(Salmo 120)

O salmo 120 inicia um grupo de salmos conhecidos como “cânticos de peregrinação” (Sl 120-134). Essa peregrinação se refere a jornada que as tribos de Israel faziam em direção a cidade de Jerusalém para adorar o Senhor.

Nesses Cânticos de peregrinação encontram-se os de lamentação individual e coletiva, os de confiança, os hinos de ação de graças, um cântico que celebra Sião, os de
sabedoria, um salmo régio, e um salmo para uma ocasião litúrgica.

O salmo 120 é um lamento individual entoado por alguém que, possivelmente, estava vivendo distante de Israel, como indica o v. 5; ou, como afirmam alguns teólogos, estava vivendo “entre lobos em seu próprio país”.

Neste cântico, o salmista recorda uma experiência passada (v.1), descreve o motivo de seu clamor (vs. 2-4), e finaliza falando de sua preferência pela paz (vs. 5-7).

1. Recordação da experiência passada (v.1)

No hebraico o verbo clamar está no passado, e por isso deve ser traduzido clamei, pois o salmista recorda uma experiência passada. De modo resumido, o salmista diz qual foi sua condição (angústia), como reagiu a essa situação (clamou), e o resultado de sua atitude (Deus ouviu o seu clamor). Essa experiência do salmista o encorajou a clamar em oração ao Senhor sempre que fosse necessário.

O cristão é um peregrino nesse mundo rumo a Jerusalém celestial, e nessa peregrinação, ele passa por diversas angústias. O crente lembra que o Senhor já o livrou da maior de todas as angústias, a da condenação eterna, pois quando convencido de seu estado de pecado e miséria, clamou ao Senhor, e foi ouvido, sendo salvo dos tormentos terríveis e intermináveis do inferno.

Por isso, confiadamente, o crente continua clamando ao Senhor para livrá-lo das angústias circunstanciais nesse mundo, nas quais eles recordam de seus clamores passados, os quais foram ouvidos pelo Senhor, e por isso, se sentem estimulados a clamar continuamente ao seu Deus, convictos de que ele ouve o clamor de seu povo. Portanto, clame ao Senhor em suas angústias com a convicção de que ele atende o seu clamor.

2. O motivo do clamor (vv. 2-4)

Nesses versos, o salmista diz o que provocou angústia em sua alma – lábios mentirosos/língua enganadora, e faz um questionamento aos que se portam dessa maneira perguntando qual é a recompensa por agirem assim. O verso três se constitui em um pedido a Deus para que envie juízo sobre os caluniadores. Esse pedido “é fraseado em termos semelhantes aos juramentos hebraicos tais como ‘Deus o castigue, e o faça com a mesma severidade’ (1Sm 3.17; 20.13). No verso quatro o salmista diz qual é a recompensa para os difamadores: setas afiadas do guerreiro e brasas vivas de zimbro, o qual “é uma planta muito apreciada como combustível, visto que produz brasas que dão um calor muito intenso e duradouro.”2 Isso tem como implicação o fato de que o juízo divino é mais mortífero do que as calúnias que o salmista estava sofrendo.

O povo de Deus, em sua peregrinação, está rodeado de lábios mentirosos e línguas enganadoras. E do mesmo modo que o salmista pediu o juízo de Deus sobre os caluniadores, os crentes devem pedir ao Senhor que execute juízo sobre os que atacam o povo de Deus com difamações, pois o Senhor é o único que pode socorrer os crentes em suas angústias, dando a devida recompensa aos inimigos de seu povo. Informe ao Senhor o que está causando angústia em sua alma, e ele te socorrerá.

3. Preferência pela paz (vv. 5-7)

Nesses versos o salmista informa o conflito vivenciado por ele – ele era pela paz, mas os outros pela guerra.

“Meseque (Gn 10.2) e Quedar (Gn 10.2) é uma “refere-se aos árabes beduínos que viviam a sudeste de Damasco”, o que intensificava a angústia do salmista sentindo-se “como se estivesse vivendo entre bárbaros!1

O salmista diz que é pela paz, mas não tem sucesso em promover a paz onde está, pois os que estão a sua volta “teimam pela guerra”. Isso fazia com que ele sofresse angústias em sua alma.

Os versos 6 e 7 ilustram o contraste entre “dois grupos em sua sociedade” – incompatibilidade entre luz e as trevas.

Em sua peregrinação, o povo de Deus, a Igreja, é pela paz e prega a paz de Cristo. Mas o mundo odeia essa paz, as pessoas preferem a guerrear contra Cristo e sua Igreja. Todavia, devemos continuar preferindo a paz, pregando Cristo Jesus, o qual é a única paz que torna as pessoas aceitas diante de Deus.

Enquanto estivermos nessa jornada de peregrinação, olhemos fictamente para Jesus, pois ele peregrinou nesse mundo de trevas sendo alvo das línguas mentirosas, e sofreu os mais terríveis ataques de seus inimigos, ao ponto de o crucificarem na cruz do Calvário, onde morreu por pecadores como nós a fim de nos tornar aceitos diante de Deus.

Em sua peregrinação, Cristo sempre clamou ao seu Pai, e sempre foi ouvido. Sigamos o exemplo de nosso Senhor, e continuemos clamando a Deus em nossa peregrinação rumo a Jerusalém celestial, certos de um dia chegaremos nela, onde não haverá línguas mentirosas e nem pessoas que prefiram a guerra, mas sim a paz.

Portanto, lembre-se de suas experiências passadas e sinta-se encorajado a clamar continuamente ao Senhor, pois ele ouve o clamor de seu povo. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HARMAN, Allan. Salmos: Comentários do Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

Sociedade Bíblica do Brasil.  Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada. São Paulo, 1999.

Sociedade Bíblica do Brasil. Bíblia de Estudo Nova Almeida Atualizada. São Paulo, 2018.