No inverno do ano de 1915, a 06 de julho, nascia na cidade de Estância-SE, no lar de João Febronio de Andrade e Rachel David de Andrade, uma criança que recebeu o nome de Zélia Andrade, a primeira de quatro irmãs.
Nasceu em um lar arejado pela graça do Evangelho de Jesus. Seu avô, o Sr. Manuel Antônio dos Santos David, está nas páginas da História do Protestantismo de Laranjeiras como o primeiro cristão daquela cidade. Em Laranjeiras foi onde iniciou o presbiterianismo, e, por que não dizer, o Evangelho em terras sergipanas.
Herdeira de uma riqueza espiritual assim, Zélia Andrade viveu desde cedo à fé cristã, em dias verdadeiramente difíceis para o testemunho cristão. Os “bodes”, assim eram chamados os protestantes, viviam sob as constantes ameaças e perseguições promovidas pelo romanismo, que tinha em Frei Damião, o seu principal líder.
Uma rápida conversa sobre o passado da irmã Zélia, deságua nessas lembranças nada agradáveis, porém, muito edificantes. No enredo de sua história sobe a fumaça de bíblias que foram queimadas, de templos cercados pelos inimigos da fé e de dificuldades sem conta para impedir a pregação do Evangelho da Graça de Deus. Essas dificuldades jamais foram motivo para medo, desestímulo ou desistência. Muito pelo contrário! Conta com viva expressão de satisfação a obra de evangelização que realizava com os irmãos daquele tempo. Discorre sobre as léguas caminhadas para participar dos cultos de pregação nos povoados mais próximos.
Foi batizada quando criança no dia 14 de janeiro de 1917. Ocelebrante foi o Rev. Harold Charles Andersen. O aprendizado das primeiras letras se deu com a profª Penelope Magalhães dos Santos, esposa do Rev. Antônio dos Santos. Sua profissão de fé aconteceu no dia 10 de setembro de 1935, aos 20 anos, ministrado pelo Pastor Alfeu Barra de Oliveira, na Igreja Presbiteriana de Estância. O hino entoado em sua profissão de fé foi o de nº 108: “Se paz a mais doce”.
No dia 20 de fevereiro de 1936, conheceu e casou-se com um jovem de nome Edison Freire da
Costa. Um dos hinos entoados em seu casamento do qual nunca se esqueceu foi: “As tuas mãos dirigem meu destino”. O celebrante das núpcias foi o Rev. Alfeu que ministrara a sua profissão de fé um ano antes. Seu esposo também se dedicou ao Evangelho de Cristo, dedicando-se à pregação da Palavra, substituindo o pastor em sua ausência. Foi por muitos anos presbítero e tesoureiro da Igreja Presbiteriana de Aracaju.
Zélia e Edison tiveram uma longa vida conjugal de 54 anos. Desse casamento nasceram 08 filhos. Sete ainda vivem espalhados em algumas cidades de nosso país. São eles: Eudaldo, Gilvane, Marilene, Mércia, Nilza, Raquel e Paulo. Atualmente conta com uma descendência de 17 netos e 28 bisnetos. No dia 05 de setembro de 1990 o irmão Edison foi morar no céu.
D. Zélia destacou-se ao longo de sua vida como uma serva fiel. Desde menina sempre desempenhou atividades relacionadas com o reino, principalmente no evangelismo.
O culto sempre foi um ato sério ao longo de sua vida. Até há pouco tempo atrás, costumava anotar em, um caderno, os sermões proferidos pelos pastores que dominicalmente ouvia.
Como todo bom cristão aprendeu também a hospedar com alegria os irmãos de fé. Reconhecidos servos do Senhor também já se beneficiaram de tal cordialidade. Eis alguns: Alfeu Barra de Oliveira, Heinz Neuman, Aristeu Pires, Eudaldo Lima, Etinatan Pinto Bandeira, Sebastião Gomes, Milton Ribeiro, Alcides e José Costa, etc. Vários desses irmãos já estão morando no céu.
Durante a Segunda Guerra Mundial a situação financeira da família foi atingida, surgindo daí, a necessidade de se transferirem para a cidade de Aracaju. Isso aconteceu no ano de 1953.
Na capital, empenhou-se junto com o esposo na preparação dos filhos para a vida, procurando dar boa formação educacional e moral. Como bons servos de Deus também não se esqueceram de transmitir o Santo Evangelho do Senhor Jesus. Os filhos cresceram, trabalharam, e honraram o carinho e esforço recebidos dos pais.
Em Aracaju passou a frequentar a Igreja Presbiteriana de Aracaju. No dia 24 de junho de 1956 foi recebida por jurisdição com toda a sua família.
Recordava que seu esposo foi eleito Presbítero Emérito e que por muitos anos desempenhou fielmente o cargo de tesoureiro. Um de seus filhos, Eudaldo, é presbítero emérito da Igreja Presbiteriana da Bahia. Um de seus netos é presbítero da Igreja Presbiteriana Metropolitana do Stiep na Bahia. Outro é diácono daquela Igreja. Paulo Edison, o último dos filhos, foi eleito diácono pela Igreja Presbiteriana de Aracaju.
A irmã Zélia sempre apreciou muito a leitura da Palavra. Dois Salmos atraiam a sua atenção para reflexão: são os salmos 139 (Senhor, tu me sondas) e o 23 (O Senhor é o meu pastor).
É mais do que lógico e compreensível que não poucos foram os dias de sua luta. Viveu, lutou, e venceu. Perseverou na fé que vê o invisível. Firmou-se nos passos do autor e consumador desta mesma fé. De Jesus jamais se afastou.
Faleceu aos 97 anos de vida, bem vividos na presença do Senhor. Dela também se pode dizer que combateu o bom combate. Completou a carreira que lhe foi proposta. E guardou a fé no Unigênito Filho de Deus. Acompanhada de suas irmãs Zilda (in memorian) e Zelinda e da filha Nilza, sempre esteve presente na congregação dos santos. Seu testemunho de fé é uma inspiração e um incentivo para a geração dos mais novos. Esta é mais uma história de vida real. E assim vai Deus escrevendo Sua História na história de nossa vida.
Pr. Franklin Ribeiro Dávila
Gotas de Vida 5
Encarte do Boletim Informativo de N° 366/ 21.02.1999
Igreja Presbiteriana de Aracaju
Adaptado por ocasião de seu ofício fúnebre 05.06.2013