Uma ênfase importante na vida cristã prática é a importância da confissão dos nossos pecados diante de Deus. Nossa congregação sempre ensinou (e continua ensinando) que a confissão nada mais é do que uma atitude sincera de total honestidade diante de Deus, e que tal honestidade deve ser sempre contínua e imediata diariamente. Entretanto, por vezes, outra importante ênfase para nossa vida cristã pode parecer estar em tensão com nossa confissão diária; me refiro a nossa prática semanal de confessar juntos os nossos pecados no culto de adoração.

Como essas duas ênfases se relacionam? Seria isso possível ou existe algum problema com isso? Por que devemos confessar no culto público um pecado que já confessamos durante a semana? Confessar nossos pecados na adoração dominical desencoraja os crentes a de forma pronta e individual confessá-lo em seu dia a dia?

Textos Bíblicos:

“O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Provérbios 28.13).

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 João 1.9).

Resumo dos Textos:

Como afirmamos acima, a confissão de pecados é uma simples questão de honestidade diante de Deus. É o reconhecimento de que Deus é totalmente santo, absolutamente onisciente, e alguém que não pode ser enganado. Quando procuramos enganá-lo sobre nosso estado espiritual, estamos apenas nos enganando.

Quando tentamos encobrir nossas próprias transgressões com nossa própria provisão para o pecado (isto é, desculpas esfarrapadas), não prosperamos. Porém, se confessarmos e, então o Senhor mostrará misericórdia.

Se confessarmos os nossos pecados (“falarmos a mesma coisa que”). Deus fala sobre o nosso pecado, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se confessarmos, Deus promete perdoar. Isso significa que não devemos confessar e então implorar a Deus que nos perdoe, como se Ele pudesse quebrar sua palavra, como se não pudesse perdoar.

Entretanto, se o cristão não confessar um pecado, se ele não fizer isso, a morte de Jesus não será afetada. Se ele não fizer isso, a justificação pela fé permanece intocada. É tão perfeito como sempre foi. Mas, se ainda assim o crente continua lutando por sua santificação diária na corrida da fé, sem jogar fora sua mochila inútil com todo o peso de pecado não confessado, a confissão de pecados é o que deixa todo esse peso de lado:

“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” (Hebreus 12.1).

Joelhos descrentes

Se confessamos repetidamente um pecado em particular, isso não é um exercício de piedade, antes um exercício de incredulidade.

Cristo morreu por nós, de uma vez por todas:

“Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas” (Hebreus 10.10).

Em nossa conversão, Deus imputa a justiça de Jesus Cristo a nós, e Ele o faz de uma vez por todas:

“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”

(Romanos 8.1)

O que quer que façamos em nossa contínua confissão de pecados precisa reforçar essas verdades gloriosas, e não as prejudicar.

A Confissão Litúrgica

Então, o que significa a confissão litúrgica? Como ela funciona? Como devemos usá-la?

1) Quando confessamos no culto de adoração, estamos confessando nossos pecados usando as palavras das Escrituras. Este é um padrão que as Escrituras exigem de nós – por exemplo, quando Paulo diz que devemos nos dirigir regularmente uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais (Efésios 5.19; Colossenses 3.16), ele está usando palavras gregas para os três títulos do Saltério da Septuaginta (LXX), a versão grega do Antigo Testamento.

Portanto, se Deus quer que cantemos todo o Saltério, então isso significa que Ele quer que incluamos os cânticos penitenciais. Mas, como posso cantar os Salmos 32 ou 51 se eu não tiver cometido assassinato ou adultério pessoalmente?

Deus vê um benefício nisso. Talvez devêssemos confiar mais no que Ele nos fala. Nossa tarefa não é adaptar as Escrituras às nossas experiências, mas trazê-las às Escrituras para que sejam biblicamente ajustadas. Queremos apontar para um pecado em particular e dizer “isso não se aplica a mim”. Não se preocupe – mantenha essa atitude e ela logo infelizmente acontecerá.

2) Quando confessamos no culto de adoração, a maior parte da confissão é corporativa. Isso significa que não temos necessariamente nossos próprios pecados pessoais em vista. No capítulo 9 do Livro de Daniel, o profeta faz uma profunda oração de confissão nacional:

“Orei ao SENHOR, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; temos pecado e cometido iniqüidades, procedemos perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; e não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra.” (Daniel 9.4-5).

O profeta menciona vários pecados que ele pessoalmente não cometeu. Contudo, ele se identifica com seu povo e confessa com eles e em nome deles. Este é um padrão que procuramos imitar em nosso momento de confissão:

1. Primeiro os pecados de nossa nação e geração;

2. Depois os pecados da igreja, e;

3. Finalmente, nossos próprios pecados pessoais.

3) Quando confessamos no culto, as orações de confissão são paradigmáticas e instrutivas. Ao orarmos juntos, estamos ajudando a moldar nossas respostas. O que fazemos quando o pecado ocorre em nossas vidas? A Bíblia diz que devemos imitar aqueles que nos lideram, e isso inclui a forma como eles nos lideram na adoração:

“Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram” (Hebreus 13.7).

O problema pode não ter surgido na quarta-feira passada, mas surgir na próxima quarta-feira. A lição nunca é “esperar até o domingo”. A grande lição deve ser deixar “o que fazemos no domingo” moldar nossas respostas instintivas ao pecado ao longo da semana. Também lemos as Escrituras na adoração de domingo, mas não para dizer que não precisamos ler a Bíblia durante a semana. Confessamos nossos pecados no culto público, mas nunca como substituto para a confissão pessoal e imediata de todo o dia.

4) Quando confessamos no culto de adoração, as orações de confissão são convidativas. Desta vez, você tem a oportunidade de “detalhar” a sua confissão sincera de pecados:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos” (Salmo 139.23).

Por vezes confessamos honestamente, mas ainda inadequadamente. Se confessamos um pecado na quarta-feira, não devemos confessar o mesmo pecado no domingo. Mas, se pecamos gravemente na quarta-feira, as chances de que ainda não nos entendemos completamente são muito grandes. Podemos pensar que tudo acabou simplesmente porque arrancamos aquele carrapicho do nosso quintal quando na verdade a vontade de Deus era que aquele velho toco de jaqueira fosse extraído.

5) Quando confessamos no culto de adoração, estamos pegando os retardatários. Embora devamos confessar nossos pecados imediatamente, é fato que nem todos o fazem. É uma vergonha cristãos deixarem para o domingo o que deveriam ter feito imediatamente.

Na verdade, o fato de muitos crentes chegarem sistematicamente atrasados e justamente no momento da confissão de pecados revela muitas coisas. Contudo, é uma pena ainda mais grave ser convocado e cutucado domingo após domingo e mesmo assim, adiar novamente a confissão de suas transgressões.

“Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto, onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as minhas obras por quarenta anos. Por isso, me indignei contra essa geração e disse: Estes sempre erram no coração; eles também não conheceram os meus caminhos” (Hebreus 3.7).

Um modelo de oração de confissão

“Senhor Deus, Tu conheces todas as coisas e conheces o meu coração. Eu sei que o Senhor me perdoou os pecados que já confessei, e eu te agradeço por isso. Rogo que Tu tragas agora à minha mente qualquer coisa que eu ainda não tenha confessado a Ti, para que eu possa fazê-lo, pois eu desejo ansiosamente confessar as minhas faltas. Se houver alguma área da minha vida em que eu esteja continuamente me enganando, eu te peço ó Senhor que a revele para mim agora. Eu te agradeço pelo perdão que prometeste e faço isso em nome de Jesus. Amém!”

Rev. Alan Kleber Rocha