“Fazendo um retrospecto de minha própria vida durante o ano que agora se encerra, tenho de condenar-me. Posso indicar algum trabalho que foi da melhor maneira que pude; mas será que progredi na direção do céu? É aqui que me sinto em falta. Não posso ir além da prece do publicano: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” Será sempre assim comigo? A própria pressão e atividade da vida exterior têm empanado a minha comunhão com Aquele para quem esses serviços são feitos. Quantas vezes minhas devoções são formais e apressadas, ou perturbadas por pensamentos de planos para o dia! E pecados muitas vezes confessados e lamentados têm mantido seu poder sobre mim. Quem me dera um batismo de fogo que consumisse minhas escórias; quem me dera um coração totalmente de Cristo” (O DIÁRIO DE SIMONTON: 2002, p. 174).

Amada Congregação,

Amanhã, dia 12 de agosto, presbiterianos de todo o Brasil comemorarão os 160 anos da chegada do pioneiro do presbiterianismo brasileiro, Rev. Ashbel Green Simonton (12.08.1859). Somos convidados à gratidão, bem como a uma urgente reflexão. Se no passado, sendo tão poucos, nossos pioneiros fizeram tanto pelo reino de Cristo em nosso país, não podemos negar que hoje somos “muitos”, mas, temos feito tão pouco pelo avanço do Evangelho.

Basta olhar para nossa própria herança histórica e logo perceberemos isto. Ashbel Green Simonton tinha apenas 26 anos quando chegou ao Brasil (solteiro e sozinho) no dia 12 de agosto de 1859. Ele não veio em comitiva missionária. Somente no ano seguinte seu colega no Seminário de Princeton e cunhado Rev. Alexander Latimer Blackford (pioneiro do presbiterianismo sergipano) somou-se à causa, e posteriormente os Revs. Francis Schneider e George Whitehill Chamberlain (organizador da Igreja Presbiteriana de Aracaju e fundador do Mackenzie College, atual Universidade Presbiteriana Mackenzie), também se juntaram a ele.

Imaginemos todas as dificuldades enfrentadas por Simonton. Tinha dificuldades com o português, estava longe de seus parentes e amigos queridos, mas não desistiu de sua missão. Primeiro, ele começou a pregar para os estrangeiros, até que no dia 22 de abril de 1860, finalmente conseguiu dirigir o seu primeiro culto na língua portuguesa.

Desejoso de visitar a sua mãe que estava enferma viajou em março de 1862 para visitá-la, mas ao chegar nos Estados Unidos da América, logo soube que ela havia falecido. Em 19 de março de 1863, casou-se com a jovem Helen Murdoch e partiu novamente para o Brasil. Desta santa união nasceu uma menina que passou a se chamar Helen Murdoch Simonton. Infelizmente, o casamento durou muito pouco. No dia 28 de junho de 1864, nove dias após o parto, Helen faleceu com apenas 30 anos de idade. Simonton sentiu uma profunda tristeza e saudade da qual nunca se recuperou.

Mas, apesar de todas as lutas, o jovem pastor permaneceu firme no cumprimento da missão que lhe foi confiada. Simonton nos deixou um maravilhoso legado:

(1) A fundação da Primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, em 12 de janeiro de 1862;

(2) A criação do Presbitério do Rio de Janeiro, solenemente instalado no dia 16 de dezembro de 1865 na cidade São Paulo, e composto por três igrejas: Rio de Janeiro (1862), São Paulo (1865) e Brotas (1865);

(3) A criação do chamado Seminário Primitivo. Suas aulas tiveram início no dia 14 de maio de 1867 (Simonton foi um dos professores). Durou apenas três anos, mas formou os primeiros pastores nacionais: Antonio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrello de Barros Carvalhosa e Antonio Pedro de Cerqueira Leite.

(4) O lançamento do Jornal “Imprensa Evangélica” que foi o primeiro periódico protestante do Brasil durante 28 anos.

Na madrugada do dia 9 de dezembro de 1867, aprouve ao Senhor chamar o Rev. Simonton para si. Faleceu de “febre biliosa”, poucas semanas antes de completar 35 anos, na residência do seu cunhado o Rev. Blackford. Assim como o pioneiro da fé Abel, viveu aparentemente tão pouco, mas suas obras permanecem valiosas e testemunham do grande amor e graça do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Concluo, desejando que Deus conceda aos nossos jovens a mesma coragem, piedade e amor a Cristo, refletidas na vida e obra do jovem pastor Ashbel Green Simonton. Que nossa juventude seja assim como ele era:

“(…) incansável no desempenho dos seus deveres. Em muitas ocasiões pregou quatro vezes por semana, escrevendo quase todos os discursos; além disso, visitava assiduamente os membros e as famílias da congregação. Era homem simpático, caritativo e sempre acessível a todos. Nada parecia dar-lhe maior prazer do que trabalhar em benefício dos outros (…) os artigos que partiram da sua pena são notáveis pela habilidade da didática e pelo alcance das suas idéias, tanto como pela força e clareza de expressão. Seus discursos são caracterizados pelas mesmas qualidades. Como pregador tinha poucos rivais (…). Valente sempre pelas verdades que defendia, nem por isso deixava de ser benigno e tolerante para com os que discordavam de suas opiniões (…). Por sua vida irrepreensível, por seu exemplo nobre e magnânimo, e por seus escritos, ele continua pregar o evangelho, que com tanto entusiasmo folgava de anunciar enquanto vivo” (SERMÕES ESCOLHIDOS DE SIMONTON: 2008, pp. 12-13).

Que o Senhor levante novos pregadores do Evangelho, para Sua glória e avanço de Seu Reino!

Pr. Alan Kleber