Estamos no mês em que comemoramos a Reforma Protestante, e ao falar sobre esse assunto, lembramos de alguns servos de Deus que atuaram dedicadamente nesse período. Um desses homens foi o grande reformador João Calvino, o qual escreveu muito conteúdo teológico, como as Institutas da Religião, comentários bíblicos, e outros mais.

 Por seus escritos é possível tomar conhecimento do seu pensamento a respeito de alguns assuntos teológicos, e por suas ações, tomar conhecimento de suas práticas. Na sequência, a seguinte pergunta será respondida afim de tomarmos conhecimento do pensamento e prática do reformador João Calvino quanto a Missões: Qual foi o pensamento e prática do reformador João Calvino concernente ao assunto de missões?

É consensual entre os estudiosos o fato de que Calvino “nunca escreveu um tratado teológico sobre sua teologia de missões” (SIMMONS, 2005, n. p.), porém é possível ver muitas referências a isto em seus escritos, como por exemplo, em seus comentários bíblicos e nas Institutas, sua obra magna. A teologia de Calvino acerca de missões foi posta em prática quando este enviou missionários para várias partes do mundo de sua época.

Com respeito ao pensamento de Calvino sobre missões, alguns de seus comentários evidenciam sua teologia concernente a esse tema. Ao comentar o Salmo 102, ele diz:

Desta passagem somos instruídos quanto à vocação dos gentios. Porque, se Deus não nos tivesse informado neste salmo a respeito da extensão do reino de Cristo, não poderíamos hoje ser contados entre seu povo. Mas como a parede foi derrubada [Ef 2.14] e o evangelho, promulgado, fomos congregados no corpo da Igreja, e o poder de Cristo se manifesta para sustentar-nos e defender-nos. (2009-2012, p. 69).

Ao comentar a passagem bíblica do Novo Testamento, 1Timóteo 2.4, Calvino disse o seguinte:

Mas não acrescentarei a este tema nada mais, visto o assunto não ser relevante ao presente contexto, pois a intenção do apóstolo, aqui, é simplesmente dizer que nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o evangelho a todos sem exceção. Visto que a pregação do evangelho traz vida, o apóstolo corretamente conclui que Deus considera a todos os homens como sendo igualmente dignos de participar da salvação. Ele, porém, está falando de classes, e não de indivíduos; e sua única preocupação é incluir em seu número príncipes e nações estrangeiras. A vontade de Deus é que eles também participem do ensinamento do evangelho; isso é por demais óbvio à luz das passagens já citadas e de outras afins. Não é sem razão que se disse: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão” [Sl 2.8, 10]. (2009, p. 57).

Outra fonte nos escritos de Calvino em que se pode ver sua teologia de missões é em sua obra magna, as Institutas, na qual, ao falar sobre a Grande Comissão, diz:

Mas por próprio título apóstolos, isto é, enviados, eles põem à mostra quanto lhes foi permitido em seu ofício, isto é, se são Apóstolos, não falem qualquer coisa que lhes fosse do agrado; antes, levem fielmente a bom termo as ordens daquele por quem foram enviados. E são bastante claras as palavras de Cristo com as quais lhes delimitou a missão, quando lhes ordenou que fossem e ensinassem a todas as nações tudo quanto preceituara [Mt 28.19,20] (2006, p. 152).

Apesar de Calvino ser atacado por interpretar a grande comissão como se essa estivesse fazendo referência apenas ao ministério apostólico, é importante notar que “seu motivo para interpretar a Grande Comissão desta forma não era diminuir a necessidade de missões no tempo atual”, pois “ele estava lutando uma batalha diferente – a saber, a batalha contra a doutrina católica da sucessão apostólica. Calvino pretendia mostrar que o Apostolado era um munus extraordinarium [presente extraordinário] temporário que cessou após os Doze.” (SIMMONS, 2005, n. p.). Nesse contexto específico, “a Grande Comissão era trazida à discussão para argumentar contra o Catolicismo, não contra a atividade missionária” (BERG apud SIMMONS, 2005, n. p.). Isso fica ainda mais claro quando observada a prática de Calvino quanto a essa questão, pois o mesmo enviou missionários para diversos lugares do mundo de sua época.

