Uma das coisas que acontece quando você se muda para ambientes reformados ou presbiterianos é que você começa a ouvir muito a palavra pacto ou aliança. E de fato isso é real pois, as Escrituras são pactuais do começo ao fim. O Antigo Testamento é na verdade o Antigo Pacto, e o Novo Testamento é o Novo Pacto.

Deus fez um pacto com Adão no Jardim, mas este transgrediu o pacto de vida (Os 6.7). Deus fez um pacto com a humanidade, prometendo não inundar o mundo novamente (Gn 9.8). Deus fez um pacto com Abraão (Gn 17.9), e estamos reunidos aqui nesta manhã porque o Deus que guarda o seu pacto mantém sua fidelidade a Abraão (Rm 4.13). O casamento é descrito como um pacto (Ml 2.14; Pv 2.17), e não como um mero contrato. Em resumo, juntos nossas vidas nesta comunidade são uma trama estreita de laços pactuais. Por essa razão, é nossa responsabilidade entender o que isso significa.

O texto

“Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho. Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para os que guardam a sua aliança e os seus testemunhos… A intimidade [assembleia] do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Salmo 25.9-10, 14).

Resumo do texto

Se precisamos aprender a julgar corretamente, isso deve começar com mansidão (Sl 25.9). Se formos mansos — ensináveis, humildes e receptivos — então Deus nos ensinará o seu caminho (v. 9). Para aqueles que aprendem o que Ele está ensinando, e que guardam sua aliança e testemunhos, todos os seus caminhos são misericórdia e verdade (v. 10). Isso nos mostra que o que aprendemos dita a maneira como o Senhor nos acompanha no caminho enquanto caminhamos até lá. Aprendemos misericórdia e verdade, e o Senhor nos mostra misericórdia e verdade à medida que andamos nesse caminho. Alguns versículos depois, nos é dito que o segredo do Senhor está com aqueles que o temem, o que acrescenta outro componente (v. 14). Devemos temer a Deus, andar diante dele em mansidão, e Ele nos cercará de misericórdia e verdade. Ele nos mostrará a sua aliança.

Títulos do pacto

Um pacto é maior que a soma de suas partes. Um pacto é mais forte do que o mero acordo que fez com que as partes primeiro a firmassem. O pacto abrange tudo e existe por direito próprio. Nossas famílias são mantidas juntas por meio de um pacto. Esta congregação é uma comunidade do pacto. Também estamos em um pacto com todos os santos em todo o mundo, e nosso Senhor Jesus Cristo ordenou que todas as semanas tomássemos o cálice do novo pacto.

Eu disse anteriormente que um pacto não é um “mero contrato”. Os signatários de um contrato podem decidir juntos que nenhum deles quer mais estar sob contrato, e isso significa que eles podem apertar as mãos e acabar com o acordo. Isso ocorre porque as partes de um contrato (mutuamente) têm autoridade sobre ele.

Mas isso não é verdade para um pacto. Um proprietário e um inquilino podem concordar mutuamente em romper um contrato de aluguel, e ninguém fez nada de errado. Em contraste, um homem e uma mulher não podem decidir que nenhum dos dois deseja mais se casar e simplesmente ir embora. Um pacto tem existência objetiva fora dos desejos atuais das partes. Um pacto é maior do que a soma total das escolhas individuais.

O pacto da graça é como a paz de Deus—ele excede todo o entendimento (Fp 4.7). Também como a paz de Deus, serve de escudo. Certos dardos malignos simplesmente não podem chegar perto de você.

Multidão de pessoas, multidão de pecados

Agora, uma das coisas que comentamos com frequência é o fato de nossa comunidade da igreja estar desfrutando de um crescimento extraordinário. Somos gratos a Deus por tudo isso e, no entanto, uma das primeiras coisas sobre as quais devemos refletir e antecipar é a probabilidade de maiores atritos e dificuldades. Por que o diabo iria querer nos deixar em paz?

“Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária” (Atos 6.1).

Uma multidão de pessoas significa uma multidão de pecados. E por que Deus está nos trazendo uma multidão de pecados? Para que nosso amor tenha algo a cobrir.

“sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados” (Tiago 5.20).

“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1 Pedro 4.8).

“O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões” (Provérbios 10.12).

O amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

(1 Coríntios 13.7)

Caridade fervorosa entre nós

Esta é a instrução expressa de Pedro para nós. A tolerância é característica da verdadeira koinonia, e nasce do amor fervoroso, floresce por causa da caridade fervorosa.

Quando um novo membro entra em comunhão conosco, ele está olhando para um grande lago de pecados e fraquezas. Não apenas isso, mas ele está trazendo alguns novos. O próximo novo membro a vir depois dele olhará para um lago considerável de pecados e fraquezas, mas que é um pouco maior agora.

Portanto, este não é um encontro em que todos nos reunimos uma vez por semana, com o acordo implícito de que todos fingiremos que ninguém nunca lutou contra nada. De jeito nenhum. Não é isso que a igreja deve ser. A comunidade do pacto não é um lugar onde ninguém peca. Tampouco é um lugar onde todos concordaram com seu pecado, entregando-se de corpo e alma a ele.

O Cristo do pacto

Disse anteriormente que um pacto tem realidade objetiva fora da vontade das partes nele. Seria mais correto dizer que essa realidade objetiva é uma das partes dele – Cristo é o Senhor do pacto. Ele é o Cabeça da igreja, a comunidade do novo pacto, mas também está envolvido em todas as nossas alianças menores, como o casamento por exemplo.

Portanto, a razão pela qual somos capazes de amar uns aos outros fervorosamente, cobrindo assim uma multidão de pecados, é porque Cristo está aqui. Porque pactualmente Ele faz novas todas as coisas.

Em Cristo, Senhor do Pacto,

Rev. Alan Kleber