INTRODUÇÃO

Os cristãos dos primeiros séculos eram uma repreensão às sociedades pagãs e imorais em que viviam, e essas sociedades costumavam encontrar uma maneira de condená-los. Porém, quanto mais eles examinavam a vida dos crentes, mais óbvio se tornava que os cristãos viviam de acordo com o padrão moral de sua doutrina.

Possivelmente, o apóstolo Pedro tivesse essas críticas em mente quando escreveu:

“Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos” (1 Pedro 2.15).

O apóstolo Paulo escreveu palavras semelhantes ao pastor Tito aconselhando-o assim:

“Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito” (Tito 2.7-8).

Hebreus 13 fornece ética prática em alguns assuntos da vida cristã que ajudam a mostrar o verdadeiro evangelho ao mundo, para encorajar os homens a confiar em Cristo e trazer glória a Deus.

Os padrões de comportamento cristão estabelecidos em Hebreus 13 pressupõem duas realidades básicas: que tais padrões são baseados no fundamento doutrinário dos capítulos 1 a 12, e que servem para todos os cristãos, inclusive os da atualidade.

AMOR CONSTANTE – Seja constante o amor fraternal (13.1)

O principal padrão moral do Cristianismo é o amor, e o amor particular apresentado aqui é o amor entre cristãos. Hebreus 13.1 faz referência a uma palavra grega philadelphia, geralmente traduzida como “amor fraternal”. Ela é composta de duas raízes: phileō (afeição terna) e adelphos (irmão ou parente próximo; literalmente, “do mesmo ventre”).

AMOR PELOS IRMÃOS

O amor fraternal pode ter duas aplicações fundamentais. Em alguns lugares do Novo Testamento, os judeus incrédulos são tratados como irmãos. Fisicamente, todos os judeus vêm do mesmo ventre, são descendentes de Abraão e Sara. Eles são o povo escolhido de Deus. Portanto, a primeira ideia que vem à mente aqui pode ser continuar amando os judeus não-cristãos. Os judeus cristãos estavam completamente separados do judaísmo; dos rituais, das cerimônias, das leis e normas da antiga aliança. Mas eles tinham que manter um amor profundo pelos judeus incrédulos. Ao virar as costas para o judaísmo, eles não deveriam virar as costas para seus irmãos judeus. Ele deveriam ter o mesmo amor que fez Paulo escrever:

“porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas” (Rm 9.3-4).

No entanto, o ensino principal é amar outros cristãos, nossos irmãos espirituais. A admoestação para continuar amando fraternalmente indica que esse amor já existe. O amor fraternal é o fluxo natural da vida cristã. Não pode ser gerado, mas pode ser sufocado ou cultivado. Portanto, não nos é dito para fazer isso acontecer, sem permitir que continue. Quando uma pessoa recebe a salvação, ela é naturalmente atraída para a comunhão com outros crentes. Infelizmente, essa atitude geralmente muda, mas só acontece se o amor que recebemos na salvação (Rm 5.5) for reprimido.

O amor pelos outros cristãos é vital para a vida espiritual:

“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pedro 1.22-23).

Um dos resultados de obedecer à verdade de Deus é fazer crescer o amor por outros crentes.

Visto que recebemos amor fraternal quando recebemos vida espiritual, devemos exercer esse amor. A tarefa cristã não é buscar as bênçãos de Deus, mas usá-las. Já possuímos todas as bênçãos que são importantes:

“Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2 Pedro 1.3).

Nossa principal preocupação não deve ser buscar ou pedir bênçãos, mas usar nossas bênçãos:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Efésios 1.3)

Paulo ensina uma verdade intimamente relacionada em Efésios, ao apelar para que os irmãos em Cristo se esforçassem

“… diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).

Os cristãos são convidados a preservar, não a fabricar, a unidade do Espírito. Da mesma forma, preservamos o amor fraterno expressando-o e nutrindo-o, não contaminando-o ou negligenciando-o:

“No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros; e, na verdade, estais praticando isso mesmo para com todos os irmãos em toda a Macedônia. Contudo, vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais” (1 Ts 4.9-10).

Não precisamos ter mais amor. Precisamos usar o amor que temos. Não precisamos ter mais unidade ou mais paz. Precisamos usar a unidade e a paz que já temos em Jesus Cristo.

Os crentes a quem a Epístola aos Hebreus foi dirigida tinham experiência em mostrar amor fraternal:

“Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos” (Hb 6.10).

Eles haviam exercido fielmente o amor pelos irmãos no passado e foram incentivados a continuar.

O princípio básico do amor fraternal é simples. Paulo explica:

“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12.10).

Conclusão

Colocado de maneira mais básica, o amor fraternal é cuidar mais dos outros cristãos do que de nós mesmos. Quando nos preocupamos com nós mesmos, reprimimos o amor fraternal:

“Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp 2.3-4).

O amor fraternal se alimenta da humildade, e a humildade cresce com o conhecimento espiritual correto. Quando nos comparamos com Jesus Cristo, que é a norma para nossa vida, nos vemos como realmente somos e nos humilhamos. Só então seremos realmente capazes de amar como Deus deseja que amemos.

Nele, que nos amou primeiro,

Pr. Alan Kleber