O único sentido universal que vem com cada dia de Ano Novo é o passar do tempo. Embora estejamos cientes da passagem de mais um ano, essas lembranças particulares dão lugar ao reconhecimento público a cada ano que se inicia.
Parte de nossa consciência do tempo é resultado da maldição proveniente da queda dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. O tempo e a idade levam ao túmulo. Sabemos que nosso tempo na terra é curto. Nossa preocupação com as atividades da vida nos lembra da passagem do tempo que passa rapidamente como um sopro, sob o olhar do calendário, dos dias, dos meses e dos anos.
A escatologia é uma teologia do tempo. Muitas vezes a escatologia é definida como a doutrina do final dos tempos. Entretanto, Rushdoony costumava definir a escatologia como uma perspectiva que trata dos finais, enfatizando que há muitos finais na história, todos ordenados por Deus. Intimamente relacionada está a expressão bíblica “o dia do Senhor”, que aponta para as intervenções periódicas de Deus que destroem as presunções dos homens.
Nossa escatologia, portanto, é como vemos os muitos eschatons (pontos finais) na história. Nossos dias são limitados, mas nossa escatologia os vê em termos dessa perspectiva mais ampla do que Deus está fazendo na história. Nossa escatologia e sua visão da operação de Deus determinarão se nossa visão futura da história é otimista ou pessimista.
Como não podemos ver o que o amanhã nos traz, muito menos o futuro distante, naturalmente nos concentramos no presente. Muitos dos nossos problemas, sejam pessoais, sociais, políticos ou eclesiásticos, não têm solução fácil a curto prazo, por isso temos dificuldade em confiar que uma solução positiva pode ocorrer em nossa vida. Porém, nossa angústia por não sermos capazes de resolver problemas complexos deve nos fazer enxergar que a solução destes não será completa, ou talvez nem mesmo parcialmente resolvida, por nossa conta. Nós não temos poder para tal.
As mudanças da história envolvem uma infinidade de ações. Tomemos o livre mercado como exemplo. Em 1958, Leonard Read publicou um ensaio chamado “I, Pencil” (Eu, o lápis), onde descreveu o que estava envolvido no processo de fabricação de um único lápis. A madeira, o grafite, a borracha e a tinta tiveram seus próprios processos complexos de abastecimento e fabricação, sem falar na criação do maquinário utilizado na produção final. Dezenas de milhares de indivíduos em muitos países contribuíram para a produção de um único lápis.
Na verdade, observou Read, nenhum homem poderia produzir sozinho um único lápis. É assim com o curso da história. Não podemos mudar o futuro; nenhum homem pode fazer isso, e se nossa visão de mundo for pessimista, então podemos erroneamente vê-lo como condenado. Mas, se acreditamos que Deus está no controle das mínimas coisas, até mesmo dos próprios cabelos de nossa cabeça e de cada pardal que voa nos céus, também acreditaremos que os problemas que nos confundem podem ser facilmente resolvidos, pois o para Deus nada é impossível (Mateus 19.26).
Há uma causa específica para o pessimismo do homem sobre o futuro: seu pecado e a inevitabilidade do julgamento. No entanto, se acreditarmos que Jesus Cristo venceu o mundo e que Ele realmente possui todo o poder no céu e na terra, então há um futuro vitorioso para o qual o julgamento canaliza o futuro do homem rumo à redenção.
Nosso Senhor Jesus nomeou a esse futuro gracioso de “o Reino dos Céus”, o tema mais recorrente de seu ministério. O nome mais antigo para o que Jesus chamou de Reino dos Céus era a Era Messiânica, o domínio do Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ora, se nosso Senhor Jesus Cristo venceu o pecado e a morte, então que direito temos de ser pessimistas?
Também não podemos olhar para o passado para justificar uma visão pessimista do Reino. Os apóstolos receberam a tarefa aparentemente impossível de levar uma mensagem sobre um judeu morto, cujas reivindicações foram amplamente rejeitadas por seu próprio povo, para “todas as nações”. Contudo, pelo poder do Espírito Santo, esse Reino avançou e cresceu milagrosamente, um progresso que tem se acelerado ainda em nosso tempo.
Vários anos atrás, o cristianismo substituiu o islã como a religião predominante na África. A igreja na China, que no passado ainda se reunia em segredo, agora inclui cerca de sessenta e sete milhões de membros, mais da metade dos quais são protestantes independentes. A igreja de Cristo também está crescendo na América Latina e até mesmo em países islâmicos como o Irã.
É fácil notar que essas igrejas costumam ter uma teologia problemática, mas não esqueça que também a igreja antiga, passou quatro séculos debatendo a encarnação de Jesus, antes de oficialmente resolver a questão em 451 d.C. no Concílio de Calcedônia. Ainda hoje, se pode ouvir em todas as partes do mundo os cristãos declarando a sua fé em culto público:
(…) Todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial [hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos];
Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis;[1] a distinção das naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência [hypóstasis]; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.1
Frequentemente, deixamos de ver a mudança quando ela acontece. Quando a URSS entrou em colapso no final de 1980, houve hesitação no movimento conservador em acreditar que tudo fosse real. Muitos sugeriram que era um estratagema do comunismo para nos pegar desprevenidos. O pessimismo não permite que enxerguemos o triunfo do evangelho sobre as nações.
A gloriosa verdade é que o Reino avançará porque seu poder é do Espírito, e não é limitado pela nossa visão. Nosso Senhor não vai falhar. O futuro é dele. “para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim… O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9.7).
Por que, então, o crente em Jesus Cristo deveria ser pessimista sobre o futuro de seu glorioso Reino?
Maranata, feliz ano novo!
Rev. Alan Kleber Rocha