Desafios Contemporâneos à Pregação da Palavra – A Falta de Confiança no Evangelho –

Introdução

O mundo em que vivemos considera tudo relativo e subjetivo. Antes de poder crer em qualquer ideia, ela deve provar ser autêntica para mim, em forma pessoal; e antes que se espere que alguém creia nela, por si mesma ela deve demonstrar ser autêntica. Até que isto aconteça não devemos nem podemos crer.  

O reflexo de homens sem temor a Deus é o desejo de emancipação de todos os princípios norteadores de uma cosmovisão onde Deus é a referência máxima. Eles trocam a verdade pela mentira, à justiça pela injustiça (Rm 1.18ss). Quando uma sociedade vive como se Deus não existisse, ela decide, legisla e lidera segundo o seu coração e não segundo a Palavra de Deus. Hoje abordaremos a quarta raiz do descrédito contemporâneo à pregação: a desconfiança do evangelho.

A falta de Confiança no Evangelho por parte da Igreja

A falta de confiança no Evangelho por parte da igreja contemporânea é entre todos os obstáculos, o mais fundamental contra a pregação reformada, visto que pregar é assumir o papel de arauto ou pregador e proclamar publicamente uma mensagem. Essa metáfora pressupõe que nos é dado algo a dizer: O arauto ou pregador depende do Kerügma (palavra grega para proclamação ou anúncio). Sem uma mensagem clara e digna de confiança, a genuína pregação se torna impossível. Contudo, é precisamente aquilo que parece faltar a igreja de nossos dias.

Não é que este fenômeno seja totalmente novo. Ao longo da história da igreja o pêndulo tem oscilado entre eras de fé e de dúvida. Por exemplo, em 1882, Macmillan publicou um ensaio de John Pentland Mahaffy intitulado: O Declínio da Pregação Moderna. No início do século vinte, J. G. Simpson de Manchester, lamentava a ausência na Inglaterra da pregação com autoridade: “Não só parece extinta a grande safra de pregadores, senão que de modo que o poder do púlpito tem declinado… O púlpito de hoje em dia não tem uma mensagem determinada, clara e ressonante”.1

Por outro lado, restando poucos dias para o encerramento da primeira década deste século, estamos conscientes de que a erosão da fé cristã no ocidente tem persistido. O relativismo tem se misturado à doutrina e a ética, e os absolutos têm desaparecido. Ainda hoje percebemos a influência do darwinismo o qual tem convencido a muitos de que a religião é uma fase evolutiva. No marxismo de que a religião é um fenômeno sociológico, e em Freud de que a religião é uma neurose. A autoridade bíblica tem sido minada por muitos pela alta crítica. O estudo comparado das religiões tem rebaixado o cristianismo ao patamar de mais uma religião entre muitas outras, estimulando o crescimento do sincretismo religioso. O existencialismo rompe com as nossas raízes históricas, e insiste em que nada importa, salvo o encontro e decisão do momento. Em seguida, está a negação explícita por parte da teologia radical ou secular, que nega a personalidade infinita e amorosa de Deus e a divindade essencial de Jesus Cristo.

Estas coisas têm contribuído para a falta de convicção entre muitos pregadores sinceros. Alguns confessam francamente que veem sua função como a de simplesmente compartilhar as dúvidas com sua congregação. John Stott observa que “… outros assumem uma falsa modéstia ao insistir que ‘a presença cristã’ no mundo não só necessita ser serviçal como também silenciosa… ou se os cristãos tem algum papel ativo, o entendem em termos de um diálogo em lugar de uma proclamação; dizem que necessitam sentar-se com humildade junto ao homem secular e permitir que ele os ensine”.2

Conclusão

De forma que, não há possibilidade de uma recuperação da pregação sem recuperar previamente a convicção. Necessitamos recuperar nossa confiança na verdade, relevância e poder do evangelho, e começar novamente a nos entusiasmarmos com ele. Campbell Morgan, grande expositor e ministro da Capela de Westminster em Londres, durante duas décadas, foi muito claro a este respeito:

A pregação não é a proclamação de uma teoria, ou a discussão de uma dúvida. O homem está em perfeito direito de proclamar uma teoria de qualquer tipo, ou discutir suas dúvidas. Mas isso não é pregação. Jamais estaremos pregando quando nos aventuramos na especulação.… A especulação não é pregação. A declaração de negações tampouco o é. Pregar é proclamar a Palavra, a verdade tal como está revelada.3

Pr. Alan Kleber

Notas:

[1] J. G. Simpson em John Stott, La Predicación: Puente Entre Dos Mundos, (Grand Rapids: Baker, 1997), 79.

2 John Stott, La Predicación: Puente Entre Dos Mundos, (Grand Rapids: Baker, 1997), 80.

3 Campbell Morgan em Stott, Puente Entre Dos Mundos, 81.

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