Herança Reformada – A Pregação Bíblica na Pós-Reforma
O século XVII ficou conhecido como a era dos pós-reformadores. Herdeiros da Reforma Protestante, esses homens deram continuidade no ensino e promoção da pregação bíblica e reformada. Por causa de sua luta pela pureza em todas as áreas da vida cristã, os pós-reformadores na Europa Continental e Grã-Bretanha foram pejorativamente apelidados de “puritanos”.
James I. Packer acredita que “… o estilo dos sermões puritanos retrocede pelo menos até o dia, em 1519, quando Zwínglio começou a pregar, versículo após versículo, o Evangelho de Mateus, em Zurique. Mas Cambridge foi o lugar do verdadeiro nascimento desse estilo”.1
A tradição puritana quanto à pregação foi criada em Cambridge, na passagem do século dezesseis para o século dezessete, pelos líderes do primeiro grande movimento evangélico naquela universidade – William Perkins, Paul Baynes, Richard Sibbes, John Cotton, John Preston, Thomas Goodwin e outros.
A popularidade e o impacto da pregação puritana
A popularidade da pregação puritana era muito grande. Alguns estudiosos afirmam que chegava a ser espantosa. Henry Smith, por exemplo, era tão popular e sua igreja tão cheia que as pessoas levavam os seus próprios bancos com elas, ou melhor, as suas próprias pernas para ficar em pé nos corredores da igreja a fim de ouvir os seus sermões.2
A pregação dos puritanos, embora fosse profunda em seu conteúdo, era bastante popular em seu estilo. Em contraste, o estilo de pregação anglicano, na época, era muito florido e poético, sendo ineficaz na comunicação do evangelho aos ouvintes. Richard Hooker, defensor do anglicanismo chegou a ponto de admitir “… que os sermões puritanos eram mais populares do que as homilias anglicanas”.3
De modo que, um dos maiores problemas enfrentados pela igreja anglicana durante esse período foi “… a prática de andarilhar até os sermões”,4 significando que era muito comum as pessoas abandonarem as suas próprias congregações para assistir a uma vizinha que oferecia uma boa pregação, o que quase invariavelmente significava pregação puritana.
Conclusão
Através do púlpito, os pregadores puritanos influenciaram a alma de uma nação. Eles conquistaram não somente as massas como também os líderes de sua sociedade, especialmente, jovens em ascensão. A popularidade dos sermões puritanos era em parte o resultado da importância que os puritanos atribuíam à pregação em si.
Nas palavras de Richard Baxter podemos captar bem o valor que esses homens davam a pregação:
… não é coisa pequena ficar em pé diante de uma congregação e dirigir uma mensagem de salvação ou condenação, como sendo do Deus vivo, no nome do nosso Redentor. Não é coisa fácil falar tão claro, que um ignorante nos possa entender; e tão seriamente que os corações mais desfalecidos nos possam sentir; e tão convincentemente que críticos contraditórios possam ser silenciados.5
Certamente, dentre os grandes desafios enfrentados pelos pregadores fiéis do nosso tempo, encontra-se a necessidade de erudição somada à piedade, simplicidade somada à profundidade, clareza somada ao poder de convencimento. Que o Senhor Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, abençoe o seu povo levantando pregadores bíblicos e cristocêntricos!
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1James I. Packer, Entre os Gigantes de Deus – Uma Visão Puritana da Vida Cristã, (São Paulo: FIEL, 1996), 300.
2Leland Ryken, Santos no Mundo – Os Puritanos como realmente eram, (São Paulo: FIEL, 1992), 106.
3Ryken, Santos no Mundo, 103.
4Ibid, 106.
5Ibid.
Pr. Alan Kleber