tua obra!

Pr. Alan Kleber