A Lógica Litúrgica da Adoração (3ª Parte)

O Culto como resposta ao Deus Triúno

Mão segurando embalagem de papel

Descrição gerada automaticamente

Amada Congregação,

A lógica litúrgica da adoração bíblica pode ser captada concretamente pelo chamado do pastor para que “elevemos os nossos corações aos céus” depois de anunciar a certeza do perdão que temos em Cristo Jesus, nosso Salvador, e em seguida anunciar o convite para todo o povo: “cantemos a Deus a nossa salvação”, e em resposta todos juntos entoam em alta voz um hino de gratidão.

Em ambos os casos, Deus está nos chamando e dizendo que estamos perdoados, pois nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Romanos 8.1). Nesse momento, não podemos segurar mais nossa culpa e responder ao mesmo tempo com fé, porque Deus já nos perdoou, quer nos sintamos perdoados ou não. É Ele e não nós, que perdoa todas as nossas iniquidades.

Exemplo 3: Ofertório

Já observamos dois exemplos de chamado e resposta na lógica de uma liturgia bíblica – o chamado à adoração e a confissão dos pecados – e seu padrão de chamado e resposta existe em toda o diálogo de uma liturgia. Um lugar onde a riqueza desse padrão ultrapassa claramente os limites do culto de adoração no Dia do Senhor é no momento dos dízimos e ofertas.

O ofertório aparece em vários pontos da liturgia dominical em várias tradições, mas na maioria das igrejas protestantes é uma resposta em que um presente simbólico (o dízimo) é dado de si mesmo junto com outras ofertas que excedem a décima parte dos nossos bens. O ofertório é uma resposta do crente à graça de Deus por todos seus benefícios e de todo o seu ser. Deus nos dá vida, corpo, tarefas, carreiras, prazeres, oportunidades de serviços, etc., e o ofertório é o momento em que respondemos à dádiva de Deus devolvendo uma parte de tudo o que por sua graça o Senhor nos concede e nos comprometendo ainda mais com o serviço para o qual ele nos chamou.

O ofertório é uma resposta ao perdão de Deus, aos seus ensinamentos por meio da pregação, e é uma resposta até mesmo à bênção que acontece depois que saímos da casa de adoração (Números 6.24-26). Deus abençoou e guardou por mais uma semana ao seu povo pactual. Ele o iluminou com a luz de seu rosto por mais uma semana. Ele o ergueu por mais uma semana e lhe deu graça e paz. O ofertório tem um contexto litúrgico, mas também um contexto cotidiano. Toda a nossa vida é uma resposta; cada semana começa com o cristão sendo fortalecido pela Palavra e pelo sacramento, e toda semana ele se consagra como uma oferta viva e santa em resposta as bênçãos de Deus enquanto ama e serve a seu semelhante.

Em muitos lugares no mundo, alguns cristãos são padeiros ou produtores de vinho; eles trabalham literalmente durante toda a semana assando o pão ou fazendo o vinho. De modo que, em algumas tradições cristãs, o ofertório culmina com a procissão dos elementos da comunhão até a mesa do Senhor. No momento em que esses elementos são apresentados a Cristo, ele os usa como uma oportunidade para ter comunhão com o seu povo pactual.

Portanto, quer tenhamos assado o pão, ou ganhado o dinheiro que o comprou, no Dia do Senhor devolvemos a Deus o fruto do nosso trabalho e ele o toma e o transforma em uma festa para a qual nos convida. Esta conexão entre o chamado de Deus, a sua provisão e a nossa resposta através do ofertório pode ser feita de forma muito clara na liturgia, tendo as bandejas da oferta levados de volta à mesa do Senhor junto com o pão e o vinho para a Santa Ceia.

Quando as bandejas são levadas imediatamente para o escritório da igreja, perdemos a oportunidade de conectar a oferta ao banquete subsequente. Os adoradores devem ser incapazes de perder o fato de que o momento semanal mais intenso de comunhão com nosso Senhor, a Santa Ceia, requer os frutos da arte humana, panificação e viticultura. Deus nos chama para trabalhar, nos dá um aumento e depois oferece um banquete superabundante.

No Brasil, onde menos pessoas usam cheques e dinheiro, alguns sugeriram que o ofertório se tornou obsoleto ou impróprio. Alguns perguntam: por que não substituir o dízimo por uma transferência bancária automática? Embora não haja nada de errado em organizar as doações dessa forma, a função litúrgica do ofertório cobre um território muito mais rico do que o meramente financeiro.

Conectar o ofertório à mesa da comunhão enfatiza a conexão entre a provisão de Deus para fazermos boas obras (Efésios 2.10) e sua comunhão conosco usando os próprios frutos dessas boas obras. O ofertório ainda enfatiza que a resposta adequada de um adorador à instrução de Deus é se oferecer ao serviço de Deus de novo a cada semana. O dinheiro é um símbolo, uma maneira adequada de nos oferecermos ritualmente em consagração àquele que é dono de tudo.

Encontrar uma maneira significativa de nos oferecer a cada semana liturgicamente é uma área importante de desenvolvimento à medida que avançamos, cada vez mais, para uma sociedade sem moedas ou dinheiro de papel. Talvez a coleta de esmolas pudesse retornar, já que cada adorador traz donativos ou cestas básicas para os mais pobres. Muito se perderia se o ofertório fosse removido, mas será preciso criatividade para encontrar algo adequado, tão cativante quanto o tilintar de moedas, para representar nossas boas obras como uma resposta de gratidão ao nosso Senhor Jesus Cristo.

Conclusão

Deus se move primeiro, na vida e na adoração, e nós respondemos. O padrão de chamada e resposta da adoração é apenas um dos aspectos da “lógica litúrgica” que o adorador experiente internaliza ao adorar a Deus todas as semanas em Espírito e Verdade. Como vimos, esse padrão impulsiona a liturgia da adoração no Dia do Senhor, mas também é o padrão de toda a vida vivida em resposta ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Nossas ações litúrgicas são versões ritualizadas e corporativas das realidades espirituais cotidianas, do fazer tudo para a glória de Deus.

Em espírito e em verdade,

Rev. Alan Kleber Rocha

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