Em Memória do  

Diácono Roberto Oliveira

(*22.02.1941 – †16.03.2024)

O Dc. Roberto Oliveira faleceu no último dia 16 de março com a idade de 83 anos. Ele foi um homem preeminentemente útil no reino de Deus. Ele era um cristão temente a Deus, pai e avô de família dedicado, diácono trabalhador e um patriota. Tive o privilégio de tê-lo como companheiro de visitação por mais de 10 anos e posso afirmar que, de todos os oficiais que serviram comigo na IPA ao longo de quase duas décadas, ele estava entre os mais firmes e leais, para não mencionar perseverante e dedicado. Ele era convicto em sua compreensão da verdade evangélica e um homem verdadeiramente humilde. Sempre que você perguntava a ele como estava, sua resposta padrão se tornava uma palavra de observação entre nós — “Melhor do que eu mereço”, ele respondia.

Uma das coisas que aprendemos nas Escrituras é o fato de que faz parte da sabedoria estar atento à sua própria mortalidade. Esta é uma das funções importantes dos funerais e serviços memoriais. Não apenas honramos os falecidos, como foi feito no sepultamento do irmão Roberto com muita tristeza e comoção, mas também levamos em conta o fato (e talvez lutemos contra este) de que estamos todos na mesma condição; somos todos mortais.

E é assim que a Escritura diz:

“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria” (Eclesiastes 7:2–4).

Agora, isso não é um requisito para sermos mórbidos, mas é um padrão que nos convoca a estar atentos. Conscientes, não mórbidos. Esta é uma jornada em que todos nós estamos. Alguns não acreditam que seja uma longa jornada – eles sentem que a única jornada é aqui e agora nesta vida, e quando morremos, a jornada está terminada. Segundo eles, a jornada acabou porque nós terminamos. Outros – entre eles os escritores da Bíblia – ensinam que a morte é um ponto de partida, mas nunca uma cessação. Não deixamos de existir quando morremos, mas nos encontramos entregues nas mãos de Deus. Segundo a Bíblia, quando morremos, deixamos um lugar para ir para outro.

Entretanto, mesmo esta forma de colocar as coisas não expressa completamente a realidade – porque estamos, todos nós, nas mãos de Deus agora. Acontece que a morte torna esta realidade impossível de ignorar, e é por isso que faz parte da sabedoria preferir a casa do luto à casa dos bobos e comediantes. A verdadeira questão que nos confronta, ou que nos confrontaria se prestássemos atenção, é esta: Que tipo de pessoas estamos nos tornando?

Há pouco, me referi ao fato de que na morte (de uma forma inequívoca) somos entregues nas mãos de Deus – vamos ao encontro do nosso Criador. Quando começamos a lidar com isto, a nossa tendência natural é recorrer a uma metáfora contabilística – com virtudes numa coluna e pecados noutra, e uma esperança fervorosa de no final não sairmos no vermelho.

Mas, a analogia da contabilidade não serve nesse caso. Se Deus assinalasse as iniquidades, como diz o salmista, quem poderia resistir? (Salmo 130:3). Se Deus dissesse a qualquer um de nós que Ele pretendia passar um pente fino em nossas vidas, creio que a reação universal a isso seria algo como: Oh, não! Nada além de tinta vermelha estaria em nosso livro caixa.

Então, se não for a abordagem da contabilidade – porque todos os seres humanos seriam reprovados nesse tipo de auditoria – então que tipo de abordagem deveria ser? A questão é que tipo de pessoa estamos em processo de nos tornar. Sem Cristo, sem a bondade e o perdão de Deus em Cristo, todos nós começamos de uma posição miserável e progressivamente pioramos as coisas. Estamos nos tornando mais egoístas, mais egocêntricos e investindo mais consistentemente em nós mesmos. Deixados por nossa própria conta, queremos nos tornar o tipo de criatura totalmente errada.

Mas quando Deus intervém, quando Ele amolece os nossos corações, torna possível começarmos a caminhar numa direção diferente. Quando isso acontece, o processo de transformação tem um plano a seguir. Nesse ponto, o padrão ao qual estamos sendo conformados é o padrão estabelecido na vida de Jesus Cristo. No entanto, só é possível que a vida de Jesus crie raízes em nossa vida se a sua morte já tiver criado raízes em nós. É disso que se trata a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus. A sabedoria nos orienta a parar de tentar nos salvar e simplesmente olhar para Cristo. Ela nos convoca a não fazer nada menos do que isso, e também nos convoca a não fazer nada mais do que isso.

Talvez você já passou algum tempo sentado em uma cadeira em um jardim em frente da praia, olhando as ondas que batem nela, e sabe com que regularidade monótona (e reconfortante) as ondas atingem a areia. Mas, seria realmente estranho para seus amigos se você apontasse para a onda número 404 a ser atingida e tentasse convencê-los de que ela era, de alguma forma, verdadeiramente única. A repetição é pronunciada demais para dizer algo assim.

Desde o início da história humana, cada geração tem sido uma onda que toma forma, ganha força, atinge a areia e recua lentamente. É simplesmente assim que as coisas são. Não devemos ficar surpresos com isso, e todos aqui fazem parte de uma onda que se forma – seja esta, ou a próxima, ou talvez a seguinte. E embora a nossa mortalidade signifique que somos tão transitórios como uma onda, temos de nos lembrar que Deus é imortal. Ele é eterno. Ele é imutável – o Pai das luzes, sem variação ou sombra de mudança.

O Senhor Javé não é como uma onda transitória. E este Deus imutável é justo, gentil, misericordioso, santo, amoroso, sábio e bom. Como Abraão disse há muitos séculos atrás, lhe suplicando em nome da ímpia cidade de Sodoma, “não fará o que é certo o juiz de toda a terra?”, o Senhor certamente o fará. Ele não fará nada além da sua vontade, nada contra ela. Certamente podemos confiar Nele. Podemos confiar no Senhor para tudo. Podemos confiar Nele enquanto estamos aqui, na casa do luto. Ele nos convida a entregar nossas dores, nossas angústias e nossas tristezas a Ele. Quando fazemos isso, através do sangue de Jesus Cristo, e como o texto disse anteriormente, o nosso coração fica feliz.

A vida do Dc. Roberto foi um testemunho do poder da graça de Deus, mas a graça de Deus é muito mais poderosa do que às vezes assumimos. Ela levanta os indignos do atoleiro. E quando os indignos são levantados, eles sempre podem se gloriar no fato de que Deus os deu muito mais do que merecem. Mas, a graça de Deus não se limita a tais missões de resgate. A graça de Deus vem aos imerecedores, perdoa e restaura-os, faz com que eles percebam o quão indignos são, e então a graça de Deus avança para torná-los dignos de serem chamados filhos de Deus. Talvez, o mais difícil para alguém que passa tanto tempo servindo a uma igreja é ver os seus amigos partindo antes de você. Chegou o dia em que velho marinheiro Roberto experimentou recuar da sua existência no mar revolto dessa vida, e eu confesso que sentirei muito a sua falta. Descanse em paz meu querido irmão, e até breve!

Nele, a ressurreição e a vida,

Rev. Alan Kleber