A parábola do julgamento indispensáveltambém está dentro do Sermão do Monte, no que se refere ao seu contexto maior, e com respeito ao seu contexto imediato, ela forma um quadro de equilíbrio juntamente com os cinco primeiros versículos do capítulo sete, como bem afirmou Stott: “O contexto apresenta um equilíbrio saudável. Se não devemos julgar os outros, encontrando falha neles de uma forma crítica, condenável ou hipócrita, também não devemos ignorar suas falhas e fingir que todos são iguais. Devemos evitar ambos os extremos. Os santos não são juízes, mas, como disse Spurgeon, ‘os santos não são simplórios’ também.”

O texto bíblico diz: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem” (Mt 7.6).

Os animais citados por Jesus nessa parábola, eram animais cerimonialmente impuros, conforme afirmam os seguintes textos: “Todo animal quadrúpede que anda na planta dos pés vos será por imundo” (Lv 11.27), e: “Também o porco, porque tem unhas fendidas e o casco dividido, mas não rumina; este vos será imundo” (Lv 11.7).

Ao prosseguirmos olhando para essa parábola, vem a nossa mente a seguinte pergunta: O que significa dar aos cães o que é santo? Essa expressão se refere aos sacrifícios realizados no templo, pois “os judeus (os primeiros ouvintes deste sermão) nunca ofereceriam comida que viesse de um sacrifício do templo (alimento sagrado) a um cão.” O texto bíblico também responde outra pergunta, que é a seguinte: O que quer dizer lançar aos porcos as vossas pérolas? Isto quer dizer que os judeus “nunca imaginariam pegar pérolas caras e atirá-las em um chiqueiro. Os porcos tentariam comer as pérolas e, vendo que não eram comestíveis, simplesmente as afundariam na lama e talvez até se voltassem para atacar a pessoa que lhes ofereceu as pérolas.”

A aplicação é a de que estes animais “simbolizam as pessoas que respondem à inestimável mensagem do reino de Deus (Mt 13:45, 46) com uma incredulidade inflexível”, sendo assim, “os mensageiros de Jesus devem discernir quando sua mensagem do evangelho encontra resistência obstinada”. Sobre isso o Senhor Jesus disse: “Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés” (Mt 10:14), e mais: “Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (‌Mateus 15.14). Este ensino de Cristo foi posto em prática por seus seguidores, como nos informa o livro de Atos: “No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna. E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região. Mas os judeus instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território. E estes, sacudindo contra aqueles o pó dos pés, partiram para Icônio” (At 13.44-51).

Diante do acima exposto, fica evidente que devemos seguir o caminho do discernimento, a fim de evitarmos os extremos: a condenação hipócrita e o ser simplório. A seguinte citação é muito útil concernente a este assunto:

“Nosso testemunho cristão deve ser conduzido com discernimento. Se as pessoas têm tido muitas oportunidades para ouvir a verdade, mas se recusam a responder a ela, insistem em dar as costas para Cristo, e se apresentam como cães e porcos, não devemos insistir com elas. Se fizermos isso, barateamos o evangelho de Deus, permitindo que elas pisem nele. Algo pode trazer mais condenação a uma pessoa do que confundir a pérola preciosa de Deus com uma coisa sem valor e afundá-la na lama? Ao mesmo tempo, desistir das pessoas é um passo muito sério a ser dado. Este ensino de Jesus é apenas para situações excepcionais. Nossa resposta cristã normal é sermos pacientes e perseverarmos com os outros, como Deus pacientemente tem perseverado conosco.”

Que o Senhor nos conceda tal discernimento.

Em Cristo,

Rev. Élisson Oliveira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Stott, John & Douglas Connelly. 2018. Lendo o Sermão do Monte com John Stott (Lendo a Bíblia com John Stott). (Trans.) Valéria Lamim Delgado Fernandes. Primeira edição. Viçosa, MG: Ultimato.