Muito do ceticismo cristão sobre a oração está enraizado numa visão desequilibrada de Deus que se desenvolveu no início da igreja sob a influência da filosofia grega. Os gregos acreditavam que a emoção e a mutabilidade eram qualidades inferiores e incompatíveis aos deuses.

Para os gregos, a maior divindade que eles poderiam imaginar era um deus que não tinha emoções e que nunca mudava de ideia. O problema é que isso não é uma pessoa. Uma pessoa tem emoções e muda de ideia. Emoção não é pecado. Mudar de ideia não é pecado. Você não é de alguma forma inferior porque tem emoções ou mudou de ideia. E como Deus é a maior pessoa possível, ele tem emoções e por vezes, muda de ideia segundo seus soberanos propósitos.

Entretanto, no teísmo clássico Deus é estático e insensível de uma forma que não pode ser movido (emocionalmente e para a ação) por nossas orações. Já observamos em pastorais anteriores, textos bíblicos específicos afirmando que a oração faz de fato que Deus mude sua mente em relação ao homem.

Embora Deus seja de fato imutável em suas qualidades e caráter, ele não é insensível em sua relação com a humanidade, apesar do que o teísmo clássico ensinou. Um termo apropriado para explicar a imutabilidade de Deus poderia ser “constância”, a visão bíblica não é que Deus é estático, mas estável.

Se argumentarmos que Deus é imutável em um sentido diferente e além de sua estabilidade, constância e confiabilidade invariáveis, visualizamos um deus diferente do Deus bíblico. Somente a Bíblia define quem é Deus e como ele é. Nesse sentido, J. I. Packer adverte sobre o perigo da “mistificação de Deus”:

Por “mistificação” quero dizer a ideia [do teísmo clássico] de que algumas declarações bíblicas sobre Deus enganam tal como estão e devem ser explicadas… [Às] vezes [na Bíblia] diz-se que Deus muda de ideia e toma novas decisões conforme ele reage aos atos humanos. Os teístas ortodoxos têm insistido que Deus realmente não muda de ideia, já que Deus é impassível e nunca uma “vítima” de sua criação. Como escreve Louis Berkhof, representante dessa visão, “a mudança não está em Deus, mas no homem e nas relações do homem com Deus”.

Mas, dizer isso é dizer que algumas coisas que a Escritura afirma sobre Deus não significam o que parecem significar, e significam o que não parecem significar. Isso provoca a pergunta: como essas declarações podem fazer parte da revelação de Deus quando, na verdade, o deturpam e o ocultam? Em outras palavras, como podemos explicar essas declarações sobre a dor e o arrependimento de Deus sem parecer explicá-las?

Em cada ponto de sua autorrevelação, Deus revela o que ele é essencialmente, sem gestos que mistifiquem. E certamente, devemos rejeitar como intolerável qualquer sugestão de que Deus, na realidade, é diferente em qualquer ponto do que a Escritura o faz parecer. As Escrituras não foram escritas para mistificar e, portanto, precisamos perguntar como podemos dissipar a impressão contrária que a linha de explicação ortodoxa e consagrada pelo tempo deixa (“What Do You Mean When You Say God?” Christianity Today, 19 de setembro de 1986, p. 30).

Essa flexibilidade em seu relacionamento com o homem não é uma indicação de um Deus que é menos do que soberano; pelo contrário, um Deus sem emoção que não pode ser tocado por nossas orações e enfermidades é menos do que uma pessoa. O fato de que ele não pode ser surpreendido ou dominado por nossas orações (ou pecados) não significa que ele careça de emoção ou seja imutável em todos os sentidos.

Deus, por sua escolha soberana, experimenta mudanças e emoções como somente o Criador pode, mas ele as experimenta. Dizer que ele não pode sentir isso é mistificá-lo e descrevê-lo como tendo (ou faltando) características que não estão em harmonia com a descrição que a Bíblia faz dele. A oração peticionária é logicamente prejudicada pelos teístas clássicos quando defendem uma imutabilidade mistificada de Deus.

Teístas clássicos estão compreensivelmente em guarda contra a tendência moderna de ajustar Deus às ideias e desejos do homem, como encontramos na teologia do processo e no teísmo aberto, que são visões heréticas de Deus. Nosso objetivo, entretanto, deve ser apreender e compreender a verdade bíblica, não demarcar o terreno o mais longe possível da heresia. A doutrina do Sola Scriptura nos ensina que a Bíblia deve governar todas as áreas da nossa vida.

Em resposta às nossas orações, Deus se satisfaz em mudar seu curso declarado de ações, embora o homem nunca possa finalmente frustrar os propósitos de Deus:

“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2).

“Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá”(Provérbios 19:21).

“Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?”(Isaías 14:27).

Em Cristo,

Rev. Alan Kleber Rocha