A devoção tem um significado religioso. A raiz da devoção é dedicar-se a um uso sagrado. Portanto, a devoção em seu verdadeiro sentido tem a ver com o culto religioso. Ela está intimamente ligada à verdadeira oração. Devoção é o estado particular de espírito encontrado em alguém inteiramente devotado a Deus. É o espírito de reverência e do temor piedoso. É um estado de coração que se apresenta diante de Deus em oração e adoração. É estranha a tudo que se pareça com leveza de espírito e se opõe à leviandade, ao barulho e a arrogância. A devoção habita no reino da quietude e, portanto, se aquieta diante de Deus. Ela é séria, meditativa e contemplativa.

A devoção pertence à vida interior e habita com o cristão em seu quarto, mas também aparece nos serviços públicos do santuário. Faz parte do próprio espírito da verdadeira adoração e é da natureza do espírito de oração. A devoção pertence ao homem devoto, cujos pensamentos e sentimentos são dedicados a Deus. Tal homem tem uma mente totalmente entregue à religião e possui uma forte afeição por Deus e um amor ardente por Sua casa.

A oração promove o espírito de devoção, enquanto a devoção é favorável à melhor oração. A devoção promove a oração e ajuda a direcionar a oração para o objeto que ela busca. A oração prospera na atmosfera de verdadeira devoção. É fácil orar quando se cultiva o espírito de devoção. A atitude mental e o estado de coração implícitos na devoção tornam a oração eficaz para alcançar o trono da graça. Deus habita onde reside o espírito de devoção. Todas as graças do Espírito são nutridas e crescem bem no ambiente criado pela devoção.

Na verdade, essas graças jamais crescem em outro lugar, mas somente na atmosfera da devoção. A ausência de um espírito devocional significa a morte dessas graças nascidas em um coração renovado. A verdadeira adoração encontra simpatia na atmosfera feita por um espírito de devoção. Embora a oração ajude a devoção, ao mesmo tempo a devoção reage positivamente à oração e nos ajuda a orar. A devoção envolve o coração na oração. Não é uma tarefa fácil para os lábios tentar orar enquanto o coração está ausente. A acusação que Deus certa vez fez contra seu antigo Israel foi que eles o honraram com seus lábios enquanto seus corações estavam longe dele.

A própria essência da oração é o espírito de devoção. Sem devoção, a oração é uma forma vazia, uma roda vã de palavras. É triste dizer, mas muito desse tipo de oração prevalece hoje, na Igreja. Esta é uma época movimentada, agitada e ativa, e esse espírito agitado invadiu a Igreja de Deus. Suas apresentações religiosas são muitas. A Igreja trabalha na religião com a ordem, precisão e força da verdadeira maquinaria.

Mas, muitas vezes funciona com a crueldade da máquina. Há muito do movimento da esteira em nossa incessante rotina de atividades religiosas. Oramos sem orar. Cantamos sem cantar com o Espírito e o entendimento. Temos música sem o louvor de Deus nela, ou perto dela. Nós vamos à Igreja por hábito e voltamos para casa com muita alegria quando a bênção é pronunciada. Lemos nosso capítulo habitual na Bíblia e nos sentimos bastante aliviados quando a tarefa é concluída. Dizemos nossas orações de cor, como um aluno recita sua lição, e não lamentamos quando o amém é pronunciado.

Assim, a religião tem a ver com tudo, menos com nossos corações. Ela envolve nossas mãos e pés, apodera-se de nossas vozes, põe as mãos em nosso dinheiro, afeta até as posturas de nossos corpos, mas não se apodera dos nossos afetos, dos nossos desejos, do nosso zelo e nos torna sérios, desesperadamente sinceros, e nos leva a agir como frios adoradores na presença de Deus. As afinidades sociais nos atraem para a casa de Deus, não o espírito da ocasião. A filiação à igreja nos mantém, de certa forma, decentes na conduta externa e com alguma sombra de lealdade aos nossos votos batismais, mas o coração não está nisso. Permanecemos frios, formais e indiferentes em meio a todo esse desempenho externo, enquanto nos entregamos à autocongratulação por estarmos indo maravilhosamente e religiosamente bem.

Portanto, sejamos como Cornélio, que era homem piedoso, temente a Deus com toda a sua casa, que dava muitas esmolas ao povo e orava sempre. Ou, como os homens devotos que carregaram Estêvão para seu enterro. Ou, como Ananias, homem piedoso, segundo a lei, que foi enviado a Saulo quando ele era cego, para dizer-lhe o que o Senhor desejava que ele fizesse. Deus pode usar maravilhosamente tais homens, pois homens cheios de devoção e vida de oração são seus agentes escolhidos para levar adiante seus planos.

Rev. Alan Kleber