“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato”

– Romanos 1.20-21

Introdução

O apóstolo Paulo direciona seu argumento contra um dos principais pontos de rebelião que o incrédulo estabeleceu para si mesmo. Ele nos diz que o homem à parte de Cristo se recusa a fazer duas coisas básicas:

1. Ele se recusa a honrar a Deus como Deus: “… porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus”, e;

2. Se recusa a agradecê-Lo: “… Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus… nem lhe deram graças” (Rm 1.21).

Consequentemente, a cidadela da incredulidade dos homens apresenta duas torres: desonra e ingratidão. De modo que, em nossa cruzada contra essa cidadela da incredulidade, devemos apontar nossa artilharia (argumento) para essas duas torres em particular. Chamemos essa artilharia de “o argumento da gratidão”.

O argumento da gratidão funciona em dois níveis básicos:

1. No primeiro, a estrutura do argumento é bastante simples e é semelhante em forma a alguns dos outros argumentos que os cristãos usam para apresentar a sua fé. Isso funciona por exemplo, quando eu recebo inúmeras bênçãos. Ao receber bênçãos e descobrir que as possuo, naturalmente tenho a responsabilidade ética de agradecer. Mas, para quem deve ser grato? Se eu sou o resultado final de átomos que se movem em um universo sem inteligência, não há ninguém para quem eu possa mostrar minha gratidão mas, ainda assim, minha necessidade ética de ser grato permanece e é genuína. Porém, a revelação me mostra que existe um Deus que criou todas as coisas, e portanto, eu o agradeço pela chuva que cai, pelo ar que eu respiro e pelos passarinhos que vi hoje cedo.

2. O segundo nível do argumento da gratidão é mais profundo e repousa na autoridade real. Este argumento requer de nós mais do que simples referências à gratidão. Aquele que argumenta deve estar transbordando de gratidão e permanecendo assim transbordante. Isso leva o incrédulo à presença daquela atitude viva que o apóstolo Paulo diz que esse está fazendo o máximo para evitar – a verdadeira ação de graças.

Isso significa que o argumento não terá apenas uma estrutura lógica, mas também um aroma. Para aquele que é atraído pela fé em Deus, aquele aroma é o cheiro da vida. Para aqueles que desejam continuar com seu ódio a Deus, o aroma é o cheiro da morte:

“Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas? Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.”

– 2 Coríntios 2.14-17

1. Quando consideramos as obras dos céus e olhamos para a terra debaixo dos nossos pés, devemos nos surpreender porque não somos mais gratos do que deveríamos. Considere a modesta bolota e pense por um momento como um carvalho cresce e onde a bolota obtém o carbono para fazer a árvore. Honestamente, a bolota é um dispositivo engenhoso para fazer um carvalho do ar. Quem pensou nisso e como podemos agradecê-lo?

2. Quando vemos que Deus decidiu nos dar mais um dia de vida, devemos nos encher de gratidão. Quando ficar claro que a comida na mesa ainda está lá, logo depois de abrirmos os olhos após a oração de ação de graças, devemos fechá-los novamente para agradecê-lo.

3. E não apenas nos nutrimos da comida, mas Deus acrescentou a maravilhosa bênção do paladar. Todos os alimentos poderiam ter a consistência e sabor de um mungunzá frio, mas Deus nos deu, entre outras coisas, delícias como o churrasco, a carne de panela, a costelinha de porco, os queijos, as frutas cítricas, variedades de sobremesas, sucos de frutas, frango defumado, alho e cebola, vinho tinto e bourbon, café coado e chá, cheeseburgers com bacon, batata frita e  tantas outras incontáveis maravilhas de sensação. Os cristãos rotineiramente agradecem a Deus pela comida, mas precisamos nos lembrar de agradecê-lo por toda a sensação maravilhosa de como ela pode ser experimentada.

4. E quando observamos o mundo dos insetos? A borboleta-monarca (Danaus plexippus), por exemplo, têm cerca de setenta milímetros de envergadura, asas laranjas com listras pretas e marcas brancas. As suas populações são naturais da América do Norte e são conhecidas por realizarem a mais longa migração realizada por um invertebrado numa única geração. Cada borboleta monarca no mundo sai de casa para voar para um lugar no México para uma reunião de borboletas todos os anos. Os indivíduos desta geração eclodem dos seus ovos no Canadá e atingem o estado adulto em Setembro, altura em que voam em grandes grupos, num espetáculo ímpar, cerca de 4000 km até chegarem ao México onde passam o Inverno em grandes aglomerações. No caminho de volta, elas se reproduzem e morrem. As novas Monarcas continuam a jornada de volta para casa, e então, no tempo certo, partem para o México novamente. Não temos uma obrigação urgente de agradecer a alguém por algo tão maravilhoso?

5. Quando levantamos nossas mãos para olhá-las, deveríamos ficar nos surpreender com a engenharia utilizada para fazê-las. Como elas funcionam assim? O que seria necessário para nossos cientistas fazerem uma mão artificial que pudesse criar calosidades quando necessária para tocar um violão? E, assim como a bolota que faz carvalhos do ar, Deus criou um sistema pelo qual minhas mãos adultas foram feitas, ao longo da minha infância, comendo cuscuz com ovo, feijão com arroz e bife, misto quente e café com leite. E o gênio da engenharia não se limita a uma parte do corpo – considere o fígado, os rins, os pulmões, o cérebro, o coração, o tornozelo, o pescoço e um par de olhos com as sobrancelhas para dentro. Considere a sexualidade, o dom do sexo, de poder fazer amor! O que há com tudo isso, não deveríamos agradecer ao Criador da vida humana?

6. A linguagem é outra bênção fantástica. Aqui estou eu, utilizando um notebook, onde digitei as palavras desse sermão em um dispositivo de processamento feito a partir de uma combinação interessante de areia de praia e números. Essa digitação seria apresentada em forma de pregação para vocês que pensariam na mesma coisa em que eu estava pensando quando escrevi tudo isso. Porém, meus pensamentos são apenas disparos de neurônios em minha cabeça, então eram números, depois disparos de neurônios na cabeça de um pregador que escreveu seu sermão, e finalmente disparos de neurônios em sua cabeça. E são iguais aos meus! Quem pensou em tudo isso? Certamente, não foi o escritor. Não deveríamos agradecer a alguém?

7. Depois, há música, junto com o resto do universo, mas eu preciso para por aqui, pois não iria parar de escrever. A música é tão maravilhosamente variada quanto nossa comida – rock, jazz, blues, mpb, pé-de-serra,  salmos, hinos, cânticos, concertos e cantatas. Se você esticar uma corda com muita força e puxá-la, os estribos, esses dois ossinhos minúsculos em nossos ouvidos, vibram na minha cabeça e eu começo a ouvir coisas. Essas notas que ouço podem ser combinadas de maneiras diferentes, tanto ao longo do tempo produzindo melodia quanto criando harmonia. Quando seguro um instrumento musical em minhas mãos, a quem devo agradecer?

Conclusão

Já deveria estar evidente que, se não sabemos quem Ele é, devemos largar tudo para descobrir desesperadamente, pois a cada dez minutos que passam sem o devido agradecimento permanecemos cada vez mais culpados – rudes, grosseiros, ingratos e atrevidos. Contudo, quando descobrimos como nos aproximar Dele por meio da adoração, isso nos deixa com a necessidade de agradecê-Lo por nossa salvação.

Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!

Pr. Alan Kleber

Sermão pregado por ocasião dos Jubileu da Igreja Presbiteriana Treze de Maio, na cidade de Aracaju, em 16.05.2021 AD