Amada Congregação,

Se orar é falar com Deus, então nossa vida de oração é mais vital quando é mais frequente, quando nossos corações e mentes constante e prontamente clamam a Deus em todo tipo de situação.[1]

Há um velho ditado que diz: “Ore como se tudo dependesse de Deus, mas trabalhe como se tudo dependesse de você.” Como cristãos reformados que buscam cumprir a missão piedosa de fazer discípulos de todas as nações é exatamente assim que devemos viver, porque a oração não se opõe ao trabalho, assim como o trabalho não se opõe à oração. “A oração não é um substituto para a ação, mas seu complemento.”[2]

Isso é o que nos diferencia dos pietistas que enfatizam a vida devocional e contemplativa à medida em que o trabalho cristão de transformar o mundo é diminuído. “Colocar a vida contemplativa contra a vida ativa é abstracionismo e alheio às Escrituras”.[3] Oração e uma vida de boas obras devem trabalhar juntas.

Mas, como isso funciona? De maneira muito simples. Oramos enquanto estamos em ação neste mundo:

Orar é como respirar; faz parte da vida do cristão e é fundamental para ela. É mais do que uma oração formal, por mais importante que seja. É uma abertura contínua a Deus em todo o nosso ser. Em vez de falarmos conosco ao longo do dia, falamos com Deus através de súplicas, pedidos momentâneos de ajuda, graça ou força, palavras rápidas de gratidão ou expressões de necessidade, tudo isso e muito mais. Essa constante súplica nos dá maior liberdade e vantagem na oração, porque é a prática da presença de Deus, de nossa consciência dela. Sua maior recompensa é a crescente consciência de que Deus está mais perto de nós do que nós mesmos.[4]

A prática da presença de Deus

No século XVII, um monge francês da ordem dos carmelitas chamado Irmão Lawrence (1614-1691), tornou-se conhecido através de um pequeno volume que se tornou um clássico da literatura mística cristã: A Prática da Presença de Deus. A diferença entre o otimismo bíblico dos reformados e puritanos e o pietismo místico do irmão Lawrence é que enquanto os monges e místicos viam a oração como um meio de sobreviver ao mundo, os reformados e puritanos viam a oração e a devoção como um meio de se engajar melhor no mundo. O pós-milenismo de Rushdoony, por exemplo, sempre inspirou sua prática de oração:

O hábito de contínuas orações e súplicas tirará o homem desses tempos maus e lhe dará graça e poder para triunfar sobre o espírito da época e muito mais.[5]

No Salmo 16.8, Davi escreveu: “O SENHOR, tenho-o sempre à minha presença; estando ele à minha direita, não serei abalado”. Esta é uma confissão simples, mas notável, que transmite uma tremenda fé da parte do salmista e profeta de Israel. Ele viu o Senhor à sua direita, e isso foi algo que ele fez intencionalmente. Davi disse que sempre colocava o Senhor diante de si, e por causa da confiança que aquela visão lhe proporcionava, ele não se abalou com o que viu fisicamente.

A oração deve ser orientada para o futuro

Não é este o nosso exemplo a seguir? Oramos apenas antes das refeições, com a família ou na igreja? Ou, demonstramos uma dependência concentrada em nosso Senhor sempre presente, levando todas as nossas preocupações a Ele enquanto agradecemos por tudo o que Ele nos fornece?

Nosso Senhor Jesus disse que devemos orar para que o Reino de Deus venha e para que Sua vontade seja feita na terra como no céu (Mateus 6.10), e embora esta não seja uma oração de santa desesperança por parte do povo de Deus, é predominantemente feita liturgicamente. Talvez isso se deva à escatologia pessimista defendida pela maioria dos cristãos. Se o nosso evangelho não é de vitória sobre história, então por que orar com fervor para que o Reino venha e a vontade de Deus seja feita na terra?

Mas,  se somos pós-milenistas, isto é, otimistas quanto ao futuro vitorioso do nosso Rei, com uma vocação para o domínio, essa oração deve ser central em todos os momentos da nossa vida. Devemos continuamente invocar a Deus, que nunca se cansa de ouvir Seus filhos que estão focados em Seu Reino vindouro. Como disse Rushdoony: “A oração é orientada para o futuro. Se não oramos, somos indiferentes ao futuro ou sentimos que Deus é irrelevante para ele.”[6]

Devemos andar vestidos com a armadura de Deus (Ef 6.13) e preparados para a batalha contra o reino das trevas e a cidade dos homens. Embora os tempos possam ser difíceis, eles estão cheios de oportunidades para os cristãos exercerem o domínio piedoso, começando com nossa incessante oração. Vamos pedir a Deus grandes coisas. Vamos invocá-Lo para derrotar o espírito da época e clamar para que o domínio seja concedido aos justos, tudo para a Sua glória!

Nele, a quem pertence o domínio pelos séculos dos séculos,

Pr. Alan Kleber


[1] R. J. Rushdoony, Good Morning, Friends: A Collection of Radio Messages by R. J. Rushdoony, Volume 3 (Vallecito, CA: Ross House Books, 2018), p. 113.

[2] R. J. Rushdoony, Systematic Theology in Two Volumes (Vallecito, CA: Ross House Books, 1994), p. 1204.

[3] ibid., p. 1201.

[4] ibid., p. 1204.

[5] ibid.

[6] ibid., p. 1211.