Os credos são instrumentos importantes para a consolidação e promoção da fé cristã. O conceito de credos surge nas próprias Escrituras. Certamente nenhuma lei nas Escrituras ordena explicitamente “Estruturarás credos”. No entanto, o ímpeto e o mandato para os credos derivam de boas e necessárias inferências deduzidas das Escrituras.

Podemos demonstrar isso de diversas maneiras, três das quais serão suficientes para o nosso propósito atual:

1. Em primeiro lugar, o apelo bíblico para um testemunho público da fé serve como o principal impulso para a criação e uso de credos.

A essência do dever cristão é ser uma testemunha. Isto exige definir publicamente a identidade exata daquilo de que o cristão é testemunha:

“…mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8).

Obviamente não é possível recitar todo o registro das Escrituras numa dada oportunidade de testemunho. Além disso, somente Deus pode examinar o coração dos indivíduos para verificar sua fé mais íntima:

“Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração” (1 Samuel 16:7).

“Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus” (Lucas 16:15).

Assim, para que outros conheçam a fé pessoal de um indivíduo, é necessário colocá-la em palavras. Daí a necessidade de um credo para definir o conteúdo de sua crença.

“Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Romanos 10:10).

2. Em segundo lugar, o próprio registro bíblico acerca do cristianismo apostólico preservou pequeno credos que serviriam para formulações credais futuras por parte da igreja.

As próprias sementes de um credo mais completo foram semeadas na era apostólica através de declarações de fé que são amplamente utilizadas. Talvez o mais familiar desses credos rudimentares seja aquele recorrente incorporado em textos como Atos 10:36; Romanos 10:9; 1 Coríntios 12:3; e Filipenses 2:11: “Jesus é o Senhor”. Esta declaração eminentemente importante incorpora uma maneira particular de ver o Senhor Jesus Cristo. É fundamentalmente necessário manter como um credo: “Creio que Jesus é o Senhor”.

3. Terceiro, no registo bíblico encontramos as primeiras assembleias da igreja reformulando verdades já conhecidas para garantir a sua preservação e transmissão precisas.

Atos 15 é o locus classicus nesse sentido. Ali a Igreja reafirma a “justificação pela fé” em resposta a uma pressão cristã-farisaica que exigia a circuncisão dos gentios convertidos:

Alguns indivíduos que desceram da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão. Enviados, pois, e até certo ponto acompanhados pela igreja, atravessaram as províncias da Fenícia e Samaria e, narrando a conversão dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmãos. Tendo eles chegado a Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles. Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés. Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão” (Atos 15:1-6).

Depois de observar diversas situações assim nas Escrituras, o Rev. James Bannerman, o teólogo presbiteriano escocês do século XIX observou:

“Tais são, dentro da própria era da inspiração, os notáveis exemplos que temos da necessidade, surgindo das circunstâncias da Igreja e de seus membros, que ocorreram em diferentes épocas para reformular as doutrinas das Escrituras em um novo molde, e exibi-las ou explicá-las novamente sob formas de linguagem e expressão mais precisamente adaptadas para atender e neutralizar o erro dos tempos.”

Portanto, nós precisamos de definições credais dos ensinamentos da Bíblia porque, como afirmou Bannerman, sem elas “não pode haver entendimento comum… da fé uns dos outros e, consequentemente, nenhum acordo mútuo ou união quanto à manutenção e profissão dessa fé”. Onde não há definição, não há compreensão. Assim, o conceito acerca do uso de credos é bíblico e de forma alguma diminui a autoridade das Escrituras ou implica a sua inadequação.

Nele, a Razão da nossa fé,

Rev. Alan Kleber