A Necessidade do Espírito de Devoção

Por que olhamos sempre para nós mesmos e vemos todos esses tristes defeitos em nossa piedade? Por que essa perversão moderna da verdadeira natureza da religião de Jesus Cristo? Por que o tipo moderno de religião é tão parecido com uma caixa de joias, sem as joias preciosas? Por que tanto manusear a religião com as mãos, muitas vezes sujas e cheias de mácula, e tão pouco sentido no coração e testemunho na vida?

A grande falta da religião dos nossos dias é o espírito de devoção. Ouvimos sermões com o mesmo espírito com que ouvimos uma palestra ou um discurso. Visitamos a casa de Deus como se fosse um lugar comum, ao nível do teatro, da sala de conferências ou do fórum. Nós olhamos para o ministro de Deus não como o homem de Deus divinamente chamado, mas apenas como uma espécie de orador público, semelhante ao político, ao advogado, ou ao palestrante, ou ao conferencista. Como o espírito de verdadeira e genuína devoção mudaria radicalmente tudo isso para melhor! Lidamos com as coisas sagradas como se fossem as coisas do mundo. Até mesmo o sacramento da Ceia do Senhor torna-se uma mera performance religiosa, sem preparação prévia, e sem meditação e oração depois. Até o sacramento do Batismo perdeu muito de sua solenidade e degenerou em uma mera forma, sem nada de especial.

Precisamos do espírito de devoção, não só para salgar nossas secularidades, mas para fazer da oração verdadeiras orações. Precisamos colocar o espírito de devoção nos negócios de segunda-feira, bem como no culto de domingo. Precisamos do espírito de devoção, para nos lembrar sempre da presença de Deus, para estar sempre fazendo a vontade de Deus, para direcionar todas as coisas sempre para a glória de Deus.

O espírito de devoção coloca Deus em todas as coisas. Coloca Deus não apenas em nossas orações e idas à Igreja, mas em todas as preocupações da vida. “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10:31).

O espírito de devoção torna sagradas as coisas comuns da terra e grandes as pequenas coisas. Com ele, vamos aos negócios e tudo cresce. É o sal que penetra e torna saboroso todos os atos religiosos. É o açúcar que adoça o dever, a abnegação e o sacrifício. É a coloração brilhante que alivia o embotamento das apresentações religiosas. Dissipa a frivolidade e afasta todas as formas superficiais de adoração, e torna a adoração um serviço sério e profundo, impregnando corpo e alma com sua infusão celestial.

O ardor da devoção está na oração. Em Apocalipse 4:8, lemos:

“E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir.”

A inspiração e o centro de sua devoção arrebatadora é a santidade de Deus. Essa santidade de Deus chama sua atenção, inflama sua devoção. Não há nada frio, nada monótono, nada cansativo sobre eles ou sua adoração celestial. “Eles não descansam nem de dia nem de noite.” Que zelo! Que ardor incansável e êxtase incessante! O ministério da oração, se é algo digno desse nome, é um ministério de ardor, um ministério de desejo incansável e intenso por Deus e por sua santidade.

No Livro do profeta Isaías estão escritas estas palavras:

“Mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Isaías 40:31).

Esta é a gênese de toda a matéria de atividade e força da natureza mais enérgica, inesgotável e incansável. Tudo isso é resultado de esperar em Deus. Pode haver muita atividade induzida pelo exercício, criada pelo entusiasmo, produto da fraqueza da carne, inspiração de forças voláteis e de curta duração. Muitas vezes, a atividade é feita à custa de elementos mais sólidos e úteis e, em geral, com total negligência da oração. Estar muito ocupado com a obra de Deus para comungar com Deus, estar ocupado fazendo a obra da Igreja sem reservar tempo para falar com Deus sobre sua obra, é o caminho para a apostasia, e muitas pessoas têm andado por aí para o dano de suas almas imortais. Não obstante o grande ativismo, o grande entusiasmo e a muita alegria pelo trabalho serão apenas cegueira sem o cultivo e a maturidade das graças provenientes da oração.

Rev. Alan Kleber Rocha

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