– Uma Defesa Bíblico-teológica –

Foto: Uma observância sacramental presbiteriana escocesa

Amada Congregação,

Graça e paz!

Como presbiterianos, herdeiros da Reforma, sabemos que Palavra e o Sacramento andam juntos. Mas, como eles caminham juntos em nossa vida de fé?Na mente de muitos cristãos, a Palavra e o Sacramento andam juntos como cuscuz e ovos (pelo menos na mente dos nordestinos), dois elementos díspares, porém complementares, combinando-se de maneira agradável. Entretanto, talvez eles andem juntos de uma maneira totalmente diferente – uma possibilidade é que eles andem juntos mais do que cozinhar e comer cuscuz com ovos.

Antes de iniciar esta parte da discussão, vamos fingir por um momento que não temos tradições sobre a frequência da Comunhão para defender (um grande fingimento!) e que os defensores de todas as posições compartilham o mesmo ônus bíblico da prova. Sabemos do nosso dever de observar a Ceia do Senhor, mas com que frequência devemos fazer isso? Diariamente, semanalmente, mensalmente, trimestralmente ou anualmente?

Quando chegamos a esta questão, precisamos inicialmente observar que virtualmente nenhum caso bíblico pode ser tomado para sustentar a defesa de nossa prática mais comum – celebração mensal da Santa Ceia. Talvez isso seja normal para nós, pois nos acostumamos com esse tipo de frequência por conta das nossas tradições. Mas, a importância do assunto deve pelo menos despertar algumas considerações de nossa parte sobre a frequência com que participamos da Mesa do Senhor Jesus.

1. O Argumento da Comunhão anual

A Comunhão anual poderia ser defendida com base na Ceia do Senhor sendo estabelecida no contexto da Páscoa, que era uma festa anual.  Quando o Senhor Jesus disse “este cálice”, ele se referiu ao cálice da bênção na refeição pascal:

“… fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim” (1 Coríntios 11.25).

Portanto, é possível argumentar que Cristo simplesmente pretendia que esse significado simbólico da Nova Aliança fosse adicionado à celebração anual da refeição pascal. Contudo, embora seja possível que seu significado incluísse esta aplicação, a prática apostólica subsequente nos mostra que os discípulos beberam daquele cálice de bênção com muito mais frequência do que apenas uma vez ao ano.

2. O Argumento da Comunhão diária

Outra opção é a Comunhão diária.Nos dias agitados após o Pentecostes, os crentes partiam o pão diariamente e de casa em casa:

“Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração” (Atos 2.46).

A forma como Lucas usa essa frase, quase certamente se refere à Ceia do Senhor. Disto aprendemos que, se a comunhão diária não é normativa, pelo menos é lícita. A conclusão é que a Ceia do Senhor não deve se restringir ao Dia do Senhor, podendo ser celebrada em culto de ação de graças por exemplo.

3. O Argumento da Comunhão semanal

Depois que a situação se estabilizou, podemos ver a prática da igreja antiga, se estabelecendo a longo prazo:

No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite” (Atos 20.7).

Note que eles se reuniram no Dia do Senhor, e o fizeram com o propósito de partir o pão. O apóstolo Paulo assume o mesmo tipo de situação em Corinto:

20 Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis.

21 Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague.

1 Coríntios 11.20–21

Quando a igreja de Corinto se reunia, não era para comer a Ceia do Senhor, embora isso fosse o que eles pensavam estar fazendo.Em outras palavras, a Ceia do Senhor estava sendo abusada em Corinto semanalmente. (E, como mostram estudos detalhados das palavras gregas por parte dos abstêmios, os abusos tinham ido tão longe que os crentes de Corinto estavam começando a agir como tolos por beberem muito suco de uva).

O texto de 1 Coríntios sugere que os cristãos daquela igreja se reuniam semanalmente a fim de comer a Ceia do Senhor, mas por conta de seu mau testemunho estavam fazendo mais mal do que bem. Em outras palavras, eles se reuniam semanalmente no Dia do Senhor para adorar a Deus, e isso incluía tudo aquilo que faz parte do culto solene. Nessa mesma carta vemos ainda outro exemplo de que suas reuniões eram semanais:

1 Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia.

2 No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.

1 Coríntios 16.1–2

Portanto, é justo dizer que a comunhão semanal, embora não seja obrigatória em nenhum sentido absoluto, é biblicamente normativa. O fato é que temos tantas evidências para a comunhão semanal no Dia do Senhor, por exemplo, quanto temos para nos reunir no Dia do Senhor para fazer qualquer outra coisa. Temos mais evidências para a comunhão semanal do que para sermões semanais, orações semanais ou cânticos semanais. Mas, por que escolher? Por que não fazer tudo aquilo que é meio de graça dado por Cristo a seu povo pactual?

Aplicações Práticas

Isso nos leva a considerar a teologia do culto e a questão inicial de como a Palavra acompanha o sacramento. Sabemos que o sacramento é um sinal e um selo das promessas do Pacto:

“E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça” (Romanos 4.11).

1. Sempre que pensamos nas coisas que selamos, devemos notar algo sobre a ordem natural destas coisas.

Escrevemos a carta e selamos o envelope. Negociamos o contrato e, em seguida, o selamos com assinaturas. O casamento é realizado primeiro e selado sexualmente na noite de núpcias. Em suma, o que sela segue o que foi realizado. Portanto, um selo é por sua própria natureza, uma culminância, a confirmação de um relacionamento pactual.

2. Nas orações, salmos e sermões de um culto de adoração, os termos do pacto são louvados, anotados, explicados e reconhecidos.

No sacramento da Ceia do Senhor, o pacto é selado, e porque este sacramento (ao contrário do batismo) é repetitivo, cada selagem é uma renovação pactual.

Conclusão

Diante disso, por que desejaríamos outra coisa senão um culto de comunhão semanal como o ponto culminante da nossa adoração? Já vimos que esse era o padrão geral na época dos apóstolos, e a lógica teológica aponta na mesma direção.

Nos reunimos em nome de Cristo, reunidos como Seu povo. Apresentamos a Ele nossos louvores e orações, salmodiamos e cantamos a Deus Pai em Seu nome, ouvimos Sua Palavra proclamada e então, da forma mais natural, nos sentamos com Ele à Mesa. O pacto é explicado quando falamos. Mas não se renova quando falamos. Isso ocorre quando tomamos e comemos.

Portanto, seja bem-vindo à Mesa do Senhor!

Em Cristo, Senhor dos Pactos,

Rev. Alan Kleber