Quanto a prática de Calvino concernente a missões, os registros históricos deixam bem claro qual o pensamento do reformador acerca de missões, pois ele externou seu pensamento na prática, quando enviou, de Genebra, missionários para vários países. Calvino “se considerava um soldado posicionado em Genebra e, ao mesmo tempo, um oficial liderando um exército europeu. […] Sua paróquia era tão ampla quanto a Europa; sua visão era direcionada, tendo a França no centro” (OBERMAN, apud LINDBERG, 2017, posição 6465-6466). A academia de Genebra era um centro de treinamento de missionários, os quais eram enviados para servirem em outros países. Isso se deu pelo fato de Genebra ter sido refúgio para muitos protestantes perseguidos em sua terra natal, como LINDBERG diz:

Quase sete mil refugiados religiosos afluíram para Genebra, atraídos pela grandeza de Calvino e movidos pela perseguição do protestantismo em sua terra. Esses refugiados vinham de quase todas as províncias da França, bem como da Inglaterra, Escócia, Países Baixos, Itália, Espanha, Alemanha, Polônia e Boêmia. Eles, ao retornar para casa, levavam consigo o calvinismo. (2017, posição 6452-6453). 

Ainda sobre o envio de missionários por Calvino e os resultados dessa ação, Lawson diz o seguinte:

Calvino enviou pastores de língua francesa aos quais ele mesmo preparou para o ministério do evangelho, de Genebra a outras províncias de língua francesa na Europa. A maioria foi para França, onde o movimento reformado crescia a ponto de abarcar um décimo da população. Eventualmente, mil e trezentos missionários treinados em Genebra foram para a França. Em 1560, mais de cem igrejas subterrâneas foram plantadas na França por homens enviados de Genebra. Em 1562, o número de igrejas se multiplicou, chegando a 2150, com mais de 3 milhões de membros. A membresia de algumas das igrejas somava a milhares. Este aumento produziu uma igreja huguenote que quase superou (overcame) a contrarreforma católica na França. Além do mais, os missionários treinados em Genebra plantaram igrejas na Itália, Hungria, Polônia, Alemanha, Países Baixos, Inglaterra, Escócia e terras do Reno – plantaram igrejas até mesmo no Brasil. (MCGRATH apud LAWSON 2013, p. 645-646).

Diante do acima exposto, ficamos informados que o pensamento e prática do reformador João Calvino concernente ao assunto de missões, foi positivo, pois, “para Calvino, o fator motivacional de missões mundiais era a glória de Deus. Quando o Evangelho é proclamado e aceito entre as nações, Deus é adorado e glorificado. Esta é a finalidade principal do homem.”

A Igreja Presbiteriana do Brasil é herdeira da Reforma, ou seja, tem no seu “DNA” o pensamento calvinista concernente a missões. Portanto, cada igreja local deve colocar em prática esse pensamento causando impacto em sua localidade, estado, nação e até mesmo em outros países.

Pela graça e para a glória de Deus, a Igreja Presbiteriana de Aracaju tem atuado nessas instâncias, pois, atualmente tem um trabalho de plantação de igreja em sua localidade, apoia financeiramente um trabalho missionário no Amazonas, e também tem contribuído com a obra missionária em outros países como, por exemplo, o Guiné Bissau.

Portanto, continuemos proclamando o Evangelho para a glória de Deus, pois somente a ele a glória (Soli Deo Gloria).

Em Cristo,

Rev. Élisson Oliveira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALVINO, João.  As Institutas, vol. 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

CALVINO, João. Série Comentários Bíblicos Salmos. São José dos Campos, SP: Fiel, 2009–2012. Vol. 4

CALVINO, João. Série Comentários Bíblicos: Pastorais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2009.

LAWSON, Steven J. Pilares da Graça (AD 100–1564). São José dos Campos, SP: Fiel, 2013. Vol. 2.

SIMMONS, Scott J. João Calvino e Missões: Um estudo Histórico. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_missoes_scott.htm Acesso em: 27agosto 2021.