Quando nossos homens cantarem novamente

A ordem para louvar a Deus é difundida em toda a Escritura. No versículo acima, o Espírito chama todas as coisas com fôlego para louvar ao Senhor. A canção também é claramente apresentada em toda a Escritura e é uma marca característica da vida e presença do Espírito dentro do corpo de Cristo (Colossenses 3.16, Efésios 4.18-19).

Estranhamente, há algo que observei entre os homens sob o sol. É uma cultura de não-singularidade na igreja entre os homens. Quando se pergunta por que, a pergunta geralmente é respondida com indiferença ou desinteresse. Embora as razões possam ser muitas, esse fenômeno pode ser um sintoma de um problema maior dentro da igreja. Mas, por que cantar?

Dediquei dez anos da minha vida ao Exército dos EUA e uma das maneiras de construir o esprit de corps1 é através da incorporação do canto nas atividades diárias dos soldados. Não apenas cantávamos em cerimônias, mas cantávamos em todos os lugares que íamos, caminhando ou correndo. Cantar mudava os humores e criava um vínculo comum entre todos aqueles ao seu redor que estavam cantando e suportando as mesmas coisas que você. E isso não acontecia porque todos nós pertencíamos a um coro de uma Catedral. Esse canto era feito para criar motivação para a tarefa, para o exercício ou a operação em questão. Mesmo que você não tivesse vontade de cantar a cadência em voz alta, sempre havia alguém de patente mais alta por perto para lhe dizer: “Finja até conseguir, soldado”. Com certeza, na maioria das vezes, disciplinar-se para cantar alto com a formação mudava sua atitude.

Cantar no contexto militar não é novidade. Muitos podem lembrar o pífaro e o tambor familiares que acompanhavam os exércitos para que os comandantes pudessem comunicar suas ordens em grandes formações. Outra ocorrência semelhante de homens cantando com entusiasmo é o sea shanty (canção de trabalho entre os marinheiros). Sejam piratas, forças navais ou comerciantes marítimos, o canto tem sido característico desses homens rudes dos mares. Os homens realmente amam cantar. Eu testemunhei isto. Cantar é uma coisa muito masculina de se fazer. O fenômeno na igreja é bastante curioso, pois pode-se demonstrar que até o mais viril dos homens é conhecido por cantar. Responda-me então: por que razão a igreja é sempre deficiente na divisão dos baixos?

Uma curta viagem pelas Escrituras pode nos ajudar a ver o uso comum e a localização do canto, nos fornecendo uma possível explicação. No início da Bíblia, vemos que a primeira coisa que Adão faz quando vê Eva é cantar. Suas palavras são líricas. Então o homem disse:

Esta, afinal, é osso dos meus ossos

e carne da minha carne;

chamar-se-á varoa,

porquanto do varão foi tomada.2

Gênesis 2.23

O cântico, portanto, é apropriado no advento de Deus multiplicando e glorificando Sua criação, como foi o caso quando  Ele criou Eva.

Depois que Israel cruzou o Mar Vermelho, as Escrituras registram  para nós um cântico de Moisés em Êxodo 15. O maior Rei das Escrituras cujos valentes eram famosos por sua coragem, bravura e habilidade na batalha era ao mesmo tempo um excelente músico e prolífico compositor. O rei Davi estava no auge da masculinidade quando escreveu canções sobre a vitória de Deus e empregou os músicos do templo para tocá-las.

No final das Escrituras, encontramos que a característica do culto litúrgico celestial é o canto frequente. Alguns cânticos são de natureza repetitiva, como o Sanctus (Isaías 6, Apocalipse 4), enquanto outros são cânticos novos, o cântico de Moisés ou o cântico do Cordeiro. Essas canções louvam as obras poderosas  de Deus e as Suas vitórias (Apocalipse 5.9-10, 15.3-4).

A música não é apenas característica da celebração depois que uma batalha é vencida, mas também faz parte da própria batalha.

Em 2 Crônicas 20, ao enfrentar os amonitas e os moabitas, Josafá não coloca seus valentes à frente da formação, mas os músicos. A música é a ponta da lança e Deus milagrosamente derrota os inimigos de Israel. Como observa o Dr. Leithart, “Embora 2 Crônicas 20 seja um dos exemplos bíblicos mais claros de guerra litúrgica, não é de forma alguma o único. Israel geralmente obtém vitórias invocando o Senhor em oração e exaltando-o em louvor.”3

Leithart ainda observa que quando escravizado no Egito, ao enfrentar a cidade de Jericó, e quando liderado por Samuel na batalha de Ebenézer, o clamor ao Senhor e a música assumiram um papel proeminente antes e durante a vitória. A eficácia da música não está na música em si. Se este fosse o caso, não haveria problema na igreja hoje. Em vez disso, diz Leithart,

A guerra litúrgica é eficaz apenas quando expressa a confiança do adorador no Senhor dos Exércitos, o Deus das Batalhas. Quando Ele é exaltado em nossos louvores, Ele se torna um terror para nossos inimigos, deixa o campo coberto de cadáveres e transforma o vale da batalha em um vale de Berakah.3

Mesmo esses homens que estão em silêncio na igreja vão cantar seu rock favorito em seu caminhão. Muitos desses homens calados ainda vão curtir uma cerveja e cantar muito mal no karaokê com outros homens. Então, o que acontece com eles quando entram pelas portas da igreja? Por que eles falham em abraçar a guerra litúrgica para a qual foram chamados?

