por Peter Leithart

Quarenta dias depois de ressuscitar dos mortos, Jesus ascendeu ao céu para tomar o Seu lugar à mão direita do Pai (At 1.3), cumprindo a promessa do Salmo 110.

O Salmo é padronizado como três conjuntos de sete cláusulas. Os versos 1-2 constituem a primeira sequência, os versos 3-4 a segunda, e os versos 5-7 a terceira. Este padrão alude à semana da Criação, sugerindo que a investidura do Senhor à mão direita é o início de uma Nova Criação. A primeira e a última seção começam com o nome Yahweh e uma referência à “mão direita” de Yahweh (vv. 2, 5), e ambas incluem referências ao poder do rei para conquistar seus inimigos (vv. 1-2, 5 -6). O nome “Yahweh” é usado três vezes (vv. 1, 2, 4).

Ao traduzir duas palavras diferentes com uma mesma palavra, as traduções em inglês[1] tornam o primeiro versículo deste Salmo mais obscuro do que no hebraico. Em hebraico, o primeiro “SENHOR” é Yahweh, o Nome pactual de Deus, enquanto o segundo é Adon ou Adonai, que não é um nome, mas um título, que é usado como um título para mestres humanos ou mesmo maridos (Gn 18.12; 19.2; 40.1; Rt 2.13; etc.). Adonai também pode ser usado como um título para Yahweh, como em Êxodo 34.23 (“o Senhor Yahweh, Deus de Israel”) e Deuteronômio 10.17 (“Senhor dos senhores”, no hebraico, Adone ha-adonim). Em muitas passagens, uma melhor tradução para a frase “Senhor Deus” seria “Senhor Yahweh” ou “Mestre Yahweh” (por exemplo, Salmo 69.6).

No Salmo 110, Davi se refere a alguém como “meu senhor”, e esse alguém é diferente de Yahweh. De quem Davi está falando? Sabemos pelo Novo Testamento que Davi está falando sobre o Filho de Deus, mas de quem Davi pensava que estava falando? Existem duas respostas para isso. Primeiro, Davi certamente está agindo aqui como um profeta, esperando um “Ungido” que é muito maior do que ele mesmo. O Salmo é diretamente messiânico e profético. Em segundo lugar, há evidência no Antigo Testamento de uma pessoa que é distinta de Yahweh, mas também de alguma forma idêntica a Ele. Esta pessoa às vezes é identificada como o “anjo de Yahweh” (cf. Gn 18; Zc 1.7-17). Talvez também seja idêntico ao “Nome” de Yahweh que habita no templo (1 Rs 8.16, 18, 20, etc.). Portanto, Davi estava ciente de que, embora fosse o rei ungido do Senhor sobre Israel, ele estava subordinado ao Rei entronizado acima dos querubins.

Em todo o Salmo, a investidura do Senhor de Davi à destra de Yahweh significa vitória. Ele é instalado à mão direita até que seus inimigos sejam transformados em escabelo (v. 2), e Ele deve dominar “entre os teus inimigos” (v. 2). À mão direita de Yahweh, Ele esmagará os reis” e julga entre as nações” e esmagará cabeças por toda terra” (vv. 5-6).

O Novo Testamento ensina que este Salmo foi cumprido em Cristo, e repetidamente se refere a ele em referência à exaltação de Jesus em sua ressurreição e ascensão (At 2.34 ss; 1Co 15.25; Hb 1.13; 10.13). Se for assim, o Dia da Ascensão é o dia da vitória. A ascensão de Jesus significa que Ele começa a governar no meio de Seus inimigos, começa a julgar as nações, começa a despedaçar os reis. Uma escatologia baseada no Salmo 110 é uma escatologia vitoriosa.

SACERDOTE SEGUNDO A ORDEM DE MELQUISEDEQUE

No centro do Salmo está a promessa de que Yahweh estabeleceria o Senhor de Davi não apenas como um Rei, governando com um cetro (vv 1-2), mas também como um Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (v. 4). Melquisedeque era o sacerdote de Deus e rei de Salém, que veio e encontrou Abrão com pão e vinho depois que este último ganhou uma batalha (Gn 14). Em resposta, Abrão honrou Melquisedeque dando-lhe o dízimo.

No Novo Testamento, esta parte do Salmo é considerada uma profecia sobre Jesus, que serve como Sacerdote e Rei (Hb 7). Entretanto, o escritor aos Hebreus vai além quando diz que o estabelecimento de Jesus como um “Sumo Sacerdote” anula a ordem sacerdotal de Arão. Mas, como isso funciona?

A ordem sacerdotal de Arão se baseava na descendência física; somente homens que estavam na genealogia de Arão podiam servir como sacerdotes.  Porém, Jesus era membro da tribo de Judá, e esta não era uma tribo sacerdotal (Hb 7.14-16). Mesmo assim, Jesus foi designado Sumo Sacerdote. O escritor vê isso como um sinal de que toda a ordem do Antigo Pacto foi aniquilada (Hb 7.17-23). O primeiro pacto “carnal”, que dependia da descendência física, foi substituído por um segundo pacto espiritual, dependente do poder da ressurreição de Jesus (v. 16). O Salmo prediz uma nova ordem sacerdotal e uma nova ordem mundial. E a ascensão de Jesus o cumpriu.

Fonte:  www.theopolisinstitute.com

Tradução: Rev. Alan Kleber Rocha

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