Pessoas sentadas em cadeiras

Descrição gerada automaticamente com confiança média

O apóstolo Paulo queria cantar no Espírito, mas também queria cantar com a mente (1Co 14.15). De maneira semelhante, semana após semana nos reunimos para adorar a Deus o Pai em nome de Jesus Cristo, capacitados pelo Espírito de Deus. Entretanto, é importante que entendamos o que estamos fazendo e por que estamos fazendo isso. Caso contrário, cairemos em uma rotina irracional – que é bem distinta de uma rotina guiada e abençoada pelo Espírito.

Texto bíblico

Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes. Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo. Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças (Colossenses 2.4-7).

Resumo do texto

No versículo 4, o apóstolo Paulo adverte contra o poder sedutor de um certo tipo de abordagem religiosa, o tipo que sempre falha em se aproximar de Cristo. Embora Paulo não estivesse presente com os colossenses (v. 5), estava com eles em espírito. Ele se alegrou ao ver a ordem (do grego, τάξις taxis) e a natureza de sua fé em Jesus Cristo sólida como uma rocha.

A palavra τάξις (taxis) é um termo militar, e deve ser entendido como uma espécie de arregimentação. Porém, devemos notar que esta ordem era disciplinada e viva. Não era a ordem que você poderia encontrar em uma fileira de lápides, mas sim a ordem de uma tropa militar, com armas em punho. Paulo então exortou os colossenses a andarem em Cristo Jesus exatamente da mesma maneira que o receberam (v. 6), que era naturalmente, pela graça por meio da fé.

Ao fazer isso, eles seriam enraizados e edificados na fé cristã, exatamente da maneira como foram ensinados. O resultado disso, quando está acontecendo, é abundância de gratidão. Tal como acontece com todas as coisas desta natureza, medimos se está ou não acontecendo pelos frutos. Então, dito isso, por que fazemos o que fazemos na adoração? E como isso se relaciona com a adoração a Jesus Cristo?

A estrutura do nosso culto

Consideremos primeiro o esboço geral do nosso culto de adoração. Encontramos nele cinco elementos básicos:

1. Chamado à Adoração – invocamos o nome de Deus e entramos por seus portões com louvor e adoração;

2. Confissão de Pecados – nós limpamos nossos pés na porta;

3. Consagração – nos oferecemos a Deus como sacrifício vivo;

4. Comunhão – nos sentamos à mesa com nosso Deus;

5. Comissionamento – somos enviados para o mundo.

O primeiro e o último elementos “guardam” o serviço de culto:

O primeiro nos convida do mundo a nos reunir diante do Senhor para adorá-lo.

O último nos envia ao mundo para servir como embaixadores da verdadeira adoração que oferecemos.

Os três elementos centrais seguem um padrão bíblico básico de sacrifício. Na adoração da Antiga Aliança, Deus geralmente exigia três tipos de sacrifícios juntos. Quando oferecidos juntos, eles vinham nesta ordem:

Primeiro, se fazia a oferta pela culpa = confissão de pecados (Lv 17);

Em segundo lugar, vinha a oferta de ascensão ou holocausto = consagração (Lv 16.24-25);

Por último, era trazida a oferta de paz = comunhão (Dt 12.17-19).

Vemos esse padrão geral em Levítico 9 e 2 Crônicas 29.20-36.

Chamamos a adoração que segue esse padrão básico de culto de renovação pactual. Contudo, nosso relacionamento com Deus não pode expirar, como um contrato de aluguel que tem data marcada para acabar. Quando adoramos a Deus não estamos renovando nada neste sentido. No entanto, a ideia é semelhante ao ato contínuo de sentar-se à mesa para comer e beber, pois, assim como a comida e a bebida renovam o nosso corpo, buscamos a Deus em adoração para renovação da nossa mente em Cristo Jesus (Rm 12.1, 2).

Preenchendo a liturgia

Encontramos em vários lugares das Escrituras que certas práticas particulares são exigidas na adoração do Novo Pacto. Uma das coisas que fazemos, portanto, é examinar a natureza dessa prática e decidir onde ela se encaixaria melhor nessa estrutura geral. Por exemplo, a Bíblia exige a leitura pública das Escrituras na adoração:

“Até à minha chegada, aplica-te à leitura [νάγνωσις = leitura pública], à exortação, ao ensino.”

(1 Timóteo 4.13)

Então, onde vamos colocá-la? Parece se encaixar melhor no momento da Consagração.

A Bíblia nos manda cantar salmos, hinos e cânticos espirituais:

“Falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais.”

(Efésios 5.19)

Onde colocamos os diferentes tipos de canto?

Somos ordenados a ter pregação:

“Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.”

(1 Timóteo 4.2)

Onde a pregação se encaixaria?

