Crescimento Evangélico no Brasil: verdadeiro ou falso?

Metade do Brasil será evangélica

Este foi o título do artigo publicado pela Revista Época em junho de 2009. Baseando-se em uma estimativa feita pela SEPAL, Época informou aos seus leitores que até 2020, 50% da população brasileira será evangélica. Segundo a revista, os benefícios para o país como resultado do milagre da multiplicação dos evangélicos contribuiria pelo menos para três coisas: (1) a diminuição do consumo de álcool e drogas; (2) o aumento da escolaridade, uma vez que desde pequenos os filhos dos crentes são ensinados a ler a Bíblia; e (3) a diminuição de lares desfeitos, porque a família é prioridade para esse segmento.

De acordo com o IBGE, o número de evangélicos no Brasil aumentou 61,45% em 10 anos, segundo dados do Censo Demográfico divulgado nesta sexta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2000, cerca de 26,2 milhões se disseram evangélicos, ou 15,4% da população. Em 2010, eles passaram a ser 42,3 milhões, ou 22,2% dos brasileiros. Em 1991, o percentual de evangélicos era de 9% e, em 1980, de 6,6%. Tal percentual será bastante significativo, pois, não faz muito tempo, dificilmente encontraríamos dois evangélicos na mesma sala de aula, universidade, trabalho, governo, etc.

Como a representação evangélica em nosso imenso país sofre variações, esses dados parecem pouco prováveis em nosso dia a dia. Entretanto, em eventos de grande repercussão como grandes concentrações e shows gospel, tais números de fato se tornam reais. A Marcha para Jesus é um bom exemplo disso. Na edição deste ano da Marcha em São Paulo, cerca de dois milhões de evangélicos seguiram o trio elétrico liderado pelo casal Estavam e Sônia Hernandes da Igreja Renascer em Cristo. Isso mesmo. Milhões de evangélicos seguiram o casal que em 2007 estava detido nos EUA por tentar burlar as leis americanas escondendo dólares dentro de uma Bíblia. Eles oravam, cantavam e dançavam movimentados por artistas gospel, declarando que o Brasil é do Senhor Jesus.

O Brasil é do Senhor Jesus! Mas, será que é mesmo?

Embora esses números pareçam reais, infelizmente não refletem a realidade dos fatos. Como assim? A razão é pura e simples: para Deus números quantitativos nem sempre implicam resultados qualitativos.

Época atribui a flexibilização da verdade como fator preponderante para o assustador crescimento dos evangélicos brasileiros. Isso deveria nos deixar de orelha em pé. Os cristãos se tornaram menos rígidos e mais tolerantes aos valores do mundo. Cristo deixou de ser o Redentor que conduz o pecador aos Céus transformando-se no servo pronto a atender as exigências consumistas dos crentes famintos por prosperidade material. Qualquer semelhança com João 6.22-71 não é mera coincidência!

Cristianismo sem Cristo

Na realidade, o afrouxamento da verdade está produzindo um cristianismo sem Cristo, outra religião totalmente diferente do evangelho. Veja só:

(1) Se o crescimento evangélico no Brasil contribuirá para a redução do consumo de álcool e drogas, por que muitos crentes testemunham sua conversão, mas não abandonam os seus antigos vícios? As celebridades, por exemplo, afirmam ser evangélicas, mas não mudam de vida, praticando os mesmo vícios. “O que eu faço não tem nada a ver com a minha religião”, elas dizem.

(2) Se o crescimento evangélico no Brasil contribuirá para a redução do número de divórcios, por que o número de divórcios cresce entre os cristãos brasileiros? Por que os pastores e membros de igreja casam e “descasam” sem nenhum temor a Deus, adulterando abertamente? Por que o sexo antes do casamento é livremente praticado por muitos jovens e moças? Por que todos pregam, ensinam, evangelizam, dirigem grupos de louvor como se nada tivesse acontecido. Definitivamente isso não é priorizar e preservar os valores bíblicos para a família. Ou você acha que é?

(3) Se o crescimento evangélico no Brasil contribuirá para o aumento da escolaridade (i.e, educação, civilidade), por que o índice de analfabetismo bíblico nas igrejas é tão grande? Por que os evangélicos não influenciam, mas são influenciados? Por que os políticos se corrompem e ainda oram guardando em suas cuecas e meias o dinheiro público desviado? E mesmo quando são desmascarados e processados, se defendem dizendo que estão sofrendo por Jesus Cristo?

Perceba que o abandono da verdade, que é a Palavra de Cristo, não produzirá verdadeiros seguidores do evangelho. Por essa razão o fraco impacto espiritual e moral do evangelho em nossa sociedade é terrivelmente assustador.

E a Bíblia com isso?

Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu um mandamento: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). Mas, de que maneira devemos evangelizar ou proclamar o Reino de Deus? Declarando palavras de ordem em shows gospel ou Marchando para Jesus? Recebendo supostas curas e bênçãos de artistas que se apresentam como “profetas” modernos? Abrindo as portas para o mundo e absorvendo seus ímpios valores? Absolutamente, não! Cristo nos disse, façam discípulos (cristãos ou evangélicos) “… ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 8.20). A teologia reformada chama isso de cristianismo experimental. A credibilidade do evangelho depende do nosso testemunho (cf. Cl 4. 5-6).

Os nossos governantes, vizinhos, parentes e amigos, somente compreenderão o verdadeiro sentido da vida, da paz e alegria cristã, se forem ensinados (evangelizados) segundo a Palavra de Deus a mudarem de vida, arrependendo-se de seus pecados e crendo no Redentor. Enquanto o Evangelho não for ensinado com fidelidade, a Igreja se misturar politicamente com o Estado em busca de favores e poder, o analfabetismo bíblico for crescente, falsas doutrinas produzirem falsas conversões, o povo evangélico brasileiro será como uma árvore oca, sem frutos, fundamentos ou raízes. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama, disse Jesus (Jo 14.21). O puritano Matthew Henry disse que “a maior prova de nosso amor a Cristo é a obediência às leis de Cristo… O amor é a raiz; a obediência é o fruto”.

Concluindo, não devemos ser contrários ao crescimento numérico da Igreja, pois inúmeras passagens bíblicas e a própria história demonstram que quando o evangelho foi pregado com fidelidade muita gente se converteu de verdade, abandonando suas antigas práticas e influenciando (não sendo influenciado) todos ao seu redor. Contudo, compete à Igreja plantar e regar, isto é, cumprir a ordem de Jesus fazendo discípulos, lembrando sempre que o verdadeiro e substancial crescimento é dado pelo Senhor (1Co 3.6,7). “Em qualquer avivamento bíblico, eleva-se o padrão; ele não fica suspenso enquanto outro tipo de cristianismo é introduzido” (Iain Murray).

Alan Kleber

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