Parte do problema é que há décadas a igreja tem encorajado seu povo que cantar salmos e hinos de forma vibrante é uma preferência pessoal, e não parte integrante da vida da igreja. Cânticos de alegria, vitória, justiça e perdão encontrados no saltério foram retirados da cultura da igreja. Seus líderes se envergonham das palavras das Escrituras, recusam-se a falar a palavra de Deus em praça pública e, portanto, a substituem por canções que não podem ver, ouvir, falar ou salvar. Os líderes da igreja estão mudos, e os homens seguem seus comandantes.

Onde cânticos de alegria e vitória são supérfluos na igreja, as canções se tornam vítimas da feminização de nossa cultura. Eles são esvaziados de sua substância e parecem ser mais adequados para um high school dance. Dada essa feminização da música dentro da igreja, não é de admirar que os homens estejam em silêncio. Além disso, os homens não cantam porque, como a igreja, estão agitando a bandeira branca. Cantar canções de vitória seria hipócrita.

Em geral, a igreja abandonou o padrão bíblico para justiça, adoração e sexualidade. A igreja está muda enquanto bebês aos milhares são assassinados todos os dias. A igreja ficou muda enquanto a adoração a Deus foi cancelada como perigosa. A igreja está muda enquanto a promiscuidade sexual, a confusão de gênero e a homossexualidade recebem nuances em vez de uma repreensão.

Não é à toa que os homens fecharam o saltério e silenciaram canções de alegria e vitória dentro de suas paredes. Os pastores depuseram suas armas de canto e louvor e pegaram as armas do mundo de circo e prazer. A igreja deve se arrepender e novamente travar a boa guerra, colocando o saltério de volta nas mãos de seus homens. Os homens também devem ser exortados a cantar com as mãos levantadas ao Senhor, pois devemos amar o Senhor nosso Deus com todas as nossas forças.

Algo de que a igreja mais ampla deveria se arrepender é de seu retrocesso por meio do abandono do canto bíblico. Os homens não cantam porque a igreja lhes ensinou que a batalha acabou, o povo de Deus está derrotado e não há motivo para celebração ou louvor. A igreja permitiu que o inimigo capturasse seu padrão e reivindicasse vitória por ela falhar em cantar estrondosamente a justiça, a bondade e o perdão de Deus.

Se a igreja deve permanecer em nossos dias atuais, os homens devem ser lembrados de que seu batismo os alistou na Guerra Santa e eles devem cantar para derrubar o inimigo. A igreja deve integrar o saltério de volta à sua liturgia para que os homens saibam que o Senhor os espera no campo de batalha. O apóstolo Paulo exortou a igreja a travar o bom combate e vimos que uma das armas mais escolhidas de Deus contra Seus inimigos é o cântico.

Assim como o pífaro e o tambor conduzem os soldados pelo campo de batalha e comunicam os comandos pelas fileiras, os homens da igreja não cantarão até que seus líderes mostrem o caminho. Os pastores devem liderar seus homens no canto vitorioso. Isso significa que você, Pai, deve liderar seus filhos pelo exemplo e ensiná-los a cantar louvores a Deus.

Homens, isso se aplica à forma como você lidera e se firma. Aplica-se especificamente a como criar seus filhos. Vocês e seus filhos foram chamados para a batalha. O Senhor chamou vocês e seus filhos para a batalha com o Cântico do Espírito e ordena que se juntem à luta. Vocês devem encarar o fato de que, se seus filhos não cantam na igreja, é porque vocês não cantam ou não os treinou para isso. Ensine a seus filhos as maravilhas de Deus e depois ensine-os a cantar louvores a Deus com vocês a plenos pulmões.

Quando nossos homens cantarem novamente, aí então é que a igreja mostrará à cultura do homem que o Deus de todos os exércitos está do lado deles e que as portas do inferno não prevalecerão contra eles.

Batei palmas, todos os povos; celebrai a Deus com vozes de júbilo. Pois o SENHOR Altíssimo é tremendo, é o grande rei de toda a terra. Ele nos submeteu os povos e pôs sob os nossos pés as nações.

Salmo 47.1-3

Tradução: Alan Kleber Rocha

1 Nota do tradutor: Do francês, “espírito de corpo”, um sentimento de orgulho, companheirismo e lealdade comum compartilhado pelos membros de um determinado grupo.

2 As palavras hebraicas para mulher “ishshah” e homem “ish” soam iguais.

3 Leithart, Peter J., 1 & 2 Chronicles, (Brazos Press: Grand Rapids, 2019), página 175.

4 Ibidem, página 175.

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