“Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados” (Hebreus 13.3)

O Dever Cristão da Compaixão

A compaixão está intimamente relacionada ao constante amor fraternal. É mais fácil ajudar os outros quando temos necessidades. É mais fácil avaliar a fome quando estamos com fome, a solidão quando estamos sozinhos, e a perseguição quando somos perseguidos. Não é que um cristão deva experimentar fome, extrema solidão ou prisão para compreender aqueles que experimentam essas coisas. A ideia é que devemos fazer todo o possível para nos identificar com os necessitados, tentando assim nos colocar no seu lugar.

Se estivéssemos morrendo de fome? Quereríamos alguém para nos alimentar. Se estivéssemos na prisão? Gostaríamos que alguém nos visitasse. Por essa razão, devemos fazer pelos outros o que gostaríamos que fizessem por nós como se estivéssemos com fome ou na prisão junto com eles. Este é o princípio da regra de ouro ensinada por nosso Senhor Jesus:

“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7.12).

Entre outras coisas, Hebreus 13.3 é uma advertência contra a espiritualização da vida cristã. A Bíblia não ensina, como fazem algumas religiões orientais, que a pessoa em contato com Deus transcende a dor física, as dificuldades e outras realidades semelhantes. Nosso verdadeiro lar é o céu, mas ainda estamos no corpo. Ainda sentimos fome; ainda nos sentimos sozinhos e ainda nos sentimos física e psicologicamente magoados. Nossa fome e dor devem nos tornar mais sensíveis às necessidades e sofrimentos dos outros. Em vez de ver nossos problemas como uma desculpa para não ajudar, devemos vê-los como incentivos para sermos mais úteis. Nossos problemas devem nos tornar mais sensíveis, hospitaleiros e amorosos, não menos que isso. Um dos tratamentos mais eficazes contra a autopiedade ou autocomiseração é o serviço amoroso.

Tertuliano, um apologista do início do Cristianismo, escreveu:

“Se houvesse alguém nas masmorras, alguém exilado em uma ilha ou jogado em uma prisão, então os cristãos se tornariam os portadores de sua confissão.”

Aristides, um orador pagão, disse sobre os cristãos:

“Se ouvirem que algum deles está na prisão ou em apuros por causa do nome de Cristo, todos oferecem ajuda aos necessitados; e se eles podem resgatá-lo, eles o libertam”.

Em outras palavras, se seus irmãos estivessem na prisão, eles iriam pagar a fiança por sua liberdade, o preço da redenção.

A Confissão Apostólica dizia:

“Se algum cristão for, pela causa de Cristo, condenado às masmorras pelos ímpios, não o ignore, antes, do que você obteve com seu trabalho e suor, mande-lhe algo para apoiá-lo e recompensar o soldado de Cristo. Todo o dinheiro arrecadado pelo trabalho honesto é direcionado e destinado ao resgate dos santos, resgatando assim escravos, cativos, presos, pessoas maltratadas e condenadas por tiranos”.

Alguns dos primeiros cristãos se venderam como escravos para conseguir dinheiro para libertar outro crente que estava na prisão.

Podemos mostrar compaixão de pelo menos três maneiras importantes. Por um lado, podemos simplesmente “estar ali” quando os outros estão em apuros. Às vezes, a mera presença de um amigo é o melhor encorajamento e força.

Outra maneira de mostrar compaixão é com ajuda direta. Paulo agradeceu aos filipenses por fazerem parte de sua aflição, dando-lhe dinheiro para cumprir seu ministério em outro lugar (Fp 4.14-16). Ao apoiá-lo financeiramente, os filipenses também encorajaram o apóstolo espiritualmente.

A terceira maneira de mostrar compaixão é por meio da oração. Mais uma vez, o ministério de Paulo nos dá um exemplo. Suas palavras finais aos colossenses foram um chamado à oração:

“Lembrai-vos das minhas algemas” (Cl 4.18).

Eles não podiam visitá-lo e o dinheiro não teria sido útil na época, mas lembrá-lo por meio de suas orações poderia sustentá-lo fortemente.

Carregar os fardos dos outros cumpre a lei de Cristo (Gl 6.2), que é o amor. Se “…não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15), quanto mais devemos ter simpatia pelos outros, especialmente outros cristãos, que estão em necessidade? Seguindo o exemplo de Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir, devemos nos gastar no cuidado amoroso, contínuo e compassivo pelos outros.

Nele, que nos amou primeiro,

Pr. Alan Kleber