O culto das igrejas reformadas foi claramente revolucionário, e ao mesmo tempo restaurador. Roland Bainton diz que Martinho Lutero provou ser “muito conservador” em assuntos litúrgicos. Ainda assim, ele viu as implicações da nova teologia desde o início, escrevendo em 1520 no famoso O cativeiro babilônico da Igreja sobre a necessidade (à luz das doutrinas protestantes) de “alterar quase toda a forma externa das igrejas e introduzir, ou melhor, reintroduzir, um tipo totalmente diferente de cerimônias.”1

Hughes Oliphant Old diz que a reforma teológica “exigiu uma reformulação da adoração”. A adoração reformada tomou a forma que conhecemos não por causa do gosto ou preferências de estilo ou etnia dos reformadores, mas por causa da teologia que estava por trás dela. O culto reformado deu expressão às convicções da teologia reformada. As igrejas reformadas propositadamente projetaram cultos de adoração que eram simples e espirituais, e que consistiam em conteúdo bíblico rico e substancial expresso através do número limitado de elementos essenciais, pois era isso que a teologia reformada exigia.

O renascimento da pregação que acompanhou as reformas do século XVI é bem conhecido. Menos amplamente reconhecidas são as outras mudanças litúrgicas que ocorreram ao lado dela. A Reforma também promoveu uma revolução e restauração litúrgica:

1. Na leitura das Escrituras

2. No louvor

3. Na oração

4. Na administração dos sacramentos

Essas revoluções litúrgicas foram acompanhadas por uma compreensão revolucionária do ministério cristão, centrado no ministério da Palavra, particularmente como lido e pregado por aqueles dotados e chamados a fazê-lo: os Ministros.

Como é que a igreja é “estabelecida em sua justa e perfeita solidez”?, pergunta João Calvino em seu comentário sobre Efésios 4:11-13. Essa obra “admirável e divina”, argumenta o reformador genebrino, “o apóstolo declara ser realizada pelo ministério externo da palavra”. Ele contrasta isso com as “revelações secretas” dos fanáticos e as “leituras particulares das Escrituras” dos orgulhosos, que pensam que “não precisam do ministério comum da Igreja”.

Segundo Calvino, de acordo com o apóstolo Paulo, “não somos propriamente unidos ou aperfeiçoados, a não ser pela pregação exterior”. Ele continua argumentando que “a igreja é a mãe comum dos piedosos, que no Senhor gera, nutre e reis e plebeus; e isso é feito pelo ministério.” Tudo isso é por ordem de Cristo e para sua glória, de quem “todo o vigor que possuímos flui para nós”.2

Nicholas Wolterstorff, afirma que os reformadores suíços “tinham uma nova visão do que deveria ser feito na liturgia e como ela deveria ser entendida”. Para ele, os reformadores suíços promoveram “a reforma litúrgica mais radical que a igreja cristã já conheceu”.3

Uma geração depois, o Diretório para o Culto Público de Deus (1645) foi produzido pelos puritanos da Assembléia de Westminster. O objetivo dos puritanos ingleses, evidente na Liturgia de Middleburg (1586), no Diretório da Assembléia de Westminster e na Liturgia Reformada ou Savoy de Richard Baxter (1661), era reestruturar o culto da Igreja da Inglaterra de acordo com o padrão das melhores igrejas reformadas fora do país.

Bard Thompson observa que “a apologética puritana estava cheia de citações às idéias litúrgicas dos teólogos reformados, e os próprios livros de serviço de culto davam testemunho, no título ou no prefácio, de que uma comunhão de adoração deveria existir entre os piedosos em casa e as Igrejas Reformadas no exterior”.4

A especulação infundada de que os puritanos ingleses não conheciam a tradição reformada continental não pode ser sustentada com qualquer credibilidade acadêmica. Os puritanos em geral, e os teólogos de Westminster especificamente, estavam em comunicação regular com os teólogos reformados continentais e trouxeram para seu trabalho um profundo conhecimento da exegese e prática bíblica, patrística, medieval e da era da Reforma.

O Diretório de Culto era um pouco mais livre na forma do que as liturgias continentais ou escocesas. Ele recomendava apenas o uso da Oração do Senhor e talvez o Credo Apostólico como itens fixos ou regulares na ordem do serviço de culto. Os autores do Diretório exortam a pregação expositiva sequencial; a lectio continua (leitura da Bíblia continuada de um capítulo de cada Testamento); canto de salmos; orações ricas da Palavra em suas expressões de louvor, confissão de pecado, certeza de perdão, intercessão e de iluminação (tudo combinado); de ação de graças e consagração, e bênção; administração “frequente” dos sacramentos da Ceia do Senhor e do batismo; e juramentos ou credos religiosos (cf. Confissão de Fé de Westminster, 21:1–5 e 22:1).

No entanto, todos os mesmos elementos podem ser identificados. Calvino, John Knox, Middleburg, Westminster e Savoy pertencem ao que Thompson chama de “a mesma linhagem”. Desde a época do Diretório de Culto, o culto reformado às vezes fez menos uso de formas fixas (entre os séculos XVII a XIX) e às vezes mais (meados do século XIX ao XX).

Por isso, a continuidade parece clara. Ela pode ser rastreada dos reformadores aos puritanos, de Richard Baxter a Charles Hodge, de Benjamin B. Warfield a Abraham Kuyper, de John Leith a Robert Rayburn e a Hughes Oliphant Old. A continuidade pode ser vista na adoração das igrejas reformadas continentais, nas igrejas presbiterianas e congregacionais de língua inglesa e em suas igrejas filhas ao redor do mundo.

Ainda hoje, o culto reformado histórico pode ou não fazer uso limitado de “formas fixas” (por exemplo, Dez Mandamentos, Doxologia, Gloria Patri, Credo Apostólico, orações escritas), mas deve ser bíblico em seus elementos e conteúdo refletindo a finalidade da obra completa de expiação de Cristo na cruz.

A defesa da forma histórica do ministério e adoração reformados é persuasiva. Não se baseia em gostos ou estilos culturalmente dependentes. Não pode ser demonstrado que depende de preconceitos ou preferências culturalmente condicionados. De fato, a defesa do ministério e adoração reformados históricos é persuasiva e convincente, enraizada nas Escrituras, na teologia e na história.

Em espírito e em verdade,

Rev. Alan Kleber

Notas:

1 Roland Bainton, Here I Stand: A Life of Martin Luther. New York: Abingdon Cokesbury Press, 1950, 339; Luther, Babylonian Captivity, 152–53.

2 John Calvin, The Epistles of Paul the Apostle to the Galatians, Ephesians, Philippians, & Colossians, trans. T. H. L. Parker, ed. David W. and Thomas P. Torrance, 1965; Grand Rapids: Eerdmans, 1976, 181.

3 Nicholas Wolterstorff, “The Reformed Liturgy” in D. K. McKim (ed.), Major Themes in the Reformed Tradition, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, 277.

4 Bard Thompson, Liturgies of the Western Church. Philadelphia: Fortress Press, 1961, 319).