Portanto, ao fazer isso, procuramos ser obedientes enquanto organizamos nossa adoração de forma inteligente.

Postura e comportamento

Uma tentação muito comum entre os reformados é a super engenharia dos aspectos intelectuais de nossa fé. A razão e a sistemática têm seu lugar, mas esse lugar não é todo lugar. Os reformados precisam lembrar que eles têm corpos, e que estes também estão envolvidos na adoração.

É por isso que devemos levantar mãos santas quando cantamos o Gloria Patri:

“Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade”

(1 Timóteo 2.8)

E porque devemos nos ajoelhar quando confessamos nossos pecados:

“Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou”

(Salmo 95.6)

Que para mostrar profundo respeito pela Palavra de Deus devemos nos levantar:

“Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, porque estava acima dele; abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé.”

(Neemias 8.5)

E o nosso comportamento geral deve ser de solenidade misturada com alegria:

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR.”

(Salmo 122.1)

Os ingleses tinham uma palavra para esse tipo de comportamento no culto, e é algo precisamos cultivar. Chama-se solenidade.

Um diálogo entre Deus e seu Povo

Adoração é um momento de encontro. Durante o culto, Deus fala para seu povo por meio de seus representantes ordenados (os ministros):  

1. Na leitura das Escrituras.

2. Na garantia do perdão.

3. Na pregação da Palavra.

Durante esse tempo, o povo também fala com Deus:

1. Seja por meio de seus representantes designados (os presbíteros), por meio das orações públicas.

2. Ou todos juntos com uma só voz (a congregação), por meio do canto de um hino ou salmo, como também declarando os credos ou confissões de fé.

Portanto, devemos aprender a pensar no culto como uma conversação muito ampla, com uma direção e um tema, e não como uma coleção desigual e desencontrada de artefatos espirituais aleatórios, amontoados em uma caixa de sapatos. Você não está aqui como espectador. Cristão: você não deve ir ao culto para assistir todas as suas partes como um mero espectador. Você deve ir ao culto para participar de um diálogo pactual entre Deus e seu povo.

1. No Chamado à Adoração Deus diz para seu povo: “Venha, encontre-se comigo”.

2. Então dizemos: “Primeiro, louvemos sua majestade”.

3. Tendo feito isso, Deus nos adverte através da Exortação a não nos aproximarmos dele com corações impuros.

4. Respondemos por meio da Confissão.

5. Então, Deus responde declarando que temos a Garantia do Perdão.

Este é um diálogo no qual todos os crentes são chamados a participar ativamente. Ao fazer isso, estamos participando da conversa mais importante do mundo, que é entre Deus e Seu povo.

Adoração é guerra

Por último, voltemos à nossa passagem em Colossenses. A ordem que estamos cultivando aqui não é a ordem das estatuetas de porcelana em uma cristaleira, ordenadamente arrumadas em uma prateleira. A ordem que buscamos é viva e disciplinada, a ordem de uma unidade militar bem treinada. E por quê? Porque todo Dia do Senhor nós vamos para a batalha. Mas, como povo de Deus, lutamos na terra do alto do céu.

Em nossa adoração ascendemos aos lugares celestiais e lá nos encontramos com nosso Deus (Hebreus 12.22). Porém, essa adoração celestial não é algo que de alguma forma fugiu com medo do inimigo na terra. Ao contrário disso, como o livro do Apocalipse nos revela com grande riqueza de detalhes, a adoração dos santos no céu realiza os julgamentos de Deus na terra. Os vinte e quatro anciãos adoram a Deus no céu (Apocalipse 4.10), e os sete selos são abertos no céu (Apocalipse 5.5). Contudo, isso não deixa a terra intocada ou inalterada. O que acontece no céu impulsiona o que ocorre na terra.

Como adorar a Jesus Cristo?

Adoramos a Jesus Cristo quando o magnificamos e o adoramos no desempenho de seu ofício. Isso significa que adoramos a Cristo indo por meio dele ao Pai:

“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”

(João 14.6)

Nos versículos imediatamente anteriores ao nosso texto em Colossenses, somos lembrados disso. O apóstolo Paulo queria que os colossenses fossem consolados, unidos em amor e em todas as riquezas de uma plena certeza de entendimento, para o pleno conhecimento do mistério de Deus, Cristo Jesus:

“… para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.”

(Colossenses 2.2-3)

Conclusão

“Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Efésios 2.18). Honramos ao Espírito honrando o Filho. Honramos ao Filho vindo ao Pai. Porém, quando vamos ao Pai, não deixamos o Filho para trás. Chegamos ao nosso Deus e Pai como cristãos, com o nome de Jesus Cristo em nossos lábios, “proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Apocalipse 5.12).

Em Cristo, nosso Senhor,Rev. Alan Kleber Rocha