O Culto como resposta ao Deus Triúno

Querida congregação,

A estrutura do culto de adoração da igreja cristã, isto é, sua liturgia, é uma área da prática humana projetada por Deus para trazer suas criaturas para perto dele, para a reconciliação e, em última instância, a comunhão. Quando lemos o relato de Caim e Abel e nos perguntamos por que Deus aceitou a oferta de Abel, mas não a de Caim, descobrimos o desafio de se compreender como funciona a lógica ou raciocínio litúrgico da adoração bíblica (cf. Gn 4.3-5).

Embora o motivo da preferência de Deus pela oferta de Abel fosse claro para qualquer um dos descendentes de Abraão, nós, cristãos vivendo em uma era pós-moderna, por vezes precisamos de uma nota de rodapé para explicar os respectivos papéis das ofertas de cereais, grãos e animais na adoração do Antigo Testamento.

Do mesmo modo, quando algo não “parece certo” sobre um serviço religioso de culto, a menos que simplesmente desejemos expressar uma opinião, precisamos de ferramentas e conceitos que nos ajudem a articular o problema percebido e descrever que tipo de triagem litúrgica pode ser necessária.

Examinar uma prática, como a adoração, frequentemente requer uma tentativa perturbadora de analisar algo em que se tenha participado durante muitos anos sem muita reflexão. É como se passássemos anos assistindo inúmeras aulas teóricas de violino, percorrendo as várias lições que examinaram cada aspecto desse maravilhoso instrumento musical, e depois de tanto tempo o professor lembrasse: “Oh, quase me esqueço de tocar um pouco de violino para vocês!”

A participação nas atividades práticas nos molda e informa os nossos instintos. Por exemplo, se temos adorado em uma tradição batista ou carismática, teremos certos instintos sobre os propósitos da adoração e a relação entre o adorador e o Deus Triúno do cristianismo de acordo com o que sempre fomos por anos treinados a fazer.

Portanto, se nós apenas estamos nos tornando cientes das prescrições litúrgicas da Bíblia, então é preciso dar um passo atrás e examinar suas etapas de forma individual. De modo que, um dos primeiros princípios da lógica bíblica e litúrgica é este: Deus se move primeiro e nós respondemos a ele em devoção.

Deus se move primeiro

O Deus Triúno da Bíblia é o primeiro a se mover – ele é o ímpeto para tudo na criação. Tudo o que não é Deus está em constante estado de resposta a ele.

1. Deus falou e o vazio se preencheu (Gn 1.3ss);

2. Deus cria os leões e eles rugem para ele por sua comida (Sl 104.21);

3. Deus faz nascer os bebês e ordena o louvor dos lábios das crianças (Sl 8.2);

4. Deus cria adoradores e eles começam a invocá-lo (Gn 4.26).

Em todo o trato de Deus com seu povo, ele se move primeiro para formar relacionamentos e definir expectativas nesses relacionamentos por meio de pactos.

1. Ele estabeleceu a tarefa de fecundidade e domínio para Adão (Gn 1.28);

2. Ele chamou Noé de uma geração perversa para preservar um remanescente (Gn 6.13).

3. Ele chamou Abraão de Ur dos caldeus para um futuro prometido (Gn 12.1);

4. Ele chamou Jacó para o Egito (Gn 46.3), Moisés e os descendentes de Jacó do Egito (Êx 6.8), e chamou sua nação santa para ser sacerdotes e reis para todo o mundo (Êx 19.6).

Antes da ressurreição, o Senhor chamou seu povo para perto dele em adoração por meio do sacrifício. Eles não podiam subir até Deus, exceto pressionando seus pecados sobre um animal e ascendendo simbolicamente por meio da fumaça do sacrifício. Até que, na plenitude dos tempos, Cristo Jesus desceu, em nossa carne, e agora em união com ele, nós finalmente morremos e subimos à destra de Deus – em Cristo estamos assentados nos lugares celestiais.

Toda a liturgia, assim como todo o cosmos, é uma história do chamado e ação de Deus, e da nossa resposta piedosa ao seu chamado.

Para deixar o ponto intensamente prático, quando os pastores estão planejando um culto de adoração, devem ser capazes de articular, em relação a cada ação congregacional (cantar, ficar de pé, ajoelhar, falar, orar, etc.), a que movimento de Deus a congregação está respondendo. Da mesma forma, os adoradores, em todos as partes de um culto de adoração bem-organizado, devem ser capazes de articular o chamado de Deus ao qual estão respondendo.

Conclusão

A princípio, essa regra prática é do tipo post-it, semelhante àqueles marcadores de papel que colamos com pequenos lembretes ou notas.  Mas, se tornará com o tempo um hábito para nós. Reservemos um tempo para pensar sobre a liturgia da nossa igreja, ponto a ponto. Perguntemos a nós mesmos:

1. Quais partes envolvem o chamado e movimento de Deus em nossa direção?

2. Quais partes envolvem nossa resposta?

3. Quais partes estranhamente não se encaixam em nenhuma das categorias da adoração bíblica?

Esta pode ser uma abordagem útil para examinar e melhorar a ordem do culto de uma igreja. É como repassar um pouco de uma conversa em nossa mente para ter certeza de que cada resposta e cada solicitação faz sentido em seu contexto.

“Entrai por suas portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome” (Sl 100.4).

Em espírito e em verdade,

Rev. Alan Kleber