Amada Congregação,

Certa vez, um dos discípulos pediu ao Senhor Jesus, que ensinasse a ele e a seus companheiros a forma correta de orar. O pedido surgiu após ele testemunhar o seu Senhor orando:

“De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. Então, ele os ensinou: Quando orardes, dizei…” (Lucas 11.1-2).

Por vezes, ouvimos dizer que a Oração do Senhor não era realmente a oração que Jesus fazia, mas aquela oração dada por Ele como resposta ao anseio dos seus discípulos por orar corretamente. Contudo, não devemos esquecer que ali diante dos discípulos, estava o Mestre por excelência da oração, orando e ensinando os seus irmãos a orar corretamente:

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino”, o poder e a glória para sempre. Amém]!” (Mateus 6.9-13).

Nosso Senhor nos ensina pelo menos duas verdades importantes acerca da oração:

1. Que os cristãos devem fazer a Oração que Jesus nos ensinou;

2. Que as orações dos cristãos devem ser muito semelhantes a Oração que Jesus nos ensinou.

Porém, para a mente religiosa carnal, algumas lições dadas por Jesus através de sua oração são contra intuitivas.

1. A primeira lição é que devemos ser breves em nossas orações: Nosso Senhor Jesus nos dá como exemplo um modelo muito curto de oração. No Sermão do Monte, o Senhor faz questão de nos ensinar que devemos orar com poucas palavras, que nossas orações devem ser objetivas e curtas. Ele acrescentou que os pagãos é que acham que serão ouvidos por meio de seu “muito falar”:

“E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.” (Mateus 6.7).

O sábio pregador, nos adverte:

“Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras” (Eclesiastes 5.2).

2. A segunda lição é que antes de correr precisamos aprender a andar. O que falta à oração em conteúdo e preenchimento religioso, é compensado em poder. Observemos todos pedidos pelos quais Cristo nos faz orar em apenas algumas curta palavras.

Poderíamos enfatizar, que às vezes nosso Senhor Jesus orava durante toda a noite, e de fato, temos exemplos de orações em outras partes da Bíblia que longe de serem curtas são bastante longas. Tudo isso é verdadeiro, mas devemos saber por onde começar – precisamos começar com orações curtas.

Suponha que sua vida de oração seja praticamente inexistente. Comece então, fazendo a oração do Senhor todos os dias. Que sua vida de oração (como é mais provável na maioria dos casos) é uma mistura de clichês evangélicos. Comece a fazer a Oração do Senhor todos os dias e abandone as frases de efeito. Naturalmente, à medida que você aprender a fazer esta oração, sentirá o desejo de diversificar suas orações usando agora a Oração do Senhor como um esboço para guiar sua vida devocional. Ou então, você poderá se concentrar na divisão das diferentes petições ensinadas por Jesus nos diferentes dias da semana. No entanto, seu ponto de partida deverá sempre ser a Oração do Senhor em si.

Esta pequena oração que Jesus orou e nos ensinou tem uma profundidade incrível. Vejamos pelo menos alguns aspectos dela:

1. Pai nosso, que estás nos céus. Jesus nos ensinou a começar nossa oração por meio de um discurso direto a Deus. A oração cristã é por natureza profundamente teológica. Ela se inicia com um reconhecimento do único Deus verdadeiro e nosso relacionamento com Ele. Orando a Deus como Pai, lembramos a nós mesmos e a Ele do terno relacionamento de amor que temos por causa de Jesus. O Redentor expiou nossos pecados, aplacou a ira de Deus, nos reconciliou com Ele e nos fez seus filhos. Deus não é uma divindade impessoal ou desinteressada, mas tem um amor especial por nós, seus filhos queridos. Por causa de Cristo, Deus se agrada de nós. A palavra “Pai” é um termo carinhoso de duas faces, enraizado na cruz do Calvário:

“…vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus.” (Gálatas 4.4-7)

2. Santificado seja o teu nome. Esta petição nos ensina que a honra e a glória de Deus são sempre a primeira preocupação da oração. Isso nos dá uma perspectiva adequada sobre toda a nossa vida – que nosso objetivo principal é a exaltação de Deus. Portanto, devemos ver este pedido como fundamental para tudo o que se segue. Todos os nossos desejos, ações e petições devem estar subordinados a este. Assim, oramos: “Pai, dá-me sustento para que eu possa te servir e te glorificar. Senhor, expanda o seu reino para que teu nome seja exaltado.” Nosso Senhor aqui nos que ensina que devemos fazer da exaltação do nome de Deus o nosso objetivo principal. Este é certamente o padrão que nosso Salvador seguiu ao dizer: “Pai, glorifica o teu nome” (João 12.28) e, “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (João 17.1-2).

