“atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados”

Hebreus 12.15

Sejamos Vigilantes

O terceiro propósito da Disciplina na vida cristã é a Vigilância. A expressão atentando, diligentemente traduz uma palavra grega episkopeo que está intimamente relacionada a episkopos (supervisor ou bispo, sinônimo de presbítero). Precisamos cuidar uns dos outros, ajudando uns aos outros a crescer em santidade e semelhança a Cristo. Devemos também prestar atenção, supervisionar, aqueles que estão em nosso meio e não são crentes, principalmente dentro da igreja. Não devemos julgar, mas ser sensíveis, devemos buscar oportunidades para apresentar as reivindicações de Jesus Cristo a eles. E uma vez que esta carta frequentemente fala sobre essas pessoas na assembleia, este é um ponto crítico.

Cuidemos que ninguém se separe da graça de Deus

O primeiro propósito de nossa supervisão deve ser ganhar aqueles que não são salvos para Cristo. A expressão separando-se da graça de Deus significa chegar tarde demais, ficar de fora. Se um incrédulo morrer antes de confiar em Jesus Cristo, ele estará perdido para sempre, ele não alcançou a graça de Deus para sempre. Tragicamente, milhares de pessoas passaram toda a vida em igrejas e nunca obtiveram a salvação. Outros milhares têm vindo à igreja por algum tempo, não viram nenhuma evidência de nada sobrenatural ou atraente e se afastaram em apostasia. Somos exortados ao cuidado, para que ninguém seja faltoso. Devemos buscar influenciar os outros, para que aqueles que estão ao nosso redor  não vivam a ilusão de ser cristão quando não o são, ou que nenhum daqueles a quem foi exposto o Evangelho se afaste disso:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade” Mateus 7.21-23

“Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” 1 João 2.19

Somos tentados a não dar testemunho aos que professam ser cristãos, mas temos razões para saber que não o são. Temos medo de ofendê-los. No entanto, quão maior é a ofensa às suas almas eternas se não apresentarmos Cristo a eles? Somos exortados, somos ordenados a fazer todos os esforços para que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus.

Evitemos a Amargura

O segundo objetivo da vigilância é evitar a amargura. Moisés advertiu os israelitas no deserto:

“para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo cujo coração, hoje, se desvie do SENHOR, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas nações; para que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarga, ninguém que, ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a bebedice” Deuteronômio 29.18-19

A raiz venenosa também carrega a ideia de amargura. A raiz da amargura se refere à pessoa que se identifica superficialmente com o povo de Deus, mas volta ao paganismo. No entanto, ele não é um apóstata comum. Ele é uma pessoa arrogante e desafiadora quando se trata das coisas de Deus. Olha com altivez para o Senhor. A resposta de Deus a essa descrença presunçosa é dura e definitiva:

“O SENHOR não lhe quererá perdoar; antes, fumegará a ira do SENHOR e o seu zelo sobre tal homem, e toda maldição escrita neste livro jazerá sobre ele; e o SENHOR lhe apagará o nome de debaixo do céu” Deuteronômio 29.20

Um importante propósito de vigilância é estar em guarda contra os apóstatas, para que sua apostasia não vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados. Alguns apóstatas simplesmente se afastam da igreja e nunca mais ouvimos falar deles. Porém, uma pessoa com raiz de amargura é uma influência corrupta, uma contaminação séria para o Corpo. Ele fica dentro ou perto da comunidade da igreja e espalha seu mal, suas dúvidas e sua profanação generalizada. Não se contenta em apostatar sozinho.

Evitemos o egoísmo superficial

“nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.” Hebreus 12.16-17

Talvez Esaú seja, além de Judas, a pessoa mais profana e mais triste das Escrituras. Superficialmente, suas ações contra Deus não parecem tão más quanto as de muitos pagãos brutais e sem coração. Mas, a Bíblia os condena fortemente. Eles tinham uma grande luz. Eles tiveram todas as oportunidades possíveis, como poucas pessoas em sua época, de conhecer e seguir a Deus. Eles conheciam a sua Palavra, tinham ouvido as suas promessas, tinham visto os seus milagres e tinham comunhão com o povo de Deus; ainda assim, com uma vontade determinada eles se voltaram contra Deus e seus assuntos.

Esaú não era apenas imoral, mas profano. Ele não tinha ética, fé, escrúpulos ou reverência. Ele não levou em consideração o bom, o verdadeiro, o divino. Era totalmente mundano, totalmente secular, totalmente profano. Os cristãos devem cuidar de pessoas como Esaú, que contaminam o corpo de Cristo – atentando, diligentemente… nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú.

Jacó, irmão de Esaú, não era um modelo de ética ou integridade, mas valorizava genuinamente as questões divinas. Os direitos de primogenitura eram preciosos para ele, mesmo que os adquirisse por meios enganosos. No fundo, ele confiava e se apoiava em Deus: seu irmão não levava Deus em consideração e confiava em si mesmo.

Finalmente, quando Esaú acordou um pouco e percebeu o que havia jogado fora, ele fez uma tentativa relutante de recuperá-lo. Só por ter tentado com lágrimas não significa que houvesse sinceridade ou verdadeiro arrependimento – pois não achou nele nenhum lugar de arrependimento. Ele se lamentou amargamente, mas não se arrependeu. Ele queria egoisticamente as bênçãos de Deus, mas não queria Deus. Ele havia apostatado completamente e estava para sempre fora da graça de Deus. Ele continuou a viver “deliberadamente em pecado” depois de ter “recebido o pleno conhecimento da verdade” e portanto,  “já não resta sacrifício pelos pecado” (Hb 10.26).

Devemos estar vigilantes para que ninguém se desvie da verdade, se torne amargo ou siga o caminho do egoísta Esaú, que queria desesperadamente a bênção divina, mas não em termos divinos (cf. Marcos 10.17-22).

Em Cristo, Autor e Consumador da fé,

Pr. Alan Kleber