3. Venha o teu reino. A fé cristã não é sobre ir para o céu quando você um dia morrer. Esta petição não é uma versão de “e, se eu morrer antes de acordar”. Nossa oração é para que o céu venha até aqui, não que possamos ir para lá:

“Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! Eis o grito dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultam; porque com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do SENHOR a Sião. Rompei em júbilo, exultai à uma, ó ruínas de Jerusalém; porque o SENHOR consolou o seu povo, remiu a Jerusalém. O SENHOR desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” (Isaías 52.7-10).

Portanto, quando oramos para que o reino entre na história, podemos orar com esperança e plena certeza de fé.

O reino também é progressivo e cresce ao longo da história. Começa como um grão de mostarda e se transforma em uma grande árvore (Mateus 13.31 ss). Tudo começou em Jerusalém e está se espalhando até os confins da terra. Este é um dos motivos pelos quais orar pela vinda do reino deve acompanhar a pregação do evangelho e o discipulado das nações. A igreja está envolvida na luta contra o reino das trevas, deixando sua luz brilhar diante dos homens e conclamando aos homens que dobrem os joelhos ao Rei dos reis.

O reino é escatológico, ou futuro, porque a vitória completa no tempo, nesta terra, não ocorre até a segunda vinda de Cristo, quando toda oposição ao seu trono será para sempre esmagada e todas as forças das trevas, sejam seres espirituais ou homens, serão lançados no lago de fogo (Apocalipse 20.13-15).

3. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. À medida que o reino progride e a terra é fermentada com o Evangelho, ela se tornará cada vez mais como o céu, pois as pessoas estarão se sujeitando voluntariamente à autoridade de Deus. A vinda do reino significa a vinda das leis, estatutos e ordenanças do Rei. Abraçar o Rei envolve prostrar-se diante dele e de sua lei-Palavra.

Quanto mais as pessoas na terra se submetem ao Redentor e obedecem a suas leis, mais essa terra será como o céu – pacífica, amorosa, harmoniosa e alegre. A ideia comum nos círculos evangélicos de que a realeza do Messias não será vitoriosa no tempo e na terra; que os preceitos morais de Deus na Antiga Aliança não têm nada a ver com nossos dias; que a vinda do reino é totalmente futura e que não há sentido em polir o bronze de um navio naufragando, é totalmente contrária à Oração do Senhor.

Nosso Senhor nos mostra por meio dessa petição a importância de ensinar e pregar todo o conselho de Deus nas igrejas. Se a terra deve ser mais parecida com o céu pela observância da vontade de Deus, então é importante que o povo de Deus tenha um bom entendimento das Escrituras, da teologia e da ética bíblica.

Como a terra pode ser como o céu sem a doutrina celestial? Como as pessoas podem viver de acordo com a vontade de Deus se não se preocupam em saber o que é essa vontade? Deus requer obediência com fé, e a fé requer conhecimento da Palavra de Deus.

4. O pão nosso de cada dia. Somos o povo pactual e devemos aprender a festejar na presença de Deus:

“O SENHOR dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos, pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem clarificados. Destruirá neste monte a coberta que envolve todos os povos e o véu que está posto sobre todas as nações. Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o SENHOR falou” (Isaías 25.6-8).

Aqui encontramos uma lição muito importante sobre a vida cristã. Os meios de graça e santificação não são algo que acontece em um momento. Os crentes não são eletrocutados e recebem uma segunda obra da graça ou inteira santificação de uma só vez, mas devem aprender a praticar a piedade e a dependência de Deus todos os dias de suas vidas. Deus quer que aprendamos a nos apoiar continuamente nele e a progredir um pouco na fé a cada dia. Isso mostra que o Senhor gosta que vamos a Ele. O Senhor tem prazer em nos ouvir e responder nossas orações diariamente. Isso demonstra o amor de Deus; que Ele realmente é um Pai para nós e genuinamente tem nossos melhores interesses em sua mente.

“O Deus que fez o céu e a terra, e ordena as estrelas em seus cursos, gosta de ouvir nossos louvores balbuciantes, gosta de ouvir nossas petições. Isso porque Deus é amor; e é por isso que, embora Ele saiba tudo sobre nossas necessidades, Lhe dá grande prazer, se assim podemos dizer, quando Ele nos vê indo a Ele para pedir o pão de cada dia”

(D. Martyn Lloyd-Jones, Studies in the Sermon on the Mount, 2:70).

4. E perdoa-nos as nossas dívidas: Aqueles que santificam o nome de Deus devem confiar nele para suas necessidades físicas e espirituais. Portanto, eles devem orar: “e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mateus 6.12). Os versículos 14 e 15 contêm alguns comentários explicativos sobre esta petição: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”.

Observe que esta petição está ligada à anterior pela conjunção “e”, indicando que a confissão de pecados deve ser a rotina diária dos crentes. Consequentemente, os cristãos devem ver a confissão e o perdão diários tão cruciais para o bem-estar e a felicidade pessoal quanto ter comida e roupas suficientes.

Nosso Senhor nos lembra que também somos pecadores, necessitados não só de perdão, mas também de aprender a perdoar. Na morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, o perdão do pecado chegou ao mundo. Este mundo escuro dobrou a esquina e agora está caminhando em direção a uma luz cada vez maior. Como é essa luz? Temos vislumbres disso aqui e ali, enquanto perdoamos uns aos outros.

A Ceia do Senhor é o ponto culminante, não só das festas de Israel, mas também daquelas festas escandalosamente felizes que Jesus costumava frequentar com vários e variados pecadores palestinos. Quando perdoamos uns aos outros, comemos na mesma mesa o que é colocado diante de nós. A Mesa do Senhor nos lembra que Jesus ainda come com pecadores.

5. Livra-nos do mal: Uma chave para entender esta petição é a grande promessa de 1 Coríntios 10.13:

“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar”.

Esta promessa é essencialmente o que devemos orar: que no curso da providência, assim como Deus testa a sinceridade de nossa fé, Ele não nos coloque em uma situação que devido à nossa fraqueza particular e à severidade da tentação nos causaria falhar. Da perspectiva de Deus, é um teste, mas Satanás e seus servos usarão tais ocasiões para solicitações diretas ao pecado. Deus conhece o estado de nossos corações. Ele conhece nossas fraquezas e as áreas em que falhamos no passado. Assim, pedimos a Deus nosso próprio benefício espiritual para controlar nossas fraquezas internas e nossas circunstâncias externas.

Quando oramos para ser libertos do maligno, podemos orar com fé e segurança porque Satanás é um inimigo derrotado que foi acorrentado pela obra redentora de Cristo (Apocalipse 20.1-3). Ele é um ser finito e nada pode fazer sem a permissão de Deus (Jó 1.12). Além disso, Cristo é nosso sumo sacerdote que pode nos ajudar quando somos tentados, porque Ele foi tentado e foi vitorioso sobre o pecado e o diabo (cf. Hebreus 2.18).

O Redentor venceu todas as tentações colocadas diante dele (Hebreus 4.15; 5.7 ss). Sua vitória completa sobre a tentação e o sofrimento humano o torna o perfeito Sumo Sacerdote porque Ele pode se identificar com nossa situação e tem verdadeira compaixão por nós quando sofremos.

A vitória da cruz torna a intercessão do Senhor por nós totalmente eficaz. Jesus nos ajuda perdoando nossos pecados, e pelo poder que flui de sua obra redentora, nos dá a capacidade, para lutar e vencer a tentação (Filipenses 3.10; Romanos 6.14).

6. Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! Na vida de Cristo, Deus nos dá uma redefinição de poder e glória. A conclusão da Oração do Senhor, que assume a forma de uma doxologia, exalta a Deus enquanto conforta seu povo. É uma doxologia pastoral que encoraja nossa fé e é nosso alicerce de esperança. É totalmente consistente com o Evangelho, pois tira nossos olhos de nossas próprias fraquezas e enfermidades e os coloca diretamente no Deus triúno das Escrituras.

Nossa fé se eleva ao considerarmos os atributos gloriosos do nosso Deus pactual e a redenção consumada por Jesus Cristo. Portanto, concluímos nossa oração não olhando para, ou confiando em nosso próprio poder, obras ou experiência; mas focamos nossa fé em Deus e na obra de Cristo.

Assim, Calvino diz que o pós-escrito foi adicionado para nos tornar ousados ​​para pedir e confiantes em receber. Ele escreve:

“Este é um repouso firme e tranquilo para nossa fé. Pois, se nossas orações fossem recomendadas a Deus por nosso valor, quem se atreveria a murmurar em sua presença? Agora, por mais miseráveis ​​que sejamos, embora os mais indignos de todos, por mais desprovidos de todo elogio, ainda assim nunca nos faltará um motivo para orar, nunca seremos privados da segurança, uma vez que seu Reino, poder e glória nunca podem ser arrancados de nosso Pai.” (John Calvin, Institutes of the Christian Religion [Philadelphia, PA: Westminster Press, 1960], 2:915-916; 3.20.47.)

Conclusão

Portanto, devemos fazer a Oração do Senhor. Ela é útil e fácil para nos ajudar em nossos primeiros passos como bebês na fé, e profunda o suficiente para guiar a Igreja de Cristo em toda a maturidade. Em algum ponto, cresceremos até que perceberemos o que estamos dizendo.

Devemos, portanto, rejeitar todas as escolhas falsas. Devemos fazer esta oração por uma razão simples – Jesus nos disse para fazê-la. Não devemos orar de maneira supersticiosa e desprovida de fé – porque Jesus nos disse para não orar assim. E, embora seja melhor, como ensinou John Bunyan, que seu coração não tenha palavras, do que suas palavras não tenham coração, pela graça de Deus, não temos que fazer essa escolha. Isso ocorre porque Deus em sua graça nos deu as palavras. E Ele em sua graça também nos deu o coração.

Soli Deo Gloria

Pr. Alan